O Sol se pôs no Polo Norte há mais de um mês e não nascerá novamente até o início da próxima primavera na região.
De modo geral, isso faz com que o gelo do mar se espalhe através do oceano Ártico. No entanto, algo estranho começou a ocorrer em meados de outubro. Ao invés de aumentar, o crescimento do gelo acabou diminuindo e, surpreendentemente, também começou a encolher. A ação ocorreu proveniente do calor intenso presente no ar e nos oceanos, causada pelo aquecimento global, que conduziu uma pequena fusão no momento em que o gelo marinho deveria estar aumentando, de acordo com informações da Live Science.
Mesmo para uma época em que as mudanças climáticas estão causando cada vez mais efeitos negativos, a redução foi considerada anormal. “Nunca vi nada assim no último ano e meio”, disse Mark Serreze, diretor do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo (NSIDC), dos EUA.
A última reviravolta envolvendo o gelo do mar ártico começou em meados de outubro passado, quando as temperaturas permaneceram estáveis durante setembro, pausando o crescimento do gelo no mar. No final do mês, o Ártico já tinha perdido uma porção de gelo do tamanho da região leste dos EUA.
O evento continuou até novembro, quando uma área experimentou temperaturas de até 2,2 graus Celsius acima do normal, o que causou ainda mais retração do crescimento glacial. Em outras palavras, o Ártico estava tão quente que, apesar da falta de luz solar, o gelo do mar simplesmente desapareceu.
Segundo Jennifer Francis, cientista climática da Rutgers University, “as temperaturas ridiculamente quentes da região, durante outubro e novembro deste ano, estão fora dos gráficos de 68 anos de medições”. Basicamente, o que compõe o ar quente é água quente. Uma vez que ela está em pleno contato com a superfície do mar, e bordas de gelo, este é impedido de crescer.
Ainda, há de se considerar que o gelo marinho do Ártico tem alguns problemas. Enquanto que o gelo velho quase desapareceu desde que a manutenção dos registros começou na década de 1980, a maioria do bloco de gelo mais jovem tende a ser quebradiça e propensa a rompimento quando o calor extremo ocorre.
Parte deste calor veio dos trópicos, onde os padrões de convecção criaram uma série de depressões e cumes na atmosfera. O padrão estabelecido em outubro colocou a borda leste de uma dessas depressões sobre o nordeste da Ásia, de acordo com o cientista atmosférico, Paul Roundy, da Universidade de Albany. “O resultado tem sido uma superfície baixa forte que tem afunilado o ar quente através do Estreito de Bering”, explicou. “Uma baixa similar criada no trem de ondas sobre o Atlântico Norte proporcionou um outro caminho para o calor no Ártico”.
O calor em questão teve suas raízes neste verão, quando o mar aberto escuro absorveu a energia do Sol (comparado ao gelo do mar branco, que reflete de volta ao espaço). Isso, de acordo com os pesquisadores, não só retardou o processo de congelamento, como também aqueceu e umedeceu o ar. Essa umidade extra é relevante porque o vapor de água e gases do efeito estufa tendem a criar mais nuvens, e ambos ajudam a capturar calor próximo à superfície. Tal golpe duplo foi responsável pelo aquecimento e colapso atual.
Provavelmente, se a emissão de carbono continuar no ritmo atual, o Ártico, que já está aquecendo duas vezes mais rápido do que o restante do planeta, poderá experimentar verões livres de gelo ainda em 2030.
Para pesquisas futuras, os cientistas afirmaram que deverão focar em como o sistema Ártico, que já está mudando, responde a esses tipos de choques. “Uma maneira valiosa de analisar o sistema agora é vendo como ele responde a esses extremos. Será que esse impacto mudou agora que o Ártico está diferente?”, disseram.
[ Live Science ] [ Foto: Divulgação / NASA ]