A comovente história da baleia conhecida por ser a mais solitária do mundo

de Rafael Fernandes 0

Percorrer o mundo numa busca interminável por companhia, chamando constantemente sem nunca obter uma resposta e esperando incessantemente pelo companheiro que jamais virá. Soa muito triste! É por isso que muitas pessoas ao redor do mundo simpatizam com a “52”, a baleia mais solitária do mundo.

A baleia, nomeada devido aos 52 hertz de frequência que emite, pertence a uma espécie desconhecida e não identificada. O som que ela propaga fica um pouco acima da nota mais baixa tocável em uma tuba. Entretanto, nenhuma outra baleia no mundo reconhece ou emite este som. Por isso ela perambula pelo maior Oceano do mundo, ano após ano, clamando desesperadamente por um parceiro ou amigo que jamais conhecerá.

Curiosamente, a 52 nunca foi realmente vista, apenas sua frequência foi captada por detectores de sonar da marinha, mas nunca acompanhada por uma segunda frequência, de outro da espécie.

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Este fenômeno é tão intrigante que os cientistas têm se empenhado em monitorar a frequência desde que foi detectada pela primeira vez por William Watkins da Woods Hole Oceanographic Institution, em 1989. Ele ironicamente estudava as chamadas de acasalamento de baleias no Pacífico Norte quando, de súbito, se deparou com a 52.

Desde então, o sofisticado hidrofone de bilhões de dólares da Marinha Americana, projetado para rastrear submarinos soviéticos nucleares durante a Guerra Fria, registrou os fluxos migratórios todos os anos, conforme ela se move do centro da Califórnia para as Ilhas Aleutas, no norte do Pacífico. A 52 viajou sozinha, e de acordo com um relatório Deep Sea Journal, sua migração “não tem relação com a presença ou movimento de outras espécies de baleias.”

Especialistas descobriram que a o sonar emitido pela 52, embora grave para os seres humanos, é muito agudo em relação à chamada normal da baleia azul gigante, ou de quaisquer outras espécies de baleia. Alguns acreditam que isso ocorre por causa de uma provável deformidade física. Já outros, pensam que poderia ser um híbrido de uma baleia azul com outra espécie.

Mary Ann Daher, uma bióloga marinha que passou anos escutando os chamados das baleias, coautora da pesquisa original sobre a descoberta da 52. À medida que a história veio a público, mais e mais pessoas começaram a simpatizar com situação desesperadora da baleia, até mesmo escreveram a Daher para expressar sua solidariedade.

Em busca da baleia mais solitária do mundo.
Em busca da baleia mais solitária do mundo.

“É muito triste tantas pessoas se identificarem com esta baleia”, disse ela em uma entrevista em 2013. “Recebo cartas, e-mails e poemas (principalmente de mulheres). É doloroso de ler algumas coisas. Identificam-se com este animal que não parece se encaixar em qualquer lugar, não faz amigos facilmente, se sente sozinho e se sente diferente de todo mundo.”

“Para algumas pessoas, ela é muito solitária”, disse o cineasta Josh Zeman, que está determinado a conhecer 52 um dia. “Para outros, ela está comemorando sua solidão. Ela é uma mensagem inspiradora justamente porque continua a chamar, não importa o quê.”

Já Daher diz que o viés romântico dado à 52 é inteiramente uma construção humana “Não há nenhuma maneira dos cientistas saberem realmente o que está se passando na mente de uma baleia. Nós não sabemos se ela é solitária”, disse ela. “Os supostos anseios emocionais da 52 Hertz podem dizer muito mais sobre os seres humanos que ouvem sua história do que sobre a própria 52.”

Mas a pesquisa também mostra que as baleias são criaturas sociais, e alguns chamados podem viajar 3.000 milhas através do Oceano com o único propósito de comunicação. “Ser só ou chamar sem nunca ser ouvido é um dos nossos maiores medos como seres humanos”, disse ele. “Somo seres completamente sociais e as baleias também o são. Elas têm células fusiformes, que lhes permitem amor, ódio, participar de certos círculos (sociais). Imaginem que pode ser um ser vivo sozinho lá fora, capaz de sentir amor, aceitação e até mesmo dor e tristeza de uma maneira que sequer consegue compreender? “

No ano passado, Josh Zeman uniu-se com Adrian Grenier, estrela de Entourage, para uma campanha de rápida arrecadação para uma expedição de 20 dias para encontrar a 52. Suas estimativas foram de reunir 300 mil dólares. Porém, a tocante história da baleia mais solitária do mundo ultrapassou essa meta por mais de cem mil dólares. Se eles quiserem encontrar a 52, serão capazes de marcá-la com equipamentos de detecção de áudio, permitindo aos cientistas estudar a baleia em detalhes.

Fonte: The New York Times / CNN / The Express Foto: Reprodução / Woods Hole Oceanographic Institution

Jornal Ciência