Champanhe pode realmente melhorar a memória e afastar a demência?

de Bruno Rizzato 0

Provavelmente você já viu um daqueles títulos virais, principalmente na época de final de ano, alegando que três copos de champanhe por dia afastam a demência. Esta alegação, infelizmente não faz sentido para humanos. Ela originou-se de uma manchete errada, postada em algum portal do Reino Unido, que acabou circulando pela web como verdade em diversos outros portais.

Um estudo sobre isso foi realmente publicado em 2013. Pesquisadores de saúde da Universidade de Reading, na Inglaterra, investigavam como certos ácidos fenólicos encontrados no champanhe poderiam afetar a memória espacial de ratos. Os ácidos fenólicos são compostos aromáticos encontrados naturalmente em muitas plantas, incluindo nas peles das uvas utilizadas para a fabricação de champanhe e vinho branco. Eles são parecidos com flavonóides, pigmentos vegetais naturais que servem como antioxidantes no corpo humano, sendo considerados responsáveis por alguns dos benefícios do vinho tinto.

Há evidências de que alimentos carregados com flavonóides melhoram a memória espacial de roedores por afetar nervos e vasos sanguíneos no cérebro. Assim, os pesquisadores resolveram investigar se os ácidos fenólicos poderiam ter um efeito semelhante, utilizando três grupos com oito ratos cada, testando a sua memória espacial em um labirinto. Depois de executar diversas experiências com eles, nas seis semanas seguintes, cada grupo de ratos recebeu uma pequena dose diária de champanhe, de uma bebida alcoólica que não fosse champanhe, ou uma bebida sem álcool, todas com a mesma quantidade de calorias.

Após seis semanas consumindo essas bebidas, os ratos foram testados novamente, e o grupo de champanhe era, de fato, muito mais preciso na hora de encontrar o caminho certo no labirinto. Quando os cientistas verificaram os cérebros dos ratos, eles descobriram um aumento em várias proteínas que ajudam na formação de células no cérebro. Os resultados foram publicados na revista Antioxidants and Redox Signalling.

De acordo com o comunicado de imprensa sobre este estudo, um a três copos de champanhe por semana poderiam diminuir a perda de memória associada ao envelhecimento. Mas, de acordo com uma análise feita pelo portal do NHS Choices, ligado ao governo do Reino Unido, esta alegação mostrou-se problemática. “As fontes de mídia não relatam de forma responsável este estágio inicial de pesquisa animal. A quantidade de champanhe consumida pelos ratos foi dita ser equivalente a 1,3 pequenos copos (cerca de duas unidades) por semana para os seres humanos. E nós não podemos nos certificar de que estes resultados se aplicam aos seres humanos”, escreveu um porta-voz.

Jeremy Spencer, um dos pesquisadores, disse em comunicado de imprensa: “Estes resultados emocionantes ilustram, pela primeira vez, que o consumo moderado de champanhe tem o potencial de influenciar no funcionamento cognitivo, como a memória. Nós incentivamos uma abordagem responsável para o consumo de álcool, e os nossos resultados sugerem que uma baixa ingestão de um ou dois copos por semana pode ser eficaz”.

Porém, novamente, a NHS Choices refuta a afirmação, pedindo responsabilidade por parte das pessoas. “Um desempenho um pouco melhor em percursos de labirintos em um pequeno número de ratos não se traduz, necessariamente, na redução do risco reduzido de demência em seres humanos. Os riscos para a saúde causados pelo consumo de grandes quantidades de álcool são bem conhecidos e mais importantes”, relataram.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Tom Coates / Flickr ]

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