Transtorno de déficit de atenção está relacionado a atraso no desenvolvimento do cérebro

de Julia Moretto 0

Pela primeira vez, os cientistas podem afirmar que as pessoas com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade têm estruturas cerebrais que diferem das pessoas sem TDAH. O transtorno comum deve ser considerado um problema de atraso na maturação cerebral e não, como muitas vezes é retratado, um problema de motivação ou criação.

 

Com um estudo de imagem cerebral, uma equipe internacional de pesquisadores descobriu que o TDAH envolve diminuição do volume em regiões do cérebro, em particular a amígdala, que é responsável pela regulação das emoções. Embora o estudo incluísse crianças, adolescentes e adultos, os cientistas disseram que as maiores diferenças no volume cerebral aparecem no cérebro de crianças.

 

Das sete regiões subcorticais do cérebro que foram alvo do estudo, cinco, incluindo a amígdala, são menores naqueles com TDAH, em comparação com os do grupo de controle. As outras regiões que apresentaram reduções de volume foram: o núcleo caudado (ligado à ação direcionada), o putâmen (envolvido na aprendizagem e resposta aos estímulos), o núcleo accumbens (que processa recompensas e motivação) e o hipocampo (onde as memórias são formadas).

 

A autora principal, a geneticista Martine Hoogman, da Universidade Radboud, na Holanda, disse que a amígdala é uma estrutura que não é tão bem conhecida no seu envolvimento com o TDAH. “Sabemos por outros estudos funcionais da amígdala que ela está envolvida na regulação emocional e no reconhecimento de estímulos emocionais. Mas também está envolvida no processo de inibição de uma resposta. Ambos os processos cognitivos são característicos do TDAH”.

 

A pesquisa foi conduzida por um grupo de pesquisa chamado ENIGMA. O grupo visa reunir cientistas de áreas como genômica, neurologia e psiquiatria para entender melhor a estrutura do cérebro. Seu projeto foi quatro vezes o tamanho do estudo antes considerando o maior e foi conduzido em 23 lugares em nove países por 80 pesquisadores, principalmente psiquiatras e neurocientistas.

 

3.242 pessoas, idades de 4 a 63, foram submetidas a exames de ressonância magnética cerebral. Quase metade delas tinham sido diagnosticadas com TDAH. “A confiabilidade da pesquisa do TDAH não tem sido grande devido ao pequeno tamanho das amostras“, disse Jonathan Posner, que não participou do estudo, mas que faz pesquisa de imagens cerebrais pediátricas na Columbia University Medical School.

 

Por ser capaz de mostrar diferenças detectáveis ​​nos cérebros daqueles com TDAH, os cientistas esperam que seu estudo também ajude o público em geral a compreender melhor o transtorno. “Acho que a maioria dos cientistas já sabe que os cérebros das pessoas com TDAH mostram diferenças, mas agora temos provas convincentes“, disse Hoogman.

 

As estruturas cerebrais menores em crianças com TDAH, mas não em adultos, se encaixam com uma teoria de “pico de volume retardado” de que o TDAH está associado a uma “velocidade alterada de desenvolvimento cortical”, disseram os autores. Ou seja, o seu desenvolvimento cerebral pode ser atrasado em comparação com as crianças que não têm TDAH, mas pode se recuperar à medida que crescem.

 

Descobrir que a amígdala, o regulador emocional do cérebro, teve a maior redução de volume no TDAH foi particularmente importante para os pesquisadores devido à onipresença de problemas emocionais no transtorno. O estudo pode ser relevante para atualizações do Manual de Diagnóstico e Estatística, o guia que os psiquiatras usam para identificar as condições.

 

Esses sintomas [emocionais] estão frequentemente presentes em pacientes com TDAH“, escreveram os autores, “mas essas características da doença ainda não eram incluídas nos critérios oficiais“.

Fonte: The Washington Post / The Lancet Psychiatry ]

[ Foto: Reprodução / The Washington Post ]

Jornal Ciência