Como parasitas e bactérias podem mudar a maneira como pensamos e sentimos?

de Merelyn Cerqueira 0

Considerando os notórios eventos que ocorrerão recentemente em todo o mundo, não é estranho nos perguntarmos o porquê de algumas pessoas estarem agindo de forma diferente e imprevisível.

 

Logo, uma série de pesquisas foram feitas para explicar tudo isso, explorando também quais seriam as motivações desses indivíduos e se haviam outras influências em jogo, em outras palavras, parasitas e bactérias. À medida que a Ciência descobre mais sobre a influência desses microrganismos no comportamento humano, podemos começar a delinear uma ideia de como eles moldaram nossa sociedade, segundo informações da IFLScience.

 

Sabemos que o controle mental é uma ameaça real e prevalente para os seres humanos, bem como sabemos que ele é usado por muitos organismos em todo o reino animal como uma forma essencial de muitas espécies se reproduzirem. O fungo Cordyceps, por exemplo, é um que infecta formigas para fazê-las subir em copas de árvores onde, após a morte do hospedeiro, o fungo se reproduz fazendo com que seus descendentes flutuem até o chão das florestas para infectar novas formigas.

Paraponera_clavata_with_Cordyceps_fungus_(1)

Essa história de horror não se restringe apenas a animais invertebrados e os seres humanos sequer são imunes. No momento em que aprendemos a cultivar e selecionar variedades de culturas que cresciam melhor em certos ambientes, bem como armazenar o excedente para o futuro, trouxemos também a presença de ratos, gatos e outros animais selvagens com um perigo à espreita: o protozoário parasita, Toxoplasma gondii.

Toxoplasma_gondii_(2)
Toxoplasma gondii

Ele de fato não pode completar seu ciclo de vida nos seres humanos, mas podemos adquiri-los por meio do contato com fezes de animais ou consumo de carnes contaminadas. Estima-se que atualmente 30% a 40% de pessoas em todo mundo estejam infectadas. Logo, coisas estranhas acontecem com os humanos que inadvertidamente entram em contato com o T. gondii. Os homens por exemplo, quando infectados, são mais propensos a se envolverem em acidentes de carros, bem como ficam mais ciumentos e agressivos. As mulheres, por outro lado, são mais propensas a cometer suicídio.

 

Sugere-se ainda que o parasita potencialmente possa estar envolvido em casos de demência, transtorno bipolar, transtorno obsessivo compulsivo e autismo. Há também provas de mais de 40 estudos envolvendo pessoas com esquizofrenia com níveis variados de um anticorpo IgG que trabalha contra T. gondii.

 

Como esses pequenos organismos causam reações tão extremas?

A resposta completa ainda está em fase de ser descoberta, mas resultados iniciais mostram uma influência dos níveis de neurotransmissores, como a dopamina. O desequilíbrio desses níveis é considerado uma característica importante em pessoas com esquizofrenia. Uma análise do genoma de T. gondii descobriu a existência de dois genes que codificam a tirosina hidroxilase, uma enzima que produz um precursor para a produção de dopamina, chamada L-DOPA.

 

Há evidências experimentais que apoiam essa ideia como fator de mudança de comportamento. Verificaram-se níveis elevados de dopamina em ratos infectados com T. gondii, mas que eles poderiam ser reduzidos quando administrados com uma forma antagônica do neurotransmissor, o haloperidol.

 

Controladores mentais microbianos

Enquanto há muitos parasitas capazes de controlar nosso corpo, os micróbios que habitam nosso organismo também podem exercer certa influência sobre nosso comportamento. Esse gigante microbioma tem a função de controlar nosso processo de digestão, incluindo quebra de alimentos e muitos outros. Logo, uma alteração na flora de bactérias intestinais levam ao risco de doenças como diabetes, câncer, asma e doenças neurológicas. Em estudos recentes, pesquisadores mostraram que os micróbios intestinais que quebram os alimentos que ingerimos podem afetar diretamente a produção do neurotransmissor serotonina no cólon e sangue, portanto afetando também comportamentos comunicativos, nervosos e sensoriais.

 

A Ciência acredita que no futuro pode haver a possibilidade de tratar a ansiedade ou depressão por meio da administração de um microbioma saudável, e pesquisas recentes têm mostrado excelentes resultados através de transplantes fecais de indivíduos saudáveis. Ainda, por meio de novas pesquisas, poderemos começar a desvendar como esses seres microscópicos são capazes de manipular decisões culturais e políticas influenciando sociedades inteiras e por que não devem ser subestimados.

[ IFL Science ] [ Fotos: Reprodução / Pixabay / Wikimedia / Wikimedia ]

Jornal Ciência