Álcool não apaga memórias, na verdade, deixam as lembranças ruins mais fortes

de Merelyn Cerqueira 0

Cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, descobriram que o álcool pode fortalecer as más lembranças, o que sugere que “beber para esquecer” não é algo tão eficaz quanto pensávamos.

Eles apontaram evidências de que o álcool não só impede que a más lembranças sejam apagadas, como também as tornam mais fortes, uma vez que este fortalece as células nervosas conectadas ao centro de resposta ao medo do cérebro. Logo, substituir a bebida por uma terapia comportamental combinada com medicamentos pode ser a única maneira de enfraquecer – ou até mesmo modificar – memórias ruins, conforme relatado pelo jornal Daily Mail.

As pessoas com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) são as que frequentemente se voltam para a bebida ou entorpecentes para conseguir lidar com situações negativas passadas. No entanto, o estudo mostrou que a psicoterapia pode ser muito mais útil do que o consumo excessivo de tais substâncias. De acordo com um dos pesquisadores, o professor de Neurologia Dr. Norman Haughey, quanto mais tempo gastamos afogando as lembranças na bebida, mais difícil será sobrepor experiências traumáticas. “O álcool altera a química do cérebro, o que torna ainda mais difícil a modificação das memórias”, disse ele entrevista ao Daily Mail Online.

Pessoas em TEPT, muitas vezes, sentem-se estressadas, ansiosas ou assustadas, mesmo que não estejam em perigo. Essa condição costuma afetar principalmente militares e policiais, que constantemente vivem eventos com potencial traumatizante, de acordo com Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA (US Department of Veterans Affairs). A recuperação, por outro lado, em muitas das vezes, não significa esquecer o trauma passado, mas sim aprender a não ter reações físicas ou emocionais negativas às memórias.

Logo, a maioria dos diagnosticados acaba encontrando conforto no álcool, algo estimado entre 60% a 80%, uma vez que a substância ajuda a reduzir a consciência e a insônia, bem como permite que pessoas mais inibidas fiquem mais sociáveis. O estudo em questão utilizou ratos para observar os efeitos do álcool em relação as memórias negativas. Os animais foram colocados em gaiolas com um chão eletrificado de modo que tivessem o medo treinado. Divididos em dois grupos, ao primeiro foi dada água, enquanto o segundo uma bebida com 20% de etanol.

No dia seguinte, os pesquisadores tentaram desassociar a resposta negativa dos ratos ao choque, colocando-os em uma gaiola mais segura. Os que receberam álcool mostraram-se muito mais propensos a “congelar” de medo do que aqueles que tinham recebido água. Ainda, amostras de tecidos cerebrais mostraram que os ratos que havia consumido álcool tinham muito mais receptores ao longo de suas sinapses do que os que haviam recebido água. Considerando que sinapses (conexões entre células cerebrais) mais fortes significam memórias mais fortes, houve uma conexão mais forte com a resposta do cérebro ao medo.

Enquanto que muitos de nós trabalhamos para manter essas sinapses e memórias mais fortes, os pesquisadores descobriram que ter mais receptores deixaram os ratos traumatizados e em um estado aumentado de medo. Quando receberam um fármaco de combate a epilepsia, o perampanel, que bloqueia os receptores, a resposta de congelamento dos ratos que haviam recebido álcool caiu para 20%.

Medicamentos ansiolíticos e outras drogas, juntamente com o álcool, podem afetar a capacidade de uma pessoa de lembrar memórias ruins em muitas maneiras”, disse Dr. Haughey. “Mas, usar uma droga que bloqueia os receptores associados à resposta ao medo como terapia de curto prazo, juntamente com uma terapia comportamental, poderia ajudar a química do cérebro a substituir memórias traumáticas”.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Pexels

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