Especialistas advertem que supervulcão na Itália poderia estar mais próximo de uma erupção do que pensávamos

de Merelyn Cerqueira 0

Há quase 500 anos, o supervulcão Campi Flegrei (Campos Flégreos), localizado na região italiana de Campania, província de Nápoles, entrou em erupção, expelindo com força rochas derretidas e densas nuvens de fumaça para a atmosfera por cerca de oito dias seguidos.

Agora, pesquisadores estão alertando que este vasto e ardente caldeirão de lava, responsável por uma das maiores erupções do planeta, poderia estar pronto para explodir novamente, uma vez que sua pressão tem aumentado consideravelmente nos últimos 67 anos. Com informações da Science Alert.

“Estudando como o terreno está se rachando e movendo-se em Campi Flegrei, pensamos que ele está se aproximando uma de uma nova fase crítica, em que a agitação adicional aumentará a possibilidade de uma erupção”, explicou Christopher Kilburn da University College de Londres. “É imperativo que as autoridades estejam preparadas para isso”.

Um supervulcão é essencialmente um vulcão comum superdimensionado. Em outras palavras, é um vulcão gigante que foi achatado no chão, deixando extensos campos de atividade vulcânica – como o que podemos ver em Yellowstone. 

Eles se formam quando um vulcão comum ejeta grandes quantidades de magma de seu centro, desmoronando dentro de si mesmo e deixando para trás uma vasta cratera de gêiseres – aberturas de vapor repletas de ácido sulfúrico.

Campi Flegrei cobre uma área de 100 quilômetros quadrados ao oeste de Nápoles, com uma enorme caldeira de 12 km de largura em seu centro. Ele possui um total de 24 crateras e grandes estruturas vulcânicas, a maior parte delas, escondida sob o Mar Mediterrâneo.

Nos últimos tempos, Campi Flegrei teve apenas duas grandes erupções, a primeira há 35 mil anos e outra há 12 mil anos. Uma “menor” foi registrada em 1538, embora tenha durado cerca de oito dias com o vulcão expelindo tanto material que foi capaz de formar uma nova montanha – a Monte Nuovo.

A formação de Campi Flegrei, por si só, já foi um evento catastrófico, quando ocorreu há 200 mil anos. Ele essencialmente foi resultado de um colapso vulcânico tão cataclísmico que alguns pesquisadores chegaram a associá-lo com a extinção dos Neandertais. Acredita-se que esta erupção tenha lançado quase 3,7 trilhões de litros de rocha derretida sobre a superfície, juntamente com enormes quantidades de enxofre, provocando o que os pesquisadores chamaram de “inverno vulcânico”.

Essas áreas podem dar origem às únicas erupções que podem ter efeitos catastróficos globais comparáveis ​​aos impactos de grandes meteoritos”, disse Giuseppe De Natale, do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia da Itália, à Reuters em 2012.

Agora, equipes da University College de Londres e do Observatório Vesúvio, em Napoli, se uniram para investigar se Campi Flegrei poderia estar se preparando para entrar em uma nova erupção. Eles descobriram que uma agitação vem borbulhando internamente desde a década de 1950, com um efeito perigosamente cumulativo.

A equipe relatou em um estudo publicado na Nature Communications, que o vulcão se manteve ativo por 67 anos, com dois anos de maior agitação registrados em 1950 e 1970-1980, dando origem a pequenos terremotos – um padrão também observado no evento que levou à erupção de 1538.

“Não sabemos quando ou se esta agitação de longo prazo levará a uma erupção, mas Campi Flegrei está seguindo uma tendência que vimos ao testar nosso modelo em outros vulcões, incluindo Rabaul, na Papua Nova Guiné, El Hierro, nas Canárias e Soufriere Hills em Montserrat, Caribe”, explicou Kilburn.

“Estamos nos aproximando de prever erupções em vulcões que ficaram inativos por gerações por meio de modelos físicos detalhados, a fim de entender como a agitação precedente se desenvolve”, acrescentou.

Infelizmente, ninguém ainda pode dizer quando ou se a erupção de fato vai ocorrer, uma vez que essa resposta depende de como uma porção de quase três quilômetros de magma vai se comportar abaixo da superfície da caldeira central nas próximas décadas.

Contudo, se ocorrer, podemos apenas esperar uma erupção que afetará 360 mil moradores que vivem próximos a Campi Flegrei, bem como 1 milhão de pessoas que moram em Nápoles.

Nossos resultados mostram que devemos estar prontos para uma maior quantidade de atividade sísmica local, e que devemos adaptar nossos preparativos para outra emergência, que conduzirá ou não a uma erupção”, concluiu Giuseppe De Natale, membro do grupo de pesquisa e ex-diretor do Observatório Vesúvio

Fonte: Science Alert Foto: Reprodução / Science Alert

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