DNA neandertal ainda determina nossa saúde e aparência

de Julia Moretto 0

Os últimos neandertais morreram há dezenas de milhares de anos, mas os efeitos desse cruzamento ainda são sentidos hoje, de acordo com um novo estudo genético que mostrou que certas características nos seres humanos modernos, como altura e risco de esquizofrenia, podem ser afetadas por seus genes antigos.

 

Enquanto estudos anteriores descobriram que o DNA neandertal compreende cerca de 2% dos genomas da maioria dos seres humanos modernos, tem sido difícil determinar se eles realmente têm um efeito sobre a nossa expressão gênica. Mas agora os pesquisadores descobriram finalmente que esse remanescente antigo é muito mais do que um trecho silencioso de nosso genoma.

 

A hibridação entre humanos modernos e neandertais aumentou a complexidade genômica“, diz um dos membros da equipe, o geneticista Joshua Akey da Universidade de Washington. “A hibridização não foi apenas algo que aconteceu há 50 mil anos com que não precisamos nos preocupar mais. Esses pequenos pedaços, nossas relíquias, estão influenciando a expressão genética de forma penetrante e importante“.

 

Estudos anteriores encontraram correlações entre genes de neandertal e traços modernos como metabolismo, depressão, risco de lúpus e certas condições de pele e sangue, mas têm lutado para encontrar uma razão biológica para explicar a ligação. E no final do ano passado, uma equipe de Montreal encontrou evidências de que a mistura genética ainda afeta a forma como nossos sistemas imunológicos se comportam hoje, sugerindo que o DNA do neandertal é parcialmente responsável pelo fato de que os africanos geralmente nascem com sistemas imunológicos mais fortes do que os europeus, mais predispostos a certas condições autoimunes.

 

Agora, Akey e sua equipe conseguiram descobrir onde essas variações modernas estão no genoma humano e, ao identificar a localização no código genético, encontraram evidências biológicas para apoiar o fato de que o DNA humano e o neandertal fazem com que os genes sejam expressos em muito jeitos diferentes. Nós carregamos muito do genoma do Neandertal em pedaços dispersos entre os indivíduos de hoje, e se entendermos melhor este genoma e sua função, entenderemos melhor o genoma humano“, disse Akey.

 

Os pesquisadores analisaram as sequências de RNA em um conjunto de dados chamado Genotype-Tissue Expression (GTEx) para identificar as pessoas que herdaram DNA neandertal e modernas versões humanas dos mesmos genes de seus pais. Cada vez que identificavam um destes genes, a equipe comparou a expressão dos dois alelos em 52 amostras de tecido diferentes dos 214 indivíduos.

 

Nós achamos que para cerca de 25% de todos os lugares que nós testamos, podemos detectar uma diferença na expressão entre o alelo de neandertal e o alelo humano moderno“, diz um membro da equipe, Rajiv McCoy. Estranhamente, descobriram que as partes do corpo que tinham o menor nível de expressão dos genes de Neandertal eram o cérebro e os testículos, sugerindo que estas regiões em particular experimentaram uma taxa rápida de evolução desde que nossos ancestrais humanos divergiram dos neandertais, há cerca de 700.000 anos.

 

Mas um gene em particular ainda parecia estar sob a influência do DNA de neandertal hoje – ADAMTSL3, que diminui o risco de esquizofrenia, como também influencia a altura. No passado, os pesquisadores sugeriram que o alelo neandertal do gene ADAMTSL3 afeta um processo chamado splicing alternativo, quando as moléculas de sinalização chamadas ARN mensageiro (mRNAs) são modificadas antes de deixarem o núcleo da célula para transmitir informações diferentes sobre como certos genes devem ser expressos .

 

A equipe descobriu que quando a mutação de neandertal estava presente em certos indivíduos, a célula realmente removeu um segmento do mRNA que é expresso na versão humana moderna. Isso significa que tudo o que é necessário é uma única mutação de um ancestral Neandertal para forçar uma célula a produzir uma proteína modificada no gene ADAMTSL3, dizem os pesquisadores. Isso muda nossa visão de como nos entendemos como uma espécie e como entendemos a evolução humana“, diz Rasmus Nielsen, um biólogo evolucionista da Universidade da Califórnia. O estudo foi publicado em Cell.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ] 

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