Cientistas determinaram composição exata das fezes e isso é mais importante do que parece!

de Merelyn Cerqueira 0

A simples menção de um “transplante fecal” – um tratamento médico experimental feito para curar algumas infecções bacterianas – pode fazer com que muitos de nós sinta nojo, mas na verdade, esse tipo de terapia, que consiste em transplantar as fezes de uma pessoa para a outra, está cada vez mais popular e é capaz de ajudar em uma série de doenças.

Logo, o que torna esse tratamento benéfico é justamente o tema de uma pesquisa realizada recentemente, que também lançou luz sobre do que exatamente nossas fezes são feitas, na esperança de descobrir como esses tratamentos funcionam. “Não há dúvidas de que o cocô pode salvar vidas”, disse o biólogo Seth Bordenstein, da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos. “Neste momento, transplantes fecais são usados como tratamento de último recurso, mas sua eficácia levanta uma questão importante: Quando é que os médicos irão começar a prescrevê-los, ou algo derivado, em primeiro lugar?”.

Esse tipo de tratamento não é recente e começou a ser utilizado na China durante o século 4. Mais recentemente, no século 16, era apelidado de “sopa amarela”, e somente nos últimos cinco anos recebeu o devido interesse da ciência contemporânea ocidental. Segundo Bordenstein, até 2010, menos de 10 artigos científicos sobre transplantes fecais foram catalogados a cada ano pelo banco de dados PubMed, mas no ano passado esses números subiram para 200.

O recente interesse científico pode ser explicado pelo uso eficaz do método no tratamento de uma infecção chamada colite pseudomembranosa (gerada pela bactéria Clostridium difficile), uma diarreia infecciosa e perigosa que pode ter matado cerca de 29.000 pessoas em um surto que ocorreu nos Estados Unidos em 2011.

Os transplantes de fezes também têm sido usados para tratar condições como a Esclerose Múltipla, doença de Crohn, obstipação, Síndrome do Intestino Irritável e doença de Parkinson. Embora muitos estudos se concentrem no componente bacteriano da matéria fecal como sendo o agente ativo do tratamento, Bordenstein diz que há muito mais coisas acontecendo em nossas fezes que poderiam colocar em jogo o método. “As fezes são um material complexo, que contém uma variedade de entidades biológicas e químicas que podem estar causando os efeitos desses transplantes”, explicou.

Uma porção de fezes de um ser humano saudável contém cerca de 100 bilhões de bactérias por grama, mas essa mesma grama de “cocô saudável” também pode conter aproximadamente 100 milhões de vírus e arqueas – um tipo de organismo celular que anteriormente era classificado como bactéria. Além desses, uma única grama de cocô contém 10 milhões de colonócitos (células epiteliais humanas que ajudam a proteger o cólon) e cerca de um milhão de leveduras e outros fungos unicelulares.

Juntos, esses componentes biológicos fazem parte de uma matéria fecal adulta composta por 75% de água e 25% sólidos. Segundo Bordenstein, é pouco provável que as bactérias por si só façam do transplante um remédio eficaz para curar problemas no intestino humano. “Essa investigação está apenas começando”, disse ele. “Ela é impulsionada por um novo paradigma do microbioma que reconhece que todas as plantas e animais abrigam uma coleção de micróbios que têm efeitos significativos e até então desconhecidos sobre a saúde do hospedeiro, evolução e comportamento”. Logo, “as pesquisas futuras deverão se concentrar em desconstruir o benefício e interações das partes constituintes da matéria fecal e esclarecer a importância relativa e de causalidade de cada um desses componentes para o potencial desenvolvimento de terapias específicas”.

Assim, segundo ele, quando os cientistas identificarem as formas específicas que produzem resultados positivos, poderão sintetizá-las ou cultivá-las e colocá-las em uma pílula. “Isso irá reduzir o fator nojento que poderia melhorar a aceitação pública desta nova forma de tratamento”, explicou.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Fofo Store ]

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