Segundo especialistas, cérebro feminino é menor que o masculino. Entenda o que isso significa!

de Merelyn Cerqueira 0

A maioria das pessoas estão convencidas de que homens e mulheres possuem uma maneira extremamente diferente de pensar e agir. No entanto, de acordo com o professor e especialista David Dexter, que dirige o Parkinson’s UK Tissue Bank, uma instituição dedicada a coleta de cérebros para o estudo da doença de Parkinson, localizado de Londres, há uma certa diferença entre o cérebro de ambos.

Em entrevista ao jornal inglês Daily Mail, o especialista revelou que os cérebros femininos geralmente são menores. No entanto, ele ressalta que isso particularmente não envolve inteligência. “Eles são mais compactos e organizados”, brincou.

Convencionalmente, desde a infância as crianças são ensinadas a brincar com objetos produzidos para seus respectivos gêneros. As meninas tendem a escolher bonecas e os meninos carrinhos, por exemplo. No entanto, de acordo com Dexter, essas preferências são meramente ditadas pelas diferenças dos cérebros.

No início deste mês, alguns cientistas criticaram o Museu de Ciências de Londres por causa de uma exposição realizada que envolvia testes para identificar qual modelo de cérebro era feminino ou masculino. A brincadeira envolvia lógica e percepção sensorial, e as respostas eram sinalizadas por seções identificas pelas cores azul ou rosa.

O teste afirmava que os homens poderiam ver as coisas melhores quando em três dimensões e eram mais capazes de imaginar sua rotação, enquanto que os cérebros femininos possuíam melhor memória visual e maior capacidade de distinguir detalhes.

No entanto, de acordo com Dr. Joseph Devlin, chefe de psicologia experimental da University College London, a exposição do museu veio como surpresa e rendeu severas críticas. “Alegar que existem cérebros femininos e masculinos é uma atitude hipócrita e grosseira, que simplifica um tema especialmente complexo”.

O museu reconheceu que algumas das pesquisas utilizadas na exposição tinham mais do que uma década de idade, e que estava planejando uma atualização para os próximos meses. No entanto, a dúvida que fica é, será que realmente há uma distinção entre os cérebros?

O tamanho importa?

Ao longo dos últimos dois séculos, muitos cientistas discutiram sobre o caso de o cérebro masculino ser realmente maior e se isso representava alguma coisa. No entanto, pesquisas mais recentes que confirmaram que os cérebros dos homens de fato são 10% maiores não encontraram uma relação direta entre tamanho e inteligência.

Um estudo de outubro de 2015, por exemplo, disse não ter encontrado relações significativas entre tamanho do órgão e desempenho em testes de QI. Na verdade, a qualidade das conexões entre as células cerebrais é o fator mais importante quando o assunto é inteligência, de acordo com o psicólogo Dr. Jakob Pietschnig, da Universidade de Viena. “Estrutura e integridade cerebral parecem ser mais importantes como um fundamento biológico de QI”.

Azul, rosa ou cinza?

Ao contrário da ideia do museu de que um cérebro é completamente feminino ou masculino, especialistas argumentam que nossas cabeças possuem um “mosaico” de regiões “rosas e azuis”. Em novembro do ano passado, uma equipe de cientistas liderada pela professora Daphna Joel, uma neurocientista comportamental da Universidade de Tel Aviv, estudou uma série de tomografias de mais de 1.400 pessoas. Eles mediram a massa cinzenta (também chamada de “matéria de pensamento”) e a matéria branca (fibras nervosas que transmitem sinais) em 116 partes do cérebro para descobrir quais áreas apresentavam maior diferença entre os sexos. Estas regiões foram classificadas como mais caracteristicamente femininas, masculinas ou meio a meio.

Eles então reportaram, em uma publicação da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, que cerca de 5% dos cérebros estudados eram consistentemente de um único sexo. A maioria, no entanto, possuía uma mistura de funções que variam amplamente entre as pessoas.

