Quando você entra em um carro novo, o cheiro é quase inebriante. Ele é capaz de nos remeter a coisas como dinheiro e objetos brilhantes. Mas este é um cheiro curioso certo? Porque diferente do aroma de bolos saindo de forno, eucalipto, lavanda ou qualquer outra coisa identificada como agradável, o cheiro do carro não deveria ser aprazível.

De acordo com Janis Ambrose Shard, gerente na Toyota, a resposta para este mistério está nas reações do tipo “estímulo e reação”, semelhante às apresentadas no famoso experimento do cachorro, feito por Pavlov. Basicamente, nós gostamos do cheiro porque gostamos do carro. Por esse motivo, as montadoras costumam abusar do odor para incentivar a compra. “Em outras palavras, sem a relação com o carro novo, o cheiro seria apenas, você sabe, cheiro”, disse ela.

No entanto, de acordo com Shard o cheiro é composto por uma combinação de vários tipos de substâncias químicas usadas na fabricação do veículo, o que inclui solventes, plásticos, colas, tecidos e borracha. Porém, muitas dela são altamente intoxicantes, porque contêm compostos orgânicos voláteis (COVs) em sua composição, que podem ser letais dependendo da quantidade. Logo, desde a espuma do assento até o plástico do painel e portas, os COVs estão presentes exalando todo aquele cheiro.

Além de nocivos para nossa saúde, os COVs ainda são poluentes atmosféricos. Eles estão em toda a parte, em milhares de produtos domésticos, tintas, ceras, solventes e são normalmente encontrados em baixas concentrações em ambientes fechados. No carro, por exemplo, os solventes à base de petróleo em plástico e vinil são os culpados. Eles acabam escapando e impregnando o ar porque não requerem altas temperaturas para evaporarem. Mas, quando o veículo fica exposto ao sol, o problema é ainda pior, pois o calor acelera as reações químicas.

A boa notícia, no entanto, é que as montadoras estão tentando cortar o característico cheiro. A Toyota, por exemplo, começou a utilizar alternativas à base de água ao invés das convencionais colas à base de solventes, de acordo com Shard. A Ford, por sua vez, tem experimentando a ideia de trocar as espumas feitas à base de petróleo por versões feitas a partir da soja.

Os materiais naturais, por outro lado, têm seu próprio conjunto de desafios. A Ford teve de realizar uma série de testes para verificar se a nova espuma não oferecia riscos ao organismo do consumidor. E como esse tipo de material retém grandes quantidades de umidade, ele poderia se deteriorar mais rapidamente em regiões mais quentes e úmidas, segundo Shard.

O fato é que, em breve, você não será mais capaz de sentir o “cheiro de carro novo” ao entrar em um veículo. Agora, se você é sensível ao odor, especialistas sugerem que, se não for o caso de comprar um veículo usado, é recomendável manter o interior do automóvel ventilado, pelo menos nos seis primeiros meses, e limpá-lo com uma toalha de microfibra e detergente não tóxico, porque as substâncias químicas tendem a permanecer na poeira.

[ Gizmodo ] [ Foto: Reprodução / Flickr

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