O que aconteceria se todo mundo comesse igual aos norte-americanos?

de Merelyn Cerqueira 0

Se o resto do mundo comesse como os americanos, toda a água doce teria acabado há 15 anos atrás”. Essa afirmação foi feita pela Nestlé, uma das maiores empresas de alimentos do mundo. De forma particular, executivos da marca disseram às autoridades norte-americanas que o mundo está em uma “rota de colisão com a desgraça”.

Os hábitos alimentares dos norte-americanos, que incluem a ingestão de muita carne, estão sendo copiados por outras partes do mundo. Essa informação foi publicada em um relatório secreto intitulado “Tour D’Horizon with Nestle: Forget the Global Financial Crisis, the World Is Running Out of Fresh Water” (“Esqueça a crise financeira mundial, o mundo está ficando sem água potável”, em português).

Primeiramente, para produzir cerca de meio quilo de carne, uma quantidade enorme de água é necessária. Algumas culturas agrícolas usam milhares de toneladas de milho e soja para alimentar os animais, que por sua vez, também exigem uma enorme quantia de água para sobreviver até o abate. Assim, esse curso “potencialmente catastrófico” citado no relatório, acontece, porque, países como a China e Índia, extremamente populosos, estão consumindo cada vez mais carne, especialmente de frango e porco, conforme publicado em um relatório divulgado pela WikiLeaks em 2009.

De acordo com ele, os chineses agora comem cerca da metade da carne ingerida pelos americanos, australianos e europeus. E esse número continua a aumentar rapidamente à medida que mais chineses saem da linha da pobreza e são inseridos na classe média. Segundo o relatório secreto da Nestlé, conforme relatado pela Reveal News, a empresa acredita que um terço da população do mundo será afetada pela escassez de água potável até 2025, e a situação se tornará potencialmente catastrófica em 2050. “Conforme a classe média cresce, mais carne ela consome, e mais os recursos hídricos da Terra são perigosamente diminuídos”.

A empresa também reconheceu que a quantidade máxima considerada sustentável para a retirada de água doce da terra é de cerca de 12.500 quilômetros cúbicos por ano. Em 2008, esse número atingiu 6.000 quilômetros cúbicos. “Isso foi suficiente para fornecer uma média de 2.500 calorias por dia para 6,7 ​​bilhões de pessoas do mundo, com pouco consumo de carne per capita”, afirmou a empresa. Esses dados sugerem que é possível suprir as necessidades alimentares globais se a dieta não for tão voltada ao consumo de carne.

Segundo eles, a atual dieta dos EUA fornece cerca de 3.600 calorias por dia, com o consumo de carne substancial. Se o mundo inteiro seguisse tal padrão, os recursos de água doce do planeta já estariam esgotados quando a população chegou aos 6 bilhões, no ano 2000. Esse problema é ainda maior quando o modelo de alimentação norte-americana é colocado em perspectiva até o ano de 2050, quando estima-se que a população mundial ultrapassará os 9 bilhões.

A empresa também admitiu que, com base nas tendências atuais, o mundo terá de enfrentar um déficit de cereais de até 30% em 2025 e que será necessária uma combinação de estratégias para evitar essa crise. A marca ainda deixou seu parecer sobre a situação, na qual dizia que, “sensível à sua imagem pública, a Nestlé se mantém discreta em discutir soluções e tenta não fazer promessas […] a empresa escrupulosamente evita o confronto e polêmicas, preferindo influenciar seu público discretamente por meio de exemplos”.

[ Reveal news ] [ Fotos: Reprodução / Reveal news ]

Jornal Ciência