O que acontecerá com as pessoas que morrerem em Marte?

de Merelyn Cerqueira 0

É plausível que pessoas vivas aqui na Terra amanhã sejam as primeiras mortas em Marte. E, se os planos de Elon Musk e sua empresa SpaceX realmente foram concretizados, uma vez que os futuros colonizadores do planeta chegarem lá, espera-se que alguns deles permaneçam ali para sempre.

Basicamente, a ideia de Musk envolve levar até um milhão de pessoas para colonizar Marte, a começar em 2024 ou 2026. Apesar de soar ambicioso e arriscado, ele planeja investir seu próprio dinheiro para que dê certo. No entanto, alertou aos potenciais interessados que estarão correndo risco de morte, já que o primeiro voo está programado para não voltar à Terra tão cedo.

Até o momento apenas três pessoas morreram no espaço, mais especificamente cosmonautas da missão Soyuz 11. No momento em que a cápsula de retorno adentrava a atmosfera da Terra, ela sofreu uma despressurização a pouco mais de 167 quilômetros acima do nível do mar. No entanto, nenhum corpo até hoje foi enterrado, cremado ou deixado em outro planeta. 

morrer-em-marte_02

Então, o que aconteceria com o corpo de uma pessoa que morresse em Marte?

Diferente do que ocorre na Terra, em que a decomposição começa logo após a morte, em razão dos microrganismos presentes em todo lugar, se deixado literalmente sobre a superfície marciana, um corpo humano poderia durar por muito tempo, pois, até onde sabemos, Marte não possui vida.

Considerando que as bactérias presentes no corpo, mesmo fora da Terra, ainda fizessem seu trabalho, e se um corpo fosse abandonado além da região equatorial marciana, onde as temperaturas são mais quentes durante o dia, o processo de decomposição poderia começar em poucas horas. No entanto, sem uma atmosfera de isolamento, o planeta esfria rapidamente conforme anoitece. Por isso, até mesmo as mais amenas noites marcianas são mais frias do que as polares da Terra. Logo, o corpo seria congelado e todo o trabalho das bactérias interrompido, iniciando um processo lento e seco de mumificação.

Indo além dessa preservação fornecida pelo frio, há ainda a radiação ionizante, que banha Marte em níveis nunca vistos na Terra, e tal ação destruiria todos os compostos orgânicos. E este fato é uma das explicações mais plausíveis pela falta de vida no Planeta Vermelho, já que os altos níveis de radiação poderiam destruiriam qualquer traço de vida em formação. Agora, considerando a benevolência dos colonizadores, eles certamente enterrariam o corpo do falecido. Um corpo enterrado no solo de Marte seria melhor preservado do que se deixado na superfície, porque, mesmo no frio e seco, ele ainda seria protegido da radiação.

Cremação ou decomposição

Para se desfazer de um corpo, as opções seriam cremação ou decomposição deliberada. O fogo exigiria dois recursos que as missões para Marte, como a Mars One, já estão considerando fabricar ou extrair dali: oxigênio e combustível. A outra opção, menos convencional, basicamente envolve a compostagem dos corpos. Porém, de acordo com bioeticistas espaciais, essa opção parece improvável: mesmo aqui na Terra, quando sociedades precisam desesperadamente de fertilizantes, elas se recusam a utilizar corpos humanos.

Há de se considerar que qualquer colônia semipermanente em Marte se beneficiaria de um sistema de compostagem, já que evitaria o desperdício de alimentos pela reciclagem em novas plantas. Assim, é possível que, se esse tabu sobre a morte fosse superado, a compostagem ativa de um corpo não seria algo tão diferente do que enterrá-lo normalmente no chão. 

Além do pouco que se sabe sobre a missão Mars One, as outras não foram mais claras sobre os planos relacionados à morte no planeta. Presumivelmente, eles usariam uma abordagem semelhante ao plano de contingência para os astronautas, em que uma equipe inteira trabalha com questões básicas: o que fazer com o cadáver e o cheiro, quanto tempo demorará para o corpo se decompor, como a família deverá ser notificada e como a equipe de Relações Públicas (em relação ao gerenciamento de crise) deverá se manifestar.

Agora, para saber exatamente o que irá acontecer, temos que experimentar o cenário. Porém, planejar o que ocorrerá após o evento é sempre aconselhável, de acordo com informações de Sarah Laskoy para o Atlas Obscura.

[ Atlas Obscura ] [ Fotos: Reprodução / Atlas Obscura ] 

Jornal Ciência