Qual é o vulcão mais perigoso do mundo?

de Redação Jornal Ciência 0

Diga “supervulcão” e você vai pensar imediatamente no vulcão de Yellowstone, nos EUA, e em seu passado violento – mas o que pensar sobre o seu futuro? Quando será a próxima erupção? Este não é o único supervulcão na Terra, e muitos outros poderiam facilmente competir com seu poder. Então, onde estão esses supervulcões e qual deles é realmente o mais perigoso do mundo?

Os supervulcões, como são chamados popularmente, normalmente têm algumas características comuns, incluindo um enorme “caldeirão” como cratera e uma grande fonte de magma. De um modo geral, este apelido é casualmente ligado a vulcões que produzem erupções altamente poderosas e intensamente explosivas registradas na extremidade superior do chamado Índice de Explosividade Vulcânica (IEV).

O que é o Índice de Explosividade Vulcânica?

Concebido por um grupo de vulcanologistas em 1982, é a única maneira numericamente padronizada de definir quão “explosiva” uma erupção é, segundo alguns critérios, incluindo a altura da nuvem de cinzas, a quantidade de material vulcânico ejetada e com que frequência esse tipo de erupção ocorre. Não é uma escala perfeita, mas, basicamente, eventos IEV 0-1 acontecem continuamente, o tempo todo, e produzem lava lentamente ao longo do tempo.

Eles quase nunca são explosivos. No outro extremo da escala, os eventos do IEV 7-8 produzem quantidades de detritos vulcânicos muito rapidamente, e ocorre uma vez a cada 1.000 a 50.000 anos. Nos últimos 36 milhões de anos, houve 42 erupções do nível IEV 8. Destes, algumas são considerados supererupções feitas por supervulcões, que geraram verdadeiros surtos continentais de lava.

Supervulcões é um termo bastante vago. Ele tem sido essencialmente popularizado pela mídia ao redor do mundo, mas de fato eles têm poder para destruir o planeta ou modificar completamente a vida na Terra como a conhecemos. Aqui está uma lista aproximada dos supervulcões potencialmente “dormentes” ao redor do mundo:

1 – Caldeira de Yellowstone, EUA;

2 – Lago Toba, Indonésia;

3 – Taupo, Nova Zelândia;

4 – Campos Flégreos, Itália;

5 – Caldeira de Long Valley, Califórnia;

6 – Valle Grande, Novo México;

7 – Aira, Japão.

Como vimos, dos 7 supervulcões com poder imenso de causar verdadeiras catástrofes humanitárias globais, 3 deles localizam-se nos EUA.

A caldeira clássica

Agora vem a parte complicada: qual deles possui maior poder de destruir o mundo – ou chegar bem perto disso? Para fazer isso, é preciso olhar para a história das erupções destes verdadeiros monstros naturais. Então vamos começar com o clássico, Yellowstone.

Esta caldeira vulcânica tem 72 quilômetros de comprimento e é tão grande que você só pode realmente observá-la do espaço. As três erupções em Yellowstone que ocorreram 2,1 milhões, 1,3 milhão e 640 mil anos atrás – formaram caldeiras diferentes e entrelaçadas, sendo a mais recente denominada Caldeira de Yellowstone.

O mais poderoso impacto foi gerado há 2,1 milhões de anos, pela primeira explosão, com um IEV 8, que produziu 2.500 vezes o volume de detritos vulcânicos que o cataclismo de 1980 que ocorreu no Monte Santa Helena, nos EUA. A segunda explosão, há 1,3 milhão de anos, foi menos poderosa, IEV 6-7. Já a última, ocorrida há 640 mil anos, foi bastante poderosa, com IEV 8.

Ocorreram explosões menores ocorreram, formando crateras, mas não podemos fingir que outra supererupção não acontecerá um dia e a humanidade não estará preparada quando isso ocorrer. Falando nisso, se você olhar essas datas, irá notar que especialmente Yellowstone “explode” uma vez a cada 660 mil a 800 mil anos, o que sugere que a próxima explosão poderá ocorrer em 50.000 anos. Claro que isso não é uma afirmação completamente certa, e uma catástrofe poderia ocorrer bem antes disso.

Alguns cientistas, no entanto, pensam que Yellowstone está, de fato, atrasado. Eles calculam que uma explosão poderosa deveria ter ocorrido há mais de 20.000 anos, mas não há dados suficientes para entender este mecanismo.

Hoje, a fonte de magma em Yellowstone é incrivelmente maciça. Durