Após morrer de câncer, primeira adolescente britânica é congelada por criogenia

de Merelyn Cerqueira 0

Uma menina de 14 anos do Reino Unido, que não pode ser identificada, após sua morte em razão de um câncer, se tornou a primeira criança a ser congelada criogenicamente após um juiz concordar com sua decisão.

O desejo dela era de morrer para que, um dia, pudesse ser “acordada e curada”. Atualmente, seu corpo se encontra em criostato a uma temperatura de -196°C, dentro do Cryonics Institute, em Michigan, EUA. Ela esteve no centro de uma batalha judicial entre seus pais divorciados e enquanto a mãe concordava com sua decisão, o pai se recusava a fazê-lo por razões financeiras e psicológicas, segundo informações do jornal Daily Mail.

Eu quero viver mais tempo e acho que no futuro podem encontrar uma cura para o meu câncer e me acordar. Eu quero ter essa chance. Este é o meu desejo”, disse ela em uma carta deixada a um juiz. “Eu acho que ser crio-preservada me dá uma chance de ser acordada e curada – mesmo se for daqui a centenas de anos. Não quero ser enterrada”.

A menina, que morreu no dia 17 de outubro deste ano, havia pedido à Suprema Corte que sua mãe para esta fosse a única pessoa autorizada a tomar decisões sobre seu corpo. Depois de concordar, o juiz que cuidou do caso, identificado como Justice Jackson, disse que ela teria morrido pacificamente sabendo que seu último desejo lhe seria concedido. 

Logo após o evento, seu corpo foi levado para os EUA e desde então permanece congelado em nitrogênio líquido e armazenado próximo a outros 150 cadáveres. A menina está em uma das duas principais instalações criônicas do mundo, Cryonics Institute – criado por Robert Ettinger que também está congelado no mesmo local juntamente com duas de suas esposas.

Acredita-se que atualmente cerca de 250 pessoas tenham gasto grandes somas preservando seus corpos dessa forma. O primeiro foi Dr. James Bedford, em 1967, que posteriormente acabou se tornando tema popular de filmes como Forever Young, estrelado por Mel Gibson.

Considerando que o tratamento seja bem-sucedido e a menina seja trazida de volta à vida em cerca de 200 anos, ela não encontrará qualquer parente vivo e nem poderá se lembrar das coisas, consequentemente enfrentando uma situação digna de desespero – dado o fato de que ela morreu com apenas 14 anos e acordará longe de casa. Estes foram justamente alguns dos argumentos apresentados pelo pai em relação ao caso.

Como funciona a criopreservação? 

Um dispositivo chamado “ressuscitador pulmão-coração” é usado para manter o sangue circulando pelo corpo, quando necessário, então, uma medicação é aplicada para evitar a deterioração celular. O sangue e fluidos corporais são drenados e substituídos por uma solução anticongelante.

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Na foto acima é retratado uma das áreas onde o corpo será preparado para ser congelado.

O processo só pode ser feito quando o corpo está legalmente morto. De forma ideal deve começar cerca de dois minutos depois que o coração parar. Então, o corpo é coberto com gelo e injetado com produtos químicos para reduzir a coagulação do sangue e preservar os órgãos. Por fim, ele é colocado em um tanque e mantido resfriado em nitrogênio líquido a -196°C.

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Os corpos são drenados sobre uma mesa cheia de gelo(à esquerda) e depois congelados lentamente durante várias semanas antes de –196º e mantidos em um cilindro regulado (à direita).

No entanto, o método ainda é considerado extremamente controverso e com baixas taxas de sucesso, especialmente por cientistas e médicos, que alegam que nunca foi possível ressuscitar com êxito um ser humano ou qualquer outro mamífero dessa forma. Eles consideram que órgãos como coração e rins nunca foram congelados e descongelados com sucesso e que é improvável que o cérebro resista sem sofrer danos irreversíveis.

O custo para fazê-lo também é elevado. O processo do Cryonics Institute, por exemplo, onde a menina foi armazenada, custa a partir de 35 mil dólares. À sua família, foram cobrados US$ 37 mil, por incluir valores de transporte.

Organizações como a Cryonics afirmam que a ressuscitação poderia ocorrer em décadas ou séculos. Enquanto a maioria das pessoas decide congelar o corpo inteiro, algumas optam por preservar apenas o cérebro. 

No caso da jovem, logo após a morte, seu corpo foi rapidamente congelado. De acordo com a advogada do caso, Zoe Fleetwood, foi um processo muito difícil para a mãe, mas que não teve qualquer relação com a polêmica envolvendo a técnica. “Alguns podem dizer que a atenção da mãe foi direcionada para esse procedimento ao invés de sofrer pelo momento”, disse. “O caso não era sobre os direitos e erros da criopreservação. Como qualquer o caso de crianças em tribunais, era sobre o bem-estar dela e seus desejos sendo seguidos”.

[ Daily Mail ] [ Fotos: Reprodução / Daily Mail ]

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