A doença de Alzheimer é transmissível em casos extremamente raros, afirmam cientistas em novo estudo

de OTTO HESENDORFF 0

Recentes descobertas no campo da neurologia sugerem que a doença de Alzheimer pode ser transmissível em situações extremamente raras. Este surpreendente avanço vem de um estudo que indica a possibilidade de transferência das “sementes” da doença através de certos procedimentos médicos.

O Dr. John Collinge, coautor do estudo e professor de neurologia no University College London, esclareceu em uma coletiva de imprensa em 25 de janeiro que a transmissão do Alzheimer não se assemelha às infecções virais ou bacterianas.

“Viver com alguém com Alzheimer, ser um cuidador ou trabalhador da saúde não significa que você vai ‘pegar’ a doença”, enfatizou, apontando para a natureza única e rara da transmissão.

Publicado na revista Nature Medicine, o estudo se concentrou em 8 pessoas no Reino Unido que, na infância, receberam tratamento com hormônio de crescimento humano extraído de cérebros de cadáveres.

Esta prática foi comum entre 1959 e 1985, especialmente no Reino Unido, nos EUA e na França, antes de ser banida devido a riscos associados, como a doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), causada por uma proteína infecciosa chamada príons.

Os príons são proteínas malformadas que induzem outras proteínas a se dobrarem de maneira anormal. Esta descoberta é particularmente significativa, pois a maneira como os príons se comportam tem paralelos preocupantes com as proteínas Beta-Amiloide e Tau no Alzheimer.

5 dos 8 pacientes estudados mostraram sinais de demência precoce, com sintomas começando entre os 38 e 55 anos. A equipe de pesquisa encontrou evidências adicionais de Alzheimer ao analisar o líquido que circunda o cérebro e a medula espinhal destes pacientes.

Além disso, amostras de tecido cerebral de um paciente que faleceu durante o estudo confirmaram a presença de patologia de Alzheimer.

Testes genéticos descartaram a possibilidade de que genes associados ao Alzheimer precoce tenham causado a demência de qualquer dos pacientes envolvidos no estudo, ressaltando a possibilidade da forma de transmissão rara.

A Dra. Gargi Banerjee, autora principal do estudo e professora clínica no University College London, destacou que, apesar de outras variáveis possivelmente influenciarem o risco de Alzheimer, o tratamento com hormônio de crescimento na infância foi o único fator de risco comum entre os pacientes.

David Westaway, diretor de programas científicos no Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Universidade da Califórnia, que não esteve envolvido na pesquisa, comentou ao portal Live Science que não há indícios de que a forma comum de Alzheimer, que afeta 90% dos pacientes e geralmente surge após os 60 anos, tenha origem em procedimentos clínicos. No entanto, o estudo sugere que, em casos raríssimos, a doença pode se espalhar.

Os autores do estudo recomendam cautela em procedimentos médicos para evitar a remota possibilidade de transmissões acidentais das “sementes” do Alzheimer.

Esta descoberta ressalta a importância da segurança em procedimentos médicos, principalmente aqueles que envolvem transferência de material biológico entre pacientes.

Fonte(s): Live Science / Nature Medicine Imagem de Capa: Reprodução / MIT / Advanced Functional Medicine 

Jornal Ciência