A equipe encontrou algumas diferenças estruturais entre homens e mulheres. Por exemplo, o hipocampo esquerdo, uma área associada a memória, geralmente era maior nos homens. Ainda, houve uma sobreposição significativa. Algumas mulheres tinham hipocampo maior ou mais masculinos, enquanto alguns homens apresentaram a mesma região muito menor que a média das mulheres. Logo, a especialista concluiu que “os cérebros humanos não pertencem a nenhuma das duas categorias distintas”.

Funcionalmente diferentes

Outros cientistas, porém, discordam veementemente. Para o psicólogo britânico, Dr. Adam Chekroud, da Universidade de Yale, os resultados de Joel foram obtidos a partir de análises de computador. Chekroud alegou que poderia prever com 95% de precisão quais cérebros eram de homens ou mulheres.

Joel, no entanto, disse ter incluído medidas em suas análises, e desceu para 65% a precisão de previsão alegada pelo cientista britânico – o que não é muito melhor do que adivinhação.

Marek Glazerman, presidente da Sociedade Internacional de Medicina de Gênero, é outro crítico ao trabalho de Joel. Segundo ele, “funcionalmente, os cérebros masculinos e femininos são realmente diferentes. Nenhum melhor ou pior, tampouco mais ou menos sofisticado, apenas diferentes”. Ele disse ainda que até mesmo as células em nosso cérebro são diferenciadas por gênero porque elas possuem cromossomos distintos (estruturas que contém nosso DNA). “A maioria das diferenças funcionais dos nossos sistemas corporais são controladas pelos nossos cérebros funcionalmente diferentes, então existem sim cérebros femininos e masculinos”.

Hormônios

Se homens e mulheres têm estruturas cerebrais diferentes, então certamente já devemos ter nascido com elas, certo? Não. De acordo com uma pesquisa recentemente realizada, cientistas estudaram pessoas que foram submetidas a mudanças sexuais, e concluíram que os cérebros delas são dependentes das características hormonais a que são expostas. Por exemplo, quando psicólogos espanhóis analisaram o cérebro de 15 mulheres e 14 homens submetidos a terapias hormonais para mudança de gênero, descobriram que a testosterona e o estrogênio tiveram efeitos opostos na estrutura cerebral.

Nas mulheres que estavam recebendo testosterona, a espessura do córtex cerebral, responsável pela inteligência, linguagem e memória, tendia a aumentar. Enquanto que os homens que recebiam estrogênio, o córtex se tornava mais fino.

A relação entre espessura do córtex e inteligência ainda não é completamente compreendida pela Ciência. No entanto, homens e mulheres possuem níveis muito diferentes de testosterona e estrogênio. Esses níveis hormonais diminuem significativamente durante a vida, da mesma forma que os córtices também perdem espessura com o tempo. Logo, ambos os cérebros estão fadados ao mesmo processo durante o envelhecimento.

Cérebros moldados a partir de hormônios, genes e experiências

Considerando que o cérebro de homens e mulheres são parecidos, como podemos apresentar diferentes aspectos de personalidade? Para o especialista britânico Simon Baron-Cohen, professor de psicopatologia do desenvolvimento na Universidade de Cambridge, isso não acontece. “Não existe tal coisa como um cérebro masculino ou feminino em termos cognitivos. Em alguns testes, os homens podem se sobressair, enquanto as mulheres também o fazem em outros, mas há sempre sobreposições. Não se pode definir nada sobre que tipo de mente ou cérebro uma pessoa vai ter a partir de seu gênero, uma vez que um indivíduo pode ser típico ou atípico para seu sexo”, explicou.

Ao invés de sugerir cérebros estampados como “masculino” ou “feminino”, ele acredita que os órgãos sejam moldados a partir de reações extremamente complexas entre genes e hormônios sexuais que herdamos ou desenvolvemos a partir de experiências. “Instituições como o Museu de Ciência de Londres, tem o dever de explicar esta Ciência de uma forma sutil e cautelosa”, disse Baron-Cohen.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Fit Brains ]

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