Um estudo de sete anos realizado a respeito do câncer de pâncreas identificou quatro estirpes diferentes da mesma condição.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Nature, e trata-se de um dos estudos mais detalhados já feitos sobre o assunto até o momento. A descoberta pode revelar novos horizontes para o tratamento dessa condição devastadora e difícil de tratar.

O câncer de pâncreas – doença que levou Steve Jobs, fundador da Apple, à morte – está entre as formas de cânceres mais agressivas. De acordo com Ivy Shih, em um artigo escrito para o The Conversation, após o diagnóstico, menos de 5% dos pacientes sobrevivem por cinco anos e apenas 1% sobrevive por 10 anos. Trata-se do nono câncer mais comum entre homens e o 10º mais comum entre as mulheres, de acordo com dados do Cancer Council Australia.

Segundo Sean Grimmond, diretor de pesquisa do Centro de Pesquisas sobre Câncer, na Universidade de Melbourne, e um dos responsáveis pelo longo estudo, os resultados podem abrir novas portas para ensaios clínicos e produção de fármacos para combater a doença. “Até agora tivemos uma compreensão muito básica do que impulsiona o câncer de pâncreas. Pela primeira vez, conseguimos determinar as causas subjacentes por trás dessa acumulação de danos genéticos que causam o câncer, e também os principais processos que promovem o crescimento e a progressão dessa condição”, disse ele em entrevista ao The Conversation.

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Durante sete anos, a equipe de pesquisa decodificou cuidadosamente toda a planta genética do tumor de um paciente e, em seguida, foi capaz de discernir os principais eventos que regularam a doença. Os testes foram realizados em 456 pacientes com a condição, um de cada vez. A partir daí os pesquisadores identificaram quatro tipos diferentes de câncer pancreático, com diferentes composições genéticas que definiram cada subtipo.

Os subtipos se diferem de acordo com os genes e proteínas, bem como os tipos de células. Os cientistas também conseguiram identificar as causas e as mutações que promoviam o comportamento agressivo de alguns cânceres pancreáticos. “Isso nos dá uma cartilha completa sobre como o câncer pancreático se desenvolve”, disse Grimmond, acrescentando que a descoberta pode permitir a administração de tratamentos para cada caso.

Entre os subtipos, os pesquisadores identificaram um imunogênico capaz de se camuflar, ou seja, um tipo de câncer pancreático capaz de iludir o sistema imunológico. Essa característica, no entanto, era mais comum entre o câncer no colón e o melanoma.

Contudo, detectar essa habilidade pode permitir que os médicos prescrevam tratamentos destinados a inibir as características de camuflagem. “Em um nível molecular, o câncer de pâncreas é uma doença complicada. A nossa responsabilidade está em aproveitar essas descobertas e encontrar uma maneira de aplicá-las em pacientes em tempo real, dentro de um ambiente clínico”, disse Grimmond.

[ Science Alert / Eurodis / The Conversation / Nature ] [ Foto: Reprodução / Wikipédia ]

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