Por que sentimos “borboletas no estômago”?

de Merelyn Cerqueira 0

Se você já esteve nervoso sobre algo que iria acontecer ou alguém que iria conhecer, certamente já deve ter experimentado a famosa sensação de “borboletas no estômago”.

Basicamente, trata-se de uma sensação de náusea e nervosismo que sentimos na barriga. No entanto, ao invés de simplesmente considerarmos a literal presença de borboletas, há uma explicação mais científica para o fenômeno, e ela envolve o sistema nervoso do corpo, de acordo com informações do fisiologista Bradley Elliott, em um artigo publicado originalmente pela The Conversation.

Inteligência do corpo

Considere primeiramente que o corpo humano é capaz de cuidar de si mesmo sem a nossa ajuda. Ele regula a frequência cardíaca, fluxo sanguíneo e a distribuição de nutrientes, sem que tenhamos que intervir conscientemente, em um processo executado pelo sistema nervoso autônomo (SNA).

Esse SNA pode ser dividido em dois tipos: o simpático e parassimpático – ou sistema de luta e fuga e descanso e digestão, respectivamente. Ambos estão constantemente ativos e atuam em oposição um ao outro. 

O sistema simpático (de luta e fuga) é responsável pelo aumento da frequência cardíaca no corpo, enquanto que o parassimpático (descanso e digestão), o reduz. Logo, a taxa em que o coração bate, é na verdade o equilíbrio entre as atividades dos dois ramos do SNA.

O domínio do ramo parassimpático nos permite sentir satisfação e sonolência após o almoço, por exemplo. Isso porque, parte do fluxo sanguíneo do coração é direcionado para o estômago, e o SNA nos incentiva a sentar ou deitar para permitir a digestão.

Luta e fuga

O que isso tem a ver com as borboletas? Um dos papéis mais importantes do SNA é nos preparar para o que pensamos que está a ponto de acontecer e isso nos dá uma vantagem evolutiva. Considere um cenário em que você se depara com um tigre. Suas únicas opções são: lutar, correr ou, em alguns casos, congelar de medo. 

Assim, quando o sistema simpático (luta e fuga) entre ação, ele se torna dominante em relação ao parassimpático. Isso também causa a liberação da adrenalina, que aumenta a frequência cardíaca para bombear sangue mais rápido, bem como liberam maiores quantidades de glicose no fígado além de redirecionar o sangue do intestino para os músculos dos braços e pernas. Esse movimento nos deixa pronto para a ação: que geralmente será de defesa ou fuga.

No entanto, essa escassez de sangue no intestino vem acompanhada de um efeito colateral notável – a diminuição da digestão. Isso ocorre porque os músculos que circundam o estômago e intestino retardam a mistura de seus conteúdos parcialmente digeridos. Então, os vasos sanguíneos dessa região se contraem reduzindo o fluxo de sangue nos intestinos.

Enquanto que a adrenalina causa a constrição da maior parte da parede intestinal, reduzindo a digestão, ela relaxa um músculo muito específico, o esfíncter anal externo, razão pela qual algumas pessoas sentem uma urgente necessidade de ir ao banheiro. Essa redução do fluxo sanguíneo no intestino, por sua vez, produz a famosa sensação de “borboletas na boca do estômago”.

É por meio dessa sensação de escassez de sangue, e consequentemente oxigênio, que os nervos sensoriais do estômago nos avisam que o órgão não está feliz com a situação. Agora, por que “borboletas”? Simples. Acredita-se que a sensação sentida no estômago possa ser melhor descrita pela “agitação” dos insetos, o que certamente se popularizou entre várias culturas.

Fonte: IFL Science / The Conversation Foto: Reprodução / Wikipédia 

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