Astrônomos descobrem o primeiro planeta gigante evaporando e orbitando estrela anã branca

Astrônomos descobriram, pela primeira vez, evidências de um planeta gigante, semelhante a Netuno, que está orbitando uma estrela anã branca, muito parecida com o Sol, mas a uma curta distância.

de Merelyn Cerqueira 0

A proximidade com a estrela faz com que a atmosfera deste planeta esteja sendo eliminada e um disco de gás seja criado ao redor da estrela. Tal interação única poderia sugerir o que acontecerá com nosso Sistema Solar em um futuro distante, segundo informações da EurekAlert.

De acordo com o pesquisador Boris Gänsicke, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, que liderou o estudo publicado na revista Nature, a descoberta aconteceu ao acaso. Sua equipe inspecionou 7.000 anãs brancas usando o observatório Sloan Digital Sky Survey e descobriu que uma era diferente das demais. Ao analisar variações sutis na luz da estrela, encontraram traços de elementos químicos em quantidades nunca antes observadas em uma anã branca.

A estrela foi nomeada de WDJ0914+1914. Observações adicionais confirmaram a presença de hidrogênio, oxigênio e enxofre associados à anã branca. A equipe descobriu que esses elementos estavam em um disco de gás que entra na anã branca, mas não vem da própria estrela.

Imagem: Reprodução / UNIVERSIDADE DE WARWICK / MARK GARLICK

“Demorou algumas semanas para verificarmos que a única maneira de criar esse disco era através da evaporação de um planeta gigante”, disse Matthias Schreiber, da Universidade de Valparaíso, no Chile.


As quantidades de hidrogênio, oxigênio e enxofre são semelhantes às encontradas nas profundas camadas atmosféricas de planetas gigantes e gelados, como Netuno e Urano.

Logo depois de combinar dados observacionais de modelos teóricos, a equipe conseguiu pintar uma imagem mais clara desse sistema único. Eles concluíram que a anã branca possui 28.000 graus Celsius (5x a temperatura do Sol). O planeta, por outro lado, que é gelado, é pelo menos duas vezes maior que a estrela.

Por estar orbitando a anã branca a curta distância, dando a volta completa em apenas 10 dias, os fótons de alta energia da estrela estão gradualmente “soprando” a atmosfera do planeta. A maior parte do gás escapa, enquanto outra parte é puxada para um disco que gira para a estrela. É este disco que torna visível o planeta. A descoberta, de acordo com Gänsicke, “abre uma nova janela para o destino final dos sistemas planetários”.

Estrelas como o Sol, quando acabam todo o seu hidrogênio, tornam-se gigantes vermelhas, ficando centenas de vezes maiores e engolindo planetas próximos. No caso de nosso Sistema Solar, isso provavelmente destruirá Mercúrio, Vênus e até a Terra, algo que pode ocorrer em cerca de 5 bilhões de anos.

De acordo com os pesquisadores, o planeta orbita a anã branca a uma distância de apenas 10 milhões de quilômetros. Os astrônomos acreditam que essa órbita poderia ser o resultado de interações gravitacionais com outros planetas no sistema, o que significa que mais planetas podem ser encontrados. 


“Até recentemente, pouquíssimos astrônomos pararam para refletir sobre o destino de planetas orbitando estrelas moribundas. Essa descoberta de um planeta orbitando núcleo estelar queimado demonstra vigorosamente que o Universo está repetidamente desafiando nossas mentes a ultrapassar nossas ideias estabelecidas”, finalizou Gänsicke.


Fonte: Eureka Alerta / Foto: Observatório Europeu do Sul ( ESO)

Jornal Ciência