Droga usada para tratar malária está apresentando efeitos surpreendentes em pacientes com câncer cerebral

de Merelyn Cerqueira 0

Em um estudo publicado recentemente pela eLife, cientistas sugeriram uma nova esperança para pacientes com câncer no cérebro. No entanto, a fonte para isso do sucesso vem de uma droga normalmente utilizada para tratar malária, de acordo com informações da Science Alert.

 

Chamada de cloroquina, ela foi usada como último recurso em três pacientes com câncer cerebral e que apresentavam resistência aos tratamentos tradicionais. A droga parece quebrar as defesas que os tumores desenvolvem em resposta aos medicamentos tradicionais, “redefinindo” sua vulnerabilidade ao procedimento.

 

De acordo com o oncologista pediátrico, Dr. Jean Mulcahy-Levy, da Universidade do Colorado, EUA, foram tratados três pacientes com a combinação e todos apresentaram benefícios químicos. “É algo realmente emocionante”, disse ele. “Às vezes você não vê esse tipo de resposta com um tratamento experimental”.

 

Uma das pacientes é Lisa Rosendahl, de 26 anos, que descobriu ter apenas alguns meses de vida devido a uma forma agressiva de glioblastoma no cérebro. Seu câncer havia se tornado resistente à quimioterapia e outros tratamentos direcionados. Eventualmente, quando também se tornou resistente a um inibidor chamado vemurafenib, os médicos resolveram tentar uma abordagem diferente. Visando ao procedimento chamado autofagia, que ocorre de forma natural dentro corpo, quando células mortas ou danificadas são removidas e substituídas por novas, os médicos conseguiram usá-lo para combater o tumor.

 

O problema, no entanto, é que os próprios tumores, por vezes, utilizam a autofagia para se regenerar, aproveitando o momento para desenvolver resistência às drogas. Rosendahl tinha um tipo de câncer especialmente dependente desse processo, devido, em partes, a uma mutação genética rara chamada BRAFV600E.

 

A cloroquina, por sua vez, é conhecida por inibir a autofagia. Sabendo disso, os pesquisadores decidiram administrar a droga em uma última tentativa de combater o tumor, combinando o procedimento com a administração do vemurafenib. Milagrosamente, [Rosendahl] apresentou uma resposta a essa combinação”, disse Mulcahy-Levy. “E quatro semanas mais tarde, ela tinha apresentado melhoras no uso dos braços, pernas e mãos”. 

 

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A cloroquina não conseguiu exatamente remover o tumor, mas foi capaz de enfraquecer as defesas do câncer, o suficiente para que a droga vemurafenib funcionasse. Em razão disso, a qualidade de vida da paciente tem apresentado gradativas melhoras. Os outros dois pacientes que também receberam o tratamento não tinham tipos de câncer dependentes de autofagia. Porém, até que o método seja testado em uma amostra maior e mais diversa, ainda é cedo para afirmar se é perfeitamente eficaz.

 

A equipe agora espera poder realizar testes clínicos mais amplos para descobrir se o método funciona com outros tipos de câncer. A esperança é que o tratamento seja lançado o mais breve possível, considerando que a cloroquina já é aprovada pela FDA (Food and Drug Administration) como um medicamento seguro para o tratamento da malária.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Science Alert ]

 

Jornal Ciência