Cientistas japoneses descobrem oxigênio da Terra no solo da Lua

de Redação Jornal Ciência 0

Todos sabemos que não há ar para respirar na Lua, mas novas evidências sugerem que a superfície lunar está continuamente sendo regada pelo oxigênio que escapa da Terra – e pode ter sido por bilhões de anos, desde quando a atmosfera da Terra se desenvolveu.

 

Os cientistas descobriram que os íons de oxigênio da atmosfera da Terra são transportados para a Lua uma vez por mês, durante uma janela de cinco dias, quando o satélite lunar passa pela magnetosfera protetora do Planeta. Neste tempo, a Lua passa por trás da Terra, recebendo um breve adiamento da explosão do vento solar – sendo pulverizada com um fluxo de material que foge da Terra.

 

Apesar de cientistas já terem sugerido que alguns gases como o nitrogênio poderiam ter ido para a superfície lunar depois de escapar da nossa atmosfera, é a primeira vez que os pesquisadores mostram que o oxigênio – um dos componentes mais importantes da vida na Terra – também poderia ser enviado para a Lua. “Nossa nova descoberta sugere que o sistema Terra e Lua se relaciona não só fisicamente, mas também quimicamente”, disse o astrofísico Kentaro Terada da Universidade de Osaka, no Japão.

 

Os resultados da pesquisa poderiam explicar um mistério de longa data sobre a composição química das rochas na Lua. Uma vez que a Lua não tem um campo magnético protetor como a Terra, ela fica próxima – constantemente bombardeada pelo vento solar – a um fluxo de partículas altamente carregadas emanadas do Sol.

 

Por causa disso, pensou-se que o sedimento lunar tomado da superfície forneceria um fósforo químico do material que compõe o vento solar. Mas quando os cientistas analisaram as rochas lunares em 2006, descobriram que os níveis de oxigênio não correspondem, o que poderia significar que algo mais estava mexendo com a composição do solo lunar.

 

Agora, a equipe de Terada tem uma explicação para o que essa contaminação poderia ser, analisando dados da sonda espacial japonesa SELENE (também conhecida como Kaguya), eles descobriram que a mesma registrou altos níveis de íons de oxigênio – moléculas de oxigênio positivamente carregadas – enquanto orbitava a Lua entre 2007 e 2009. O intrigante é que esses íons de oxigênio não eram constantes. SELENE só detectou o químico durante um período de cinco dias distintos durante cada órbita lunar – o que leva aproximadamente 27 dias. Esse curto período coincidiu com quando a espaçonave e a Lua estavam protegidas do vento solar pela magnetosfera da Terra.

vento-solar-oxigenio-lua_2
Universidade de Osaka / NASA

O campo magnético protetor não é esférico, ele envolve o Planeta em forma de uma lágrima, com a borda arredondada virada para o Sol e a cauda longa – chamada de calda magnética – estendendo-se atrás da Terra. Enquanto a magnetosfera protege em grande parte tudo o que está nela da radiação solar, a força dos ventos solares empurra algumas partículas da atmosfera da Terra para uma seção da calda magnética chamado de plasma – que os pesquisadores dizem ser a explicação mais plausível para como oxigênio da Terra acaba no solo lunar.

 

A atmosfera superior da Terra consiste em íons de oxigênio que são facilmente capturados pelo vento solar e transportados para a Lua”, explicou a equipe de Terada para Rebecca Boyle do The Atlantic.

 

Talvez alguma porção seja implantada na Lua, e alguma porção fique perdida no espaço interplanetário.” Se a hipótese estiver correta, isso poderia significar que a Lua preserva oxigênio antigo desde quando a atmosfera da Terra era muito jovem, já há 2,5 bilhões de anos, sugerem os pesquisadores.

 

Embora a capacidade de examinar esse oxigênio possa ser inestimável para os cientistas que desejam estudar a composição química da atmosfera de bilhões de anos atrás, esses vestígios lunares do passado da Terra podem não ser um laboratório muito conveniente.

 

A superfície da Lua é continuamente bombardeada e alterada por meteoritos, que poderiam ter deslocado os íons de oxigênio, ou enterrados profundamente sob a superfície lunar. Mas os cientistas ainda estão muito interessados ​​em ver como isso pode ser possível – agora que pensamos que a Lua poderia preservar o oxigênio antigo do passado da Terra, há várias novas e intrigantes perguntas para serem feitas.

 

Para mim, parece legal que uma lua de um planeta possa preservar informações sobre o planeta, apenas a partir do vento solar”, disse o cientista planetário Craig Hardgrove da Universidade Estadual do Arizona, que não estava envolvido no estudo.
As descobertas foram publicadas na Nature Astronomia.

[ Science Alert / EOS ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

Jornal Ciência