Como os seres humanos devem “dividir” Marte?

de Merelyn Cerqueira 0

A política que envolve o uso e divisões de terras é uma das áreas mais “polêmicas da lei” – haja em vista os constantes pedidos de reforma agrária, discussões que envolvem construções de áreas públicas, como uma praça, dentro de regiões urbanas e até mesmo as emoções que um pedaço de ciclovia pode gerar nos cidadãos.

Neste quesito, nós, terráqueos, desenvolvemos sentimentos muito fortes sobre o que é disposto ao nosso lado. Agora, imagine o que acontecerá quando um pequeno grupo de pessoas levar essas mesmas preocupações para Marte.

Conforme reportado pelo Atlas Obscura, especialistas já estão trabalhando em explorar o uso de terras em outros planetas.

“No grande esquema das coisas, com a crescente exploração comercial do Espaço, não é prematuro pensar sobre essas questões”, disse Charles Cockell, professor de Astrobiologia na Universidade de Edimburgo, no Reino Unido.

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Ao que se sabe, já existem reivindicações anteriores para as terras de Marte. Em 1956, por exemplo, a Japan Astronautical Society se organizou para promover o interesse do país em viagens espaciais, eram oferecidos 80 acres de terra como parte de um pacote de adesão.

Já na década de 1980, um empresário norte-americano, chamado Dennis Hope, declarou possuir Marte e a Lua, e hoje, é possível ver pedaços desses terrenos nos sites: moonestates.com ou buymars.com. Mas nenhuma parte do Espaço pode ter soberania reivindicada, e isso inclui Marte.

Durante os últimos 49 anos, os seres humanos têm explorado o Espaço através de acordos internacionais firmados aqui Terra, como o Tratado do Espaço Exterior, ratificado em 1967 por 102 países e assinado por 26 deles. Nele é firmado que o espaço é “província de toda a humanidade” e deve ser usado “para o benefício e interesse de todos os países”.

Contudo, com empresas comerciais e até mesmo agências espaciais prometendo que as viagens a Marte serão realizadas nos próximos dois anos ou nas próximas décadas, esse acordo está prestes a ser desafiado.

Isso quase aconteceu quando os EUA aprovaram uma lei espacial que poderia violar esse tratado. A lei em questão permite aos cidadãos norte-americanos o uso de qualquer recurso obtido no espaço.

E é justamente essa parte que envolve a violação, embora a nova lei insista que isso é muito diferente do que afirmar a soberania sobre um corpo celeste, o que é explicitamente proibido.

Até o momento, ninguém sabe realmente quais os pontos principais de Marte, seja para exploração, sobrevivência ou investigações científicas.

Dessa forma, os exploradores espaciais estariam, essencialmente, na mesma posição que os colonizadores quando viajam para as Américas: eles sabiam que existiam algo de valioso (como o ouro) mas não sabiam exatamente onde encontrar.

Logo, colocando essa nova lei em pauta, os exploradores poderiam reivindicar seus achados para seu país ou empresa, a fim de garantir qualquer benefício comercial.

Há alguns anos atrás, Haqq-Misra, da Blue Marble Space Institute, propôs uma solução simples, semelhante à essa dos colonizadores, para determinar o uso da terra em Marte: levar as pessoas para lá e deixar que elas se resolvam sozinhas, sem interferência da Terra.

“Os ‘colonos’ renunciariam ao seu estado anterior de terráqueos e abraçariam uma nova cidadania planetária como marcianos”, disse.

Já para Cockell, há uma sugestão mais libertária, em que grandes pedaços da superfície do planeta seriam designados como parques planetários. Esses locais seriam de interesse científico, beleza natural e significado histórico, e só poderiam ser acessados através de rotas pré-programadas.

Em outra proposta, o professor David Caollins da City University, em Londres, sugeriu um “modelo limitado de primeira posse”. Logo, se você pousar em Marte, estará autorizado ao controle e uso de terra dentro de um determinado raio de 100 km.

Contudo, considerando que os terráqueos costumam dividir os direitos à terra entre os de superfície e os de subsolo, os marcianos poderiam precisar de ideias completamente diferentes. Isso porque, ainda há a questão do solo tóxico e as grandes quantidades de radiação.

Fonte: Atlas Obscura Fotos: Reprodução / Atlas Obscura

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