Diários de bordo de baleeiros ajudam a revelar história do gelo do Ártico

de Bruno Rizzato 0

Baleeiros modernos afirmam que sua caça é feita para fins científicos, não comerciais.

Até agora, eles não parecem estar aprendendo muito com as populações da espécie diminuindo anualmente. No entanto, há algo sobre a caça à baleia que realmente está contribuindo para a ciência: através do estudo do diário de bordo de navios baleeiros do século 19.

Muitos desses navios utilizados nas águas do Ártico mantinham registros detalhados das condições que testemunharam. Os dados coletados estão sendo, atualmente, agrupados para ajudar a comparar as reduções atuais no gelo polar.

Os satélites mostram a enorme perda de gelo do mar do verão do Ártico em detalhes. Antes da implantação dos satélites, navios militares estadunidenses forneciam dados, mas as informações só abarcam algumas décadas. As geleiras em terra deixam um registro mais simples sobre o tempo, mas nem sempre é fácil de analisá-lo. O registro antigo do gelo do mar é ainda mais difícil de ser rastreado.

No entanto, o Dr. Kevin Wood, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) disse em um comunicado: “Navios baleeiros fornecem um recurso rico para nós, a ser utilizado na região norte do estreito de Bering. Em alguns anos, podem existir 40 ou 50 navios trabalhando neste setor do Ártico”.

Os diários de bordo destes navios começam na década de 40 e vão até o início do século 20. “Eles não faziam a medição de temperatura como os navios federais, mas eles falavam sobre o gelo do mar de uma forma muito profunda”, disse Wood. Registros de vários navios na mesma área podem ser usados para confirmar a precisão. Muitos desses diários de bordo foram coletados de museus e bibliotecas em cidades que, antes, eram o porto de navios baleeiros. No entanto, transcrever mais de 500 mil páginas de anotações manuscritas em um banco de dados pesquisável é uma tarefa enorme.

Kevin conta com a assistência de voluntários para a divulgação do portal Old Weather. Qualquer pessoa que queira ajudar com o processo pode visitar o site, escolher uma viagem relatada e examinar versões digitalizadas dos diários de bordo para transcrição. A escrita pode ser difícil de ler, sobretudo levando em conta que o tempo desgastou as páginas, dando-lhes uma outra coloração. No entanto, 3 milhões de registros de clima já foram elaborados a partir destas páginas, e tantos outros ainda estão disponíveis para transcrição.

Não há dúvida de que o gelo ártico era muito mais extenso em relação ao que é hoje. Durante séculos, o gelo era tão formidável que muitos aventureiros que tentavam a sorte à noroeste do Canadá morreram, resultando em muitos navios encalhados no gelo durante anos. A mesma viagem pode ser feita, atualmente, em caiaques. No entanto, descobrir exatamente como eram as formações geladas antes da mudança climática poderia ajudar a estabelecer, não apenas o passado, mas também os rumos do futuro.

[ IFLS ] [ Foto: Reprodução / Americanhistory ]

Jornal Ciência