Cientistas estão criando tratamentos personalizados para eczema a partir das bactérias dos pacientes

de Merelyn Cerqueira 0

Cientistas estão cultivando bactérias benéficas da pele de pessoas com eczema para transformá-las em loções personalizadas e tratar doenças cutâneas.

 

Os resultados do experimento foram descritos na revista Science Translational Medicine e mostram que nosso microbioma pode ser usado a favor de nossa saúde, bem como nos fornecer uma nova direção em relação ao uso de antibióticos – algo que precisamos, considerando o aumento da resistência de bactérias.

 

Nossa pele possui uma mistura de bactérias saudáveis e prejudiciais que convivem em equilíbrio. No entanto, quando ocorre uma desarmonia,podemos desenvolver condições cutâneas, como a dermatite atópica– uma forma comum de eczema que causa inflamação e irritação na pele. Pessoas com este tipo de eczema, por alguma razão que ainda é desconhecida, têm muitas bactérias na pele, mas o tipo errado de bactérias”, disse o dermatologista Richard Gallo da Universidade da Califórnia, em San Diego, à Associated Press.

 

Para descobrir mais sobre a composição dessas populações de bactérias, Gallo e sua equipe analisaram culturas encontradas na pele de 30 pessoas saudáveis e 49 com dermatite atópica. Eles descobriram que a pele das pessoas saudáveis era rica em duas espécies em particular: Staphylococcus hominise Staphylococcus epidermis. Ambas são conhecidas por defender nosso corpo de um tipo nocivo, chamado Staphylococcus aureus e responsável por uma condição chamada MRSA.

 

Os cientistas ainda não sabem se a S. aureus realmente causa a forma de dermatite em questão, mas cada vez mais estudos têm sugerido que essas bactérias podem ajudar a promover os sintomas. No estudo, Gallo e sua equipe descobriram que pessoas com dermatite atópica não exibem grandes quantidades de S.hominise S.epidermis, enquanto que a S.aureus é encontrada de forma abundante.

 

Então, eles impulsionaram as populações das duas bactérias benéficas, a fim de verificar se a população de S.aureus era reduzida. Ainda, isolaram as culturas benéficas de cinco participantes com dermatite e as cultivaram em laboratório. Uma vez que tinham aumentado a contagem da população das bactérias saudáveis, os pesquisadores as misturaram em um hidratante, de forma personalizada e feita com o microbioma de cada participante.

 

Após o uso da loção, eles observaram que a quantidade de bactérias benéficas havia crescido enquanto que a S. aureus desapareceu completamente em dois dos pacientes em apenas 24 horas, e foram significantemente reduzidas nos outros. Embora os pesquisadores não tenham informado sobre a redução ou desaparecimento dos sintomas da dermatite, eles afirmaram estar confiantes de ter encontrado a base de um potencial tratamento.

 

Agora temos uma abordagem terapêutica racional para a dermatite atópica usando tecnologia de transplante bacteriano” disse Gallo em um comunicado de imprensa. “Ao que tudo indica, as pessoas com este transtorno terão de promover o crescimento desses organismos, e a notícia boa é que isso será fácil de fazer porque tudo que precisarão fazer é aplicar uma loção”.

 

Ainda, em comparação aos antibióticos de amplo espectro, que matam uma vasta gama de bactérias, a técnica dos pesquisadores permite cultivar bactérias boas e atacar apenas as ruins.Embora devamos considerar o estudo promissor, temos que prosseguir com cautela, uma vez que ele foi realizado em uma amostra reduzida de pessoas.

 

Para o imunologista Shruti Naik, da Universidade Rockerfeller, nos EUA, que não esteve envolvido no estudo, trata-se de um grande passo no sentido de usar terapias microbianas para tratar doenças de pele. Será interessante avançar e testar se os micróbios benéficos podem de fato reduzir ou curar eczema”, acrescentou.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Flickr ] 

Jornal Ciência