A história do polêmico cogumelo que provoca orgasmos em mulheres e os segredos envolvendo indústrias farmacêuticas

Há muitas publicações antigas sobre o famoso cogumelo que, através do cheiro, teria o poder de provocar orgasmos femininos. Mas, o que aconteceu com a descoberta?

de Redação Jornal Ciência 0

A pesquisa não é nova, mas se você nunca ouviu falar sobre o “cogumelo dos orgasmos femininos”, essa é uma boa hora para conhecer sobre a descoberta que foi reportagem dos principais jornais do mundo à época.

Há 23 anos, dois cientistas, John C. Holliday e Noah Soule, afirmaram ter descoberto uma espécie de fungo de cor laranja e brilhante, em um de seus estágios de crescimento, no Havaí.

Até então, era só a descoberta de mais uma espécie de fungo e, não causou nenhum alarde na comunidade científica, até que anos depois, tudo mudou.

Cerca de 15 anos após a descoberta ter sido publicada, a pesquisa ganhou notoriedade quando os cientistas resolveram fazer análises e afirmaram que diversas mulheres cheiraram o cogumelo, causando orgasmos espontâneos.

A declaração da descoberta foi alvo de reportagens em jornais de todo o mundo

Após isso, o estudo que registrou a descoberta da espécie ganhou notoriedade internacional e foi usado como base para que novas pesquisas pudessem estudar os supostos efeitos da nova espécie, até então sem nome.

O início da fama

Em uma análise posterior, publicada em 2001 pela revista Journal of Medicinal Mushrooms, os cientistas usaram o cheiro do cogumelo em testes com 16 mulheres; 6 tiveram orgasmos. As outras 10 participantes tiveram “reações fisiológicas perceptíveis” de excitação.

A dupla responsável era John Halliday e Noah Soule, os mesmos que publicaram o primeiro estudo da descoberta. Eles tomaram a decisão de iniciar superficialmente a pesquisa após ouvirem diversos boatos de mulheres que diziam sentir orgasmos com o cheiro do cogumelo, no Havaí.

Um raro fragmento da pesquisa publicada em 2001, encontrado pela Discover Magazine

O teste também foi feito com 20 homens, mas nenhum deles apresentou qualquer tipo de manifestação fisiológica de excitação. Na verdade, os 20 homens acharam insuportável o aroma do cogumelo.

“De fato, quase metade das voluntárias do sexo feminino tiveram orgasmos espontâneos ao cheirar este cogumelo. Esses resultados sugerem que compostos semelhantes a hormônios podem ter alguma semelhança com os neurotransmissores humanos liberados durante encontros sexuais”, afirmaram os cientistas à época da publicação.

Eles disseram, apenas, que o cogumelo fantástico pertencia ao gênero Dictyophora. Diziam também que nasciam em fluxos antigos de lava, no Havaí, com idade entre 1.000 e 10.000 anos, mas os autores nunca disseram o local exato.

Cientistas foram, posteriormente, procurar lavas vulcânicas antigas na ilha, mas ninguém encontrava os famosos cogumelos, então estudiosos e jornalistas foram procurá-lo nas florestas. De fato, existia no Havaí uma lenda de que mulheres entravam em êxtase sexual quando encontram este cogumelo.

Por que o estudo foi questionado?

Nunca existiu e não existe, até o momento, nenhuma prova robusta científica de que esse misterioso cogumelo tenha realmente o poder de gerar orgasmos. Isso porque o estudo observacional envolveu uma amostra muito pequena de pessoas.

Ainda de acordo com o portal ScienceAlert, existem muitos problemas com essa constatação, porque os cientistas fizeram pouco para provar cientificamente se, de fato, ocorreram orgasmos, já que foram tomados como base o aumento da frequência cardíaca e relatos das participantes.

Assim, surgiu rumores de que não seria a descoberta de um cogumelo até então desconhecido, mas uma espécie “comum”. Algumas explicações foram dadas, como a possibilidade de ser o cogumelo do tipo Phallus, conhecido em vários países como cogumelo véu-de-noiva, da espécie Phallus indusiatus.

O cogumelo da espécie Phallus indusiatus, conhecido como véu-de-noiva, foi cogitado como sendo a espécie misteriosa, pela formação fálica e odor parecido com o citado pelos cientistas

O Phallus indusiatus é encontrado na Ásia, África, Américas e Austrália, e tem o seu uso registrado na medicina chinesa desde o século 7 d.C. Hoje, a China o utiliza como alimento.

À época, os cientistas apenas informaram que o novo cogumelo era conhecido como “Māmalu o Wahine” (cogumelo das mulheres, em tradução livre). A hipótese de ser o Phallus indusiatus não foi comprovada. Isso despertou o interesse de jornais mundiais. A polêmica só aumentou…

Jornalistas foram atrás do cogumelo

Em uma reportagem extensa de várias páginas, a revista Discover Magazine fez uma expedição ao Havaí em busca do cogumelo fedorento, uma missão que a jornalista Christie Wilcox aceitou.

