Potencial tratamento contra o câncer usa as células do sistema imunológico do paciente para combater a doença

de Bruno Rizzato 0

Uma equipe internacional de pesquisadores conseguiu resultados extraordinários utilizando as próprias células do sistema imunológico do paciente no combate ao câncer.

Em um ensaio, 94% dos pacientes com leucemia linfoblástica tiveram seus sintomas reduzidos drasticamente. Em pacientes com outros tipos de câncer de sangue, as taxas de resposta foram superiores a 80% e mais da metade experimentou remissão completa, relataram os pesquisadores na conferência da Associação Americana para o Avanço da Ciência, que aconteceu no último fim de semana.

O novo tratamento é um tipo de imunoterapia, usando as próprias células do sistema imunológico do paciente – especificamente, as células brancas do sangue, chamadas células T reguladoras – que são reprogramadas para atacar os tumores. Seria como criar uma vacina contra o câncer feita sob medida. A imunoterapia é pesquisada por décadas, mas só recentemente começou englobar as células T em humanos.

Devido à natureza experimental da pesquisa, os ensaios têm sido limitados a pacientes que não respondam a outros tratamentos, e tenham apenas alguns meses de vida. Mas os resultados estão, finalmente, começando a aparecer, mostrando que o tratamento tem um potencial incrível para pacientes com tumores imunes a outros medicamentos.

“Esta descoberta é sem precedentes na medicina. Para ser honesto, as taxas de resposta obtidas nestes pacientes foram muito avançadas. No laboratório e em ensaios clínicos, estamos vendo respostas dramáticas em pacientes com tumores resistentes a altas doses de quimioterapia convencional. A fusão da terapia genética, biologia sintética e biologia celular está fornecendo novas opções de tratamento para pacientes com doenças malignas refratárias, representando uma nova classe de terapias com potencial para transformar o tratamento do câncer”, disse Stanley Riddell, um pesquisador de imunoterapia no Fred Hutchinson Cancer Research Centre, em Seattle, EUA, durante a conferência.

As células T são glóbulos brancos responsáveis ​​pela detecção de células estranhas ou anormais – incluindo as cancerígenas – aprisionando-as e informando ao resto do sistema imunológico que elas precisam ser atacadas. Porém, por vezes, a resposta imune não é rápida ou agressiva o suficiente para se livrar de tumores de rápido crescimento. Ao longo do tempo, as células T tornam-se insuficientes e alguns tipos de tumores aprendem a evitá-las, permitindo que se esquivem do sistema imunológico completamente.

É neste ponto que a imunoterapia é aplicada. Os cientistas realizam o que é conhecido como “transferência de célula T adotiva”, ou seja, primeiro eles extraem as células T dos pacientes de seu sangue, e, usando a transferência de genes, introduzem receptores que terão como alvo uma célula cancerígena específica. Ao voltar para o interior do corpo, essas células T criam um “exército” de células no sistema imunológico para derrubar os tumores. Usando esta técnica, Riddell relata que ele e seus colegas viram uma “regressão sustentada” em casos previamente terminais de leucemia linfoblástica aguda, linfoma não-Hodgkin e leucemia linfocítica crônica.

Os resultados estão passando por revisões detalhadas, mas animaram a comunidade médica. Acredita-se que o tratamento promissor não seria uma cura potencial para o câncer, sendo reservada apenas para os casos mais extremos. Isso porque os possíveis efeitos colaterais são graves. Durante os ensaios, 20 pacientes sofreram sintomas de febre, hipotensão e neurotoxicidade devido à síndrome de liberação de citocinas. Por conta disso, dois pacientes morreram.

A pesquisadora italiana de câncer, Chiara Bonini, também realizou um discurso na conferência e foi mais esperançosa sobre a terapia. “Esta é realmente uma revolução. As células T têm o potencial de persistir em nosso corpo por toda a nossa vida. Imagine traduzir isso para a imunoterapia do câncer. Em casos recorrentes, elas lembrariam do câncer e estariam prontas para ele novamente”, disse ela, segundo o jornal britânico The Guardian.

Agora, o laboratório de Riddell está trabalhando para poder aplicar a terapia de células T em vários tipos de câncer, não apenas o de sangue, e está tentando fazer com que as células T modificadas sejam mais seguras e mais fáceis de reproduzir. A equipe também quer controlar quanto tempo os pacientes permanecem em remissão após o tratamento antes de avançar com testes mais amplos.

Fonte: National Post Foto: Reprodução / Flickr

Jornal Ciência