Mais evidências mostram que proteína ligada ao Alzheimer pode ser transmissível

de Rafael Fernandes 0

Um estudo indicou que as proteínas ligadas à doença de Alzheimer podem ser transmitidas por transplantes cirúrgicos, somando-se às provas fornecidas por outra pesquisa que chegou ao mesmo resultado, em setembro de 2015.

Embora ambos os estudos sugiram que estas proteínas chamadas “beta-amiloide” possam ser, de alguma forma, “semeadas” no cérebro de um paciente como resultado de procedimentos médicos, isso não significa necessariamente que os destinatários desenvolverão o Mal de Alzheimer. Ainda não se conhece muito sobre as causas que estimulam a doença.

A acumulação de proteínas beta-amiloides em placas cerebrais, que impedem a função neurológica, é um marcador chave do Mal de Alzheimer, embora isto seja raramente perceptível antes da velhice. Porém, um artigo da Swiss Medical Weekly revelou que essas placas foram encontradas nos cérebros de jovens e adultos com idades entre 28 e 63 anos, que receberam transplantes de dura-máter.

 Dura-máter é a membrana que envolve o cérebro e a medula espinal, é utilizada para ser transplantada sob a forma de enxertos, a fim de reparar as membranas de pacientes submetidos à cirurgia cerebral. Hoje em dia, membranas sintéticas são utilizadas para este propósito.

Os sete indivíduos envolvidos no estudo morreram, todos em resultado de uma doença neurodegenerativa chamada doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD), que é causada por um ladino, forma mal dobrada de uma proteína normal, denominada proteína de príon. Investigações posteriores revelaram que esta proteína foi transferida juntamente com a dura-máter que receberam durante seus transplantes.

Autópsias feitas nos cérebros dos sete, apontaram que cinco deles continham placas beta-amiloide, apesar de todos os sujeitos terem falecido em uma idade muito mais jovem do que normalmente associada ao desenvolvimento destas placas. Isso os levou a propor que os fragmentos destas proteínas podem ter sido transferidos junto com a dura-máter e “semeados” em seus cérebros.

proteinas-beta-amiloide
Foto: Reprodução / Wikipédia

Uma sugestão semelhante foi feita pelos autores de outro estudo recente que analisou os receptores do hormônio do crescimento de falecidos. Transplantes desse hormônio, que é extraído das glândulas pituitárias de doadores falecidos, foram interrompidos em 1985, depois que também foi encontrado risco de transmissão destas proteínas de príon patogênicas.

As necropsias realizadas durante este estudo também revelaram a presença de placas beta-amiloide no cérebro, em pacientes que normalmente seriam considerados muito jovens para tê-las desenvolvido. Não obstante, os investigadores sugeriram que certos compostos que conduzem à formação de placas podem ter sido transplantados juntamente com o hormônio de crescimento humano.

Os resultados de ambos os estudos têm causado um considerável debate, e enquanto estes transplantes representam apenas uma das várias explicações possíveis para a presença de proteínas beta-amiloide, alguns especialistas estão recomendando uma reavaliação dos procedimentos de descontaminação de instrumentos cirúrgicos. Além disso, uma vez que todos os indivíduos morreram antes de exibir quaisquer sintomas associados à doença de Alzheimer, não se sabe se eles teriam desenvolvido esta condição.

Fonte: IFL Science Foto: Reprodução / France Bleu

Jornal Ciência