Wilcox tentou dezenas de contatos com os cientistas responsáveis, mas sem sucesso. No ano de 2001, quando o estudo “explodiu”, eles estavam receptivos para dar entrevistas, mas quando a jornalista tentou em 2016, parecia estarem “fugindo”. Até que um deles, John Holliday, decidiu respondê-la:

“Eu não quero que eu ou a empresa seja envolvida em nenhuma discussão sobre isso, porque é muito importante, por vários motivos. Razões comerciais, razões científicas. Razões de reputação. Eu sou praticamente um cientista de renome mundial… Quando coisas assim saem dizendo que isso é uma farsa, muitas pessoas acreditam nisso. Eu não preciso disso. Passei muitos anos chegando ao ponto em que estou. É por isso que eu realmente não quero saber nada sobre isso”, disse Holliday para a jornalista.

Ele estava revoltado com o fato de que cientistas em todas as partes do mundo, jornais, revistas, publicações científicas e especuladores, chamam o estudo de mentiroso ou duvidoso. Mas, existia algo o impedindo de falar…

Segredo da indústria farmacêutica?

Wilcox ressaltou à Discover Magazine que John Holliday deixou claro que estava sob um acordo absolutamente restrito de confidencialidade e não poderia discutir nenhum detalhe do estudo que publicou em 2001, de nenhuma forma, sobre qualquer tema relacionado ao que publicou no passado.

A jornalista ainda afirmou que durante a entrevista rápida e nervosa, Holliday deixou entender que a pesquisa sobre o cogumelo continuava desde 2001 através de uma grande indústria farmacêutica, para a qual ele trabalhava, e que a empresa estava perto de comercializar sua descoberta.

Wilcox ainda afirmou que ele não quis dizer, sob nenhuma hipótese, qual era a indústria farmacêutica em questão:

“Se eu disser algo como ‘estamos prestes a lançar um medicamento de grande sucesso’ e você for comprar ações desta empresa, então você e eu somos culpados de abuso de informação privilegiada”, disse o cientista, com medo de cometer crime se “falasse demais” e revelasse para qual empresa vendeu seu silêncio.

Ainda segundo o cientista, o cogumelo não é mais fácil de ser encontrado, e tudo começou quando ele ouviu, dentro de uma clínica do Havaí, enquanto era atendido, funcionários comentando sobre um cogumelo, cujo cheiro causava efeitos eufóricos em mulheres e nascia embaixo das árvores de Albizia ou Casuarina.

A jornalista encontra o suposto cogumelo

Após ouvir do cientista John Holliday, a jornalista soube que o cogumelo tem vida curta, entre 4 e 6 horas após atingir seu pico de crescimento, e que só nasce em ambientes hostis vulcânicos.

Wilcox, no meio da floresta, encontrou o cogumelo no Lava Tree State Monument, de acordo com as descrições do estudo inicial. Ao pegá-lo, imediatamente aspirou profundamente o odor que exalava, sentindo vontade de vomitar.

A jornalista Christie Wilcox encontra no Havaí o suposto cogumelo e descreve o que sentiu

“Foi o pior cheiro que já passou pelas minhas narinas. Se tivesse que lhe dar um nome, o mais próximo que isso seria sêmen. Mas, não fresco, e sim uma versão fermentada ou em decomposição”, disse Wilcox. Ela ainda afirmou que sequer verificou qualquer evidência de orgasmo.

A jornalista ainda entrevistou várias pessoas na ilha e descobriu que quase ninguém por lá acredita na história desse cogumelo afrodisíaco. A verdade é que Wilcox pode não ter encontrado o cogumelo correto, já que no estudo inicial, nenhuma foto ou desenho foi publicado, apenas sua descrição.

Além disso, o silêncio dos cientistas envolvidos diz muito sobre a difícil tarefa que seria encontrar exatamente o mesmo cogumelo descrito.

O fato é que, provavelmente, as pessoas nunca saberão a verdade, já que a ciência nunca publicou estudos que comprovem a relação de algum cheiro específico como desencadeador de orgasmos.

Além disso, os autores do estudo permaneceram em silêncio por todos estes anos, por terem assinado contrato de confidencialidade. Então, nunca saberemos a verdade sobre este cogumelo ou talvez já estejamos usando algum produto ou medicamento derivado dele. O mistério continua…

Fonte(s): Discover Magazine / Science Alert / Jornal Ciência / Jornal Ciência Imagem de Capa: Reprodução / Dennis Desjardin e Brian A. Perry via Research Gate / Foto(s): Reprodução / Wikimedia

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