Cientistas em São Paulo descobriram que a famosa substância não psicoativa da maconha, chamada canabidiol (CBD), pode reduzir os sintomas da depressão durante um certo período.
De fato, o composto mostrou-se tão poderoso quando testado em camundongos que apenas uma dose foi suficiente para os benefícios durarem uma semana inteira. As informações são do famoso site científico IFLScience.
Muito associado ao tratamento de epilepsia, o CBD também já foi mostrado ser eficiente no controle de condições como dor crônica, náuseas associadas à quimioterapia e até mesmo psicose.
Ao contrário da substância tetrahidrocanabinol (THC), principal substância psicoativa da maconha e responsável pelos efeitos conhecidos da droga, o canabidiol, na verdade, consegue suprimir algumas dessas propriedades da própria planta.
Isso significa que, embora o CBD possa oferecer vários benefícios para a saúde já provados pela ciência, ele não causa o famoso “barato”.
Para testar seu efeito como antidepressivo, os pesquisadores adotaram modelos animais (ratos e camundongos) criados para desenvolver sintomas da depressão.
Os roedores (367 no total) receberam uma dose de 7, 10 ou 30 miligramas/quilograma de canabidiol antes de serem submetidos a testes destinados a monitorar sua reação ao estresse.
Os resultados sugerem que o CBD teve ação rápida e sustentada – uma dose única ofereceu não apenas alívio imediato, mas um alívio persistente por sete dias (algo que não ocorre com os antidepressivos convencionais – além dos vários efeitos colaterais conhecidos destes fármacos que fazem com que parte dos pacientes abandonem os tratamentos – especialmente homens, que podem sofrer com impotência).
O efeito gerou aumento de proteínas sinápticas no córtex pré-frontal no cérebro, que está fortemente associado à depressão em humanos, uma semana após o tratamento.
“À luz desta descoberta, acreditamos que o canabidiol rapidamente desencadeia mecanismos neuroplásticos que ajudam a reparar os circuitos neuronais danificados pela depressão”, disse a autora do estudo, Samia Joca, do Instituto de Estudos Avançados de Aarhus (Holanda), e da Universidade de São Paulo, em um comunicado à Science Daily.
Além disso, um segundo estudo, publicado no Journal of Psychopharmacology, sugeriu que o CBD também afeta os mecanismos neuroplásticos no hipocampo, o que também está associado à depressão nas pessoas.
Contudo, embora os resultados sejam encorajadores, uma vez que podem abrir caminhos para o desenvolvimento de novos antidepressivos, eles só foram observados em roedores. Os pesquisadores agora precisarão replicar essa eficácia em seres humanos.
Atualmente, mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão em todo o mundo.
Embora os antidepressivos sejam um tratamento eficaz e inestimável que mudou a vida de milhões de pessoas, nem sempre eles funcionam, especialmente em pacientes onde a depressão é de difícil tratamento sendo resistente e persistente, não apresentando, muitas vezes, resposta terapêutica com medicamentos tradicionais e modernos.
Os pesquisadores esperam que o CBD ofereça uma solução. Os resultados do estudo foram publicados na revista Molecular Biology.
Fontes: IFL Science / PsyPost / Science Daily Fotos: Divulgação