Astronautas em Marte podem ter danos cerebrais e demência crônica

de Merelyn Cerqueira 0

Atualmente, as missões tripuladas para Marte estão em pauta. Há tempos que não estivemos tão preocupados com o desenvolvimento de métodos para transportar seres humanos através do Sistema Solar.

No entanto, podemos estar deixando de lado um problema realmente sério, e que envolve a saúde dos futuros astronautas, de acordo com informações da Science Alert. Será que estaremos enviando pessoas ao Planeta Vermelho para que elas tenham seus cérebros prejudicados?

De acordo com um estudo publicado na revista Scientific Reports, é possível. Em um experimento realizado com camundongos, pesquisadores descobriram que a quantidade de raios cósmicos que provavelmente irão atingir os astronautas durante uma viagem prolongada – de cerca de 225 milhões de km – pode levar a efeitos cognitivos graves, que estarão presentes no organismo dessas pessoas por muito tempo depois. As consequências incluem perda de memória, ansiedade e demência crônica.

O estudo em questão segue uma pesquisa similar publicada no ano passado que mencionava que os danos causados pelos raios cósmicos galácticos (RCG) – partículas com radiação de alta energia que viajam pelo espaço a uma velocidade próxima à da luz – poderiam incluir o cérebro. Agora, no entanto, os pesquisadores possuem evidências de que, mesmo seis meses depois de um voo espacial prolongado, os astronautas poderiam correr o risco de níveis significativos de inflamação no cérebro e danos nos neurônios.

De acordo com um dos pesquisadores membro da equipe, Charles Limoli, um professor de radiação oncológica na Universidade da Califórnia, a notícia não é boa para os interessados a uma viagem de dois a três anos para Marte. “A exposição a estas partículas pode levar a uma gama de potenciais complicações do sistema nervoso central que podem ocorrer e persistir por muito tempo após a viagem espacial – tais como vários decréscimos de desempenho, déficits de memória, ansiedade, depressão e sistema de tomada de decisões prejudicado” disse.

Colocando em perspectiva, os RCGs são tão problemáticos em relação a uma viagem espacial que podem até mesmo penetrar facilmente o casco de uma nave. Logo, podemos ter uma ideia sobre o que são capazes de fazer com o cérebro de uma pessoa. Vale lembrar, que os astronautas que se encontram atualmente na Estação Espacial Internacional (ISS) estão protegidos contra este tipo de dano, porque ainda estão próximos à magnetosfera da Terra.

Os efeitos da radiação foram testados pela equipe em ratos expostos a doses baixas de RCG, em um laboratório da NASA em Nova York. Eles então foram conduzidos a realizar uma série de tarefas comportamentais durante um período de 12 a 24 semanas após a exposição. Os cientistas descobriram que os ratos progressivamente decaíram em desempenho em tarefas destinadas a testar o aprendizado e memória em seres humanos. Além disso, ocorreu o que foi relatado como uma certa “extinção do medo” nos animais, relacionado a um declínio nas respostas de medo condicionado, causada pela supressão do cérebro a associações ou memórias negativas e estressantes. Tal fato levou a um aumento da ansiedade.

Assim como os resultados apresentados no estudo do ano passado, os ratos apresentaram tempo de resposta mais lento, falta de memória e até mesmo períodos de confusão, o que sugere progressão da demência crônica. Ainda, em exames de varredura realizados meses depois da exposição, os roedores apresentaram níveis significativos de inflamação no cérebro e danos aos neurônios.

Um fato preocupante é que os pesquisadores acreditam que, nos seres humanos, esses sinais não serão tão óbvios até a marca de seis meses após a viagem, o que seria devastador para as perspectivas atuais de colonização. No entanto, é relevante dizer que, até o momento, os efeitos só foram observados em ratos e que não há garantias de que eles serão replicados em seres humanos.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

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