4 perguntas e respostas sobre a vacina Janssen, da Johnson & Johnson, contra a Covid-19

Virologista dá detalhes e explica dúvidas sobre a vacina da Janssen, aprovada nos EUA para uso emergencial, mostrando suas diferenças com outras vacinas atualmente utilizadas.

de Redação Jornal Ciência 0

Neste último sábado (27), o governo americano autorizou o uso emergencial da vacina Janssen, da Johnson & Johnson, para a população com 18 anos ou mais. Até o final de junho, 100 milhões de doses devem ser enviadas ao país. O Brasil ainda não realizou acordos para a compra do imunizante.

Abaixo, Maureen Ferran, virologista do Instituto de Tecnologia Rochester, dos Estados Unidos, explica como essa vacina funciona e quais são as diferenças entre ela e outras opções que estão sendo aplicadas atualmente.

1. Como a vacina da Johnson & Johnson funciona?

A vacina da Johnson & Johnson é chamada de vacina de vetor viral. Para criá-la, a equipe da Johnson & Johnson pegou um adenovírus inofensivo – o vetor viral – e substituiu um pequeno pedaço de suas instruções genéticas por genes de coronavírus para a proteína spike do Sars-CoV-2.

Quando esse adenovírus modificado é injetado no braço de alguém, ele entra nas células da pessoa. As células, então, leem as instruções genéticas necessárias para fazer a proteína spike e as células vacinadas produzirem e apresentarem a proteína spike em suas próprias superfícies.

Daí, o sistema imunológico da pessoa identifica essas proteínas estranhas e produz anticorpos contra elas que também irão proteger o indivíduo caso ele seja exposto ao Sars-CoV-2 no futuro.

A vacina de vetor de adenovírus é segura porque o adenovírus não pode se replicar em células humanas ou causar doenças, e a proteína spike Sars-CoV-2 não pode causar Covid-19 sem o resto do coronavírus.

Essa abordagem não é nova. A Johnson & Johnson usou um método semelhante para fazer sua vacina contra Ebola. Além disso, a vacina AstraZeneca-Oxford contra a Covid-19 também é de vetor viral de adenovírus.

2. Qual é a eficácia?

A análise da Food and Drug Administration (FDA), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, descobriu que, nos EUA, a vacina Johnson & Johnson Covid-19 foi 72% eficaz na prevenção de Covid-19 e foi 86% eficaz na prevenção de casos graves da doença. Embora ainda haja uma chance de uma pessoa vacinada ficar doente, isso sugere que ela teria uma probabilidade muito menor de precisar de hospitalização ou de falecer por causa da Covid-19.

Um teste semelhante feito na África do Sul, onde uma nova variante mais contagiosa do coronavírus é dominante, teve resultados semelhantes. Os pesquisadores descobriram que a vacina da Johnson & Johnson é ligeiramente menos eficaz na prevenção de casos de Covid-19 – 64% no geral –, mas ainda foi 82% eficaz na prevenção de casos graves. O relatório da FDA também indica que a vacina protege contra outras variantes da Grã-Bretanha e do Brasil.

3. Quão diferente ela é de outras vacinas?

A diferença mais básica é que a vacina Johnson & Johnson é uma vacina de vetor de adenovírus, enquanto as vacinas Moderna e Pfizer são de mRNA. Estas vacinas de RNA mensageiro usam instruções genéticas do coronavírus para fazer as células de uma pessoa produzirem a proteína spike, mas não usam outro vírus como vetor. Também existem muitas diferenças práticas.

Essas duas vacinas baseadas em mRNA (Moderna e Pfizer) requerem duas injeções. Já a vacina Johnson & Johnson requer apenas uma única dose. Isso é fundamental quando as doses são escassas.

A vacina Johnson & Johnson também pode ser armazenada em temperaturas muito maiores do que as vacinas de mRNA. Estas devem ser transportadas e armazenadas em temperaturas abaixo de 0°C e requerem uma complicada cadeia de frio para distribuí-las com segurança. A vacina Johnson & Johnson pode ser armazenada por pelo menos três meses em uma geladeira comum, o que torna o seu uso e a sua distribuição muito mais fáceis.

Quanto à eficácia, é difícil fazer comparações diretas da vacina da Johnson & Johnson com as vacinas de mRNA devido às diferenças nos ensaios clínicos que foram conduzidos com elas. Embora seja relatado que as vacinas Moderna e Pfizer são aproximadamente 95% eficazes na prevenção do adoecimento por Covid-19, os testes foram feitos durante o verão e o outono de 2020 no Hemisfério Norte, antes que novas variantes contagiosas circulassem amplamente.

Assim, as vacinas Moderna e Pfizer podem não ser tão eficazes contra as novas variantes, enquanto os testes da Johnson & Johnson foram feitos mais recentemente e levam em consideração a eficácia da vacina contra essas novas variantes.

4. Devo escolher uma vacina em vez de outra?

Embora a eficácia geral das vacinas Moderna e Pfizer seja maior do que a vacina da Johnson & Johnson, você não deve esperar até ter sua própria escolha de vacina – e de qualquer forma, isso é algo que provavelmente ainda vai demorar para acontecer. A vacina da Johnson & Johnson é quase tão boa quanto as vacinas baseadas em mRNA na prevenção de quadros graves, e isso é o que realmente importa.

A vacina Johnson & Johnson e outras vacinas de vetores virais, como a da AstraZeneca, são particularmente importantes para o esforço global de vacinação. Do ponto de vista de saúde pública, é importante ter várias vacinas contra a Covid-19, e a da Johnson & Johnson é uma adição muito bem-vinda ao arsenal de imunizantes. Ela não requer freezer, o que facilita muito o transporte e o armazenamento. E é uma vacina de dose única, o que torna a logística muito mais fácil em comparação com a organização de duas doses por pessoa.

O maior número de pessoas precisa ser vacinado o mais rápido possível para limitar o desenvolvimento de novas variantes do coronavírus. A Johnson & Johnson deve transportar quase 4 milhões de doses aos Estados Unidos após receber autorização do FDA de uso de emergencial. Mais 20 milhões de doses chegarão até o final de março.

Fonte(s): The Conversation / Maureeb Ferran Imagens: Reprodução / Siraj Ahmad / Shutterstock

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