Mutação natural fez peixe ficar 8.000x mais resistente aos resíduos tóxicos

de Gustavo Teixera 0

Pesquisadores descobriram que um peixe que vive na costa leste dos Estados Unidos evoluiu para ser 8.000 vezes mais resistente aos resíduos tóxicos do que o peixe normal.

O pequeno peixe, chamado de killifish, é conhecido por viver em estuários bastante poluídos, como a Baía Newark de Nova Jersey e o Rio Elizabeth, em Virginia. Os cientistas descobriram que esse peixe somente sobrevive graças a uma mutação extrema que o deixa suportar altos níveis de resíduos tóxicos encontrados no seu habitat.

O animal é querido entre os proprietários de aquários por seu tamanho pequeno e cores bonitas. É também um favorito dos ecologistas como uma espécie de indicador, agindo como um “canário” em ambientes poluídos. “Você vê o killifish nestes locais por que são extremamente tolerantes a alguns poluentes químicos muito desagradáveis”, disse o toxicólogo ambiental Andrew Whitehead da Universidade da Califórnia à National Geographic.

A mistura de dioxinas, bifenil policlorado, conhecido pela sigla PCB, e metais pesados nesses locais fica em até 8.000 vezes mais do nível que faria a maioria dos animas morrer. Assim como “Blinky”, o peixe de três olhos dos “Simpsons”, esses peixes estavam vivendo em uma sopa tóxica. Ao contrário do bom e velho “Blinky”, não havia nada fisicamente diferente nessas populações.

Seus genes contaram uma história diferente, no entanto. Whitehead e sua equipe coletaram pouco menos de 400 exemplares em locais fortemente poluídos ao longo da Costa Leste dos EUA e sequenciaram seus genomas. Em um livro de evolução convergente, eles descobriram que mutações semelhantes tinham surgido de forma independente nos mesmos genes dentro de cada população.

Essas mutações desativaram as vias moleculares que causaram danos nas células afetadas pelas toxinas. Além do mais, eles pareciam ser os únicos espécimes vivendo em águas poluídas, dado que eles têm pouca vantagem em ambientes mais limpos. Assistir à vida marinha se adaptar à nossa poluição parece um sopro de ar fresco, mas nem tudo são flores.

Infelizmente, a maioria das espécies que nos preocupam provavelmente não podem se adaptar a essas mudanças rápidas, porque não têm os altos níveis de variação genética que lhes permitem evoluir rapidamente”, explicou Whitehead. A vantagem do killifish é a diversidade de seus genes, permitindo que eles sobrevivam à mistura aleatória de mutações por tempo suficiente até que uma combinação vencedora apareça. Para espécies altamente especializadas, as mutações ruins tendem a ter um impacto maior na sobrevivência.

No entanto, essas mutações têm um custo. Ao adaptarem-se às suas casas tóxicas, cada população reduziu-se em diversidade e tornou-se mais especializada. Futuras mudanças nesses ambientes, de outras formas letais, poderiam significar uma desgraça para os killifish. O pequeno peixe é alimento para peixes maiores e pássaros, não se sabe dizer o efeito que a concentração de metais pesados e PCBs terão sobre o resto da cadeia alimentar.

Isso até parece legal, um peixe sofrer uma mutação e continuar na luta da sobrevivência, mas o ideal seria acabar com a poluição de rios e mares para a vida dos animais prevalecer. Quem sabe um dia…

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Science Alert ]

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