Pela primeira vez na história, cientistas transformam sangue Tipo A em doador universal

de Merelyn Cerqueira 0

Estima-se que cerca de 117 milhões de litros de sangue sejam doados todos os anos em todo o mundo. Embora pareça bastante, a incompatibilidade entre os tipos sanguíneos (sendo os principais A, B, AB e O) faz com que a transfusão nem sempre possa ser direta.

O sangue tipo O, no entanto, é compatível com qualquer outro do sistema positivo Rh, sendo considerado “universal”, uma vez que pode ser aceito em A+, B+, AB+ ou O+, o que representa três quartos da população do mundo.

No entanto, um novo estudo mostrou ser capaz de utilizar enzimas para converter os glóbulos vermelhos tipo A em células do tipo O (doador universal). Embora a ciência por trás da descoberta ainda esteja dando os primeiros passos, ela tem o potencial de abrir caminhos para aumentar consideravelmente a oferta de sangue no mundo.

O sangue depende de diferentes tipos de antígenos, que são estruturas que desencadeiam uma resposta imunológica na superfície dos glóbulos vermelhos (bem como os anticorpos do plasma). 

Em termos mais simples, o grupo sanguíneo A possui antígenos A nos glóbulos vermelhos, com anticorpos anti-B. Da mesma forma, o grupo sanguíneo B tem antígenos B, com anticorpos anti-A.

Sendo assim, se você bombear em um receptor de sangue tipo A meio litro de sangue tipo B, por exemplo, seus anticorpos (anti-B) serão estimulados pelos antígenos B, desencadeando uma resposta imune potencialmente letal.

Por outro lado, o grupo sanguíneo O é compatível com ambas as tipagens sanguíneas, uma vez que não contém antígenos A ou B, mas sim H, que é “neutro”.

O estudo em questão, feito por pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, descobriu uma maneira eficaz de remover os antígenos A, convertendo-os em H. Isso significa que o grupo sanguíneo A modificado não desencadearia uma resposta imunológica ao receptor.

O resultado seria um grupo sanguíneo que, além do O, poderia ser doado universalmente para pacientes do mesmo fator Rhesus.

Considerando que o sangue tipo A é o segundo mais comum no mundo, ficando atrás do O, esse “truque” poderia ser revolucionário para o aumento da oferta de sangue de doadores universais.

O método envolveu utilizar enzimas encontradas em bactérias (da espécie Flavonifractor plautii) do intestino humano. Após a obtenção, isolaram-nas em seus genes específicos que codificam duas enzimas bacterianas capazes de remover os principais componentes do antígeno A.

Após adicionar pequenas quantidades das duas enzimas ao sangue tipo A, elas foram capazes de remover os antígenos, criando uma amostra que poderia ser usada como um tipo sanguíneo “universal”.

Até o momento, a ideia foi testada apenas em laboratório, de modo que, ainda há muito trabalho a ser feito antes que possamos vê-la sendo usada em hospitais.

Os resultados do estudo foram publicados na revista Nature Microbiology.

Fonte: IFL Science Fotos: Reprodução / Medical News Today

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