Cientistas disseram ter encontrado evidências de que a vida na Terra não surgiu somente a partir do RNA

de Merelyn Cerqueira 0

Uma equipe de químicos do Scripps Research Institute, na Califórnia, recentemente apresentou uma hipótese alternativa sobre o surgimento da vida na Terra.

Eles acreditam que o RNA não alavancou sozinho todo o processo. Atualmente, a principal explicação que temos sobre a origem da vida fala sobre uma sopa primordial que ocorreu em nosso planeta há 3,8 bilhões de anos. Essa hipótese propõe que o RNA surgiu primeiro, criando o DNA, que por sua vez criou o formato de vida complexa que conhecemos, segundo informações do Science Alert.

O RNA, ou ácido ribonucleico, é amplamente conhecido como o “primo molecular mais velho” do DNA – ácido desoxirribonucleico. Eles compartilham uma estrutura muito similar, no entanto, o RNA é mais frágil e menos flexível do que o outro. Logo, o mais provável a ser considerado é que o DNA acabou por formar nossos genes.

Contudo, apesar de suas falhas, acredita-se que o RNA veio primeiro na Terra, com muitos cientistas sugerindo que ele de fato foi a primeira molécula auto replicante.  Essa hipótese mundial afirma que o RNA surgiu a partir de uma sopa primitiva de partículas e a partir daí transformou aminoácidos em proteínas e enzimas. Com o tempo, essas enzimas ajudaram o RNA a produzir o DNA, o que levou ao surgimento dos modelos de vida mais complexos. Ainda, muitos pesquisadores acreditam que os nucleotídeos de RNA (pequenos blocos de construção) teriam se misturado com a espinha dorsal que forma o DNA, criando quimeras de fios mistos.

Essas quimeras teriam sido um passo crucial para a transição RNA/DNA, e é exatamente neste ponto que o recente estudo feito pelos químicos encontrou um problema. Eles testaram se ambos os ácidos poderiam realisticamente compartilhar a mesma espinha dorsal, e demonstraram que, quando as duas moléculas são misturadas, elas se tornam altamente instáveis. “Ficamos surpresos ao ver uma queda muito profunda no que poderíamos chamar de estabilidade térmica”, disse o pesquisador Ramanarayanan Krishnamurthy. Isso significa que essas quimeras teriam provavelmente morrido e deixado moléculas de RNA mais estáveis, ou falhado no momento de autorreplicarão, explicou ele.

Esta, no entanto, não é a primeira vez que algo assim foi demonstrado. O ganhador do Prêmio Nobel, Jack Szostak, da Universidade de Harvard, também sugeriu uma perda de função quando o RNA era misturado ao DNA. Mesmo em células atuais, se os nucleotídeos do RNA acidentalmente forem juntados a uma cadeia de DNA, as enzimas correriam para tentar corrigir o erro. Diferente disso, há 3,8 bilhões de anos, o RNA não teria esse mecanismo de autocorreção.

“A transição de RNA/DNA não teria sido fácil sem mecanismos para mantê-los separados”, explicou Krishnamurthy. Em suma, tais evidências suportam a ideia de que o RNA e DNA, na verdade, surgiram ao mesmo tempo e talvez a partir de ingredientes semelhantes oriundos da sopa primordial. Essa sugestão, apesar de não ser nova, fornece novas evidências que suportam uma hipótese alternativa sobre as origens da vida.

Se os resultados forem confirmados, não significará que necessariamente o RNA não deu origem ao DNA. No entanto, teremos de considerar que o DNA evoluído, pelo menos em algum estado primitivo, pode provavelmente ter surgido mais cedo do que tínhamos previsto. Os resultados do estudo foram publicados na Angewandte Chemie.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / NASA Centro de Vôo Espacial Goddard / Flickr ]

Jornal Ciência