O podemos aprender com a maneira que a Alemanha lidou com sua “cracolândia”?

de Redação Jornal Ciência 0

Quando a prefeitura de São Paulo resolveu tomar atitudes para combater a famosa região da Cracolândia, no centro da cidade, o assunto se tornou polêmico e virou alvo de debates por todo o país. 

Mas, ao contrário do que muitos pensam, o Brasil não é o único “privilegiado” com bairros ou locais com grande consumo de drogas e centenas de viciados aglomerados. 

Este debate, sobre qual atitude tomar em casos como o da Cracolândia, é antigo, e já foi discutido em diversas regiões do mundo. Vários países já passaram por situação similares e algumas cidades conseguiram ter êxito na empreitada. 

No entanto, as outras cidades tiveram uma atitude bem diferente da nova gestão da capital paulista, como por exemplo, o parque Taunusanlage, em Frankfurt, na Alemanha.

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O parque hoje é considerado um dos mais bonitos do mundo e possui exuberante beleza. 

Durante os anos 1980, cerca de 1,5 mil usuários de heroína frequentaram o parque diariamente, que se transformou no maior ponto de uso de drogas da Alemanha. A cada ano, centenas de viciados morriam, não apenas por overdose, mas pela disseminação do vírus HIV transmitido através das seringas e agulhas compartilhadas. 

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O passado do local foi marcado por violência, consumo de drogas e comércio ilegal por traficantes. 

A solução tomada ficou conhecida como “Caminho de Frankfurt”, e se tornou um exemplo para outros lugares do mundo.

Ao invés de reproduzir métodos antigos e ineficazes que tinham a força bruta como base, a população da cidade realizou uma série de encontros mensais, reunindo não somente a polícia, políticos e autoridades, mas também organizações sociais, comerciantes, especialistas em dependência e outros membros da sociedade que, juntos, entendiam que o problema era de responsabilidade de todos. 

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Usuário aplicando heroína nas ruas próximas ao parque no final da década de 1980.

Em poucas palavras: os usuários passaram de um problema policial para uma questão de saúde. Dessa forma, a polícia se concentrava em combater o tráfico e os traficantes, mas não o uso de drogas em si, que passou a ser tratado pela saúde pública. 

O entendimento geral era de que, as pessoas que ali estavam, eram doentes e precisavam de ajuda médica e psicológica. Caso fossem tratados como criminosos, nunca conseguiriam ter uma nova vida, já que o ponto central do problema era o vício. 

O tratamento em questão era realizado através de medidas alternativas, como locais seguros para uso controlado das drogas, moradia e trabalho. Outra novidade implantada foi o uso das chamadas terapias de substituição, onde se troca a heroína por outras drogas menos nocivas, tudo com apoio e acompanhamento médico. 

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Uma das salas de uso controlado de drogas onde um viciado poderia usar entorpecentes sem os riscos das ruas.

Esse caso que aconteceu em Frankfurt virou um exemplo para diversas outras cidades, mesmo havendo diferenças entre drogas e lugares, o método era o mesmo e poderia ser replicado.

Dar ouvidos aos especialistas é fundamental para entender de uma vez por todas que o uso de drogas é um problema de saúde, e não de polícia. Alguns estudiosos em sociedade entendem que a polícia deve ser encarregada de combater o tráfico, prender os traficantes e impedir as rotas de entrada das drogas, mas não devem punir os viciados, que precisam de ajuda. 

Atualmente, o parque que antes era o maior ponto de uso de drogas da Alemanha foi restaurado e recebe centenas de visitantes por dia devido a sua paisagem exuberante e incrível beleza natural. 

Fotos: Reprodução

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