Microesferas esfoliantes do seu cosmético podem estar intoxicando peixes e destruindo vida marinha

de Merelyn Cerqueira 0

Cientistas disseram que encontraram evidências preocupantes de que os peixes que consumimos estão se tornando tóxicos, pois seu habitat está sendo poluído com bilhões de microesferas – minúsculas partículas de plástico comumente encontradas em produtos esfoliantes e outros cosméticos.

Atualmente, países como Estados Unidos e Austrália estão em processo de eliminarem a adição dessas microesferas em produtos. Com base nas descobertas recentes, pesquisadores estão pressionando os governos por uma proibição imediata.

As microesferas agem como minúsculos ímãs de poluentes, capazes de concentrar essas substâncias até um milhão de vezes mais. Isso é preocupante quando consideramos que trilhões desses pequenos grânulos estão entrando em vias navegáveis todos os dias.

O estudo, publicado na revista Environmental Science and Technology, é o primeiro a mostrar que as toxinas associadas às microesferas podem contaminar diretamente os peixes. A constatação foi feita por uma equipe de pesquisadores da Universidade RMIT, na Austrália. Segundo eles, os peixes podem absorver até 12,5% da poluição proveniente dessas partículas.

Segundo Bradley Clarke, que liderou a pesquisa, ao comer peixes corremos o risco de consumir também qualquer substância absorvida por ele. “Nosso próximo passo é determinar as implicações de nossas descobertas para a saúde pública, trabalhando a importância dessa via de exposição e precisão quanto a medida de poluição que poderia entrar na cadeia alimentar humana”, disse.

As microesferas em questão estão presentes em uma enorme quantidade de produtos que consumimos diariamente: esfoliantes corporais, cremes dentais, sabonetes e outros cosméticos. Tratam-se de pequenas bolas de plástico inofensivas à primeira vista. No entanto, isso muda quando elas viajam até o Oceano, onde entram em contato direto com os peixes.

Quando chegam ao estômago do animal, assim como qualquer outro plástico, atraem e concentram produtos químicos tóxicos, o que inclui uma classe de poluentes chamada éteres de difenila polibromados (PBDE) – conhecidos por causar problemas neurológicos, diminuir a fertilidade e função imunológica.

Para testar os efeitos das microesferas, a equipe de Clarke colheu peixes do Rio Murray, na Austrália, posteriormente expondo-os a níveis de PBDE que imitavam o ambiente a que estavam submetidos. Após 21 dias, eles checaram a quantidade do poluente presente nos tecidos dos peixes e compararam-na com um grupo de controle que não havia sido exposto às microesferas. Os resultados mostraram que até 12,5% dos PBDEs das microesferas tinham sido absorvidos pelo tecido dos peixes.

Agora, os pesquisadores precisam provar que esses poluentes podem chegar ao nosso corpo a partir da ingestão do animal. Além disso, ainda precisam replicar os resultados em mais de uma espécie de peixe.

Considerando os potenciais problemas envolvidos com tais poluentes, os pesquisadores já sugerem a existência dos riscos. A ideia, segundo Clarke, é que esse tipo de produto seja proibido em todo o mundo o mais rápido possível.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Peter Wardrop et al. ]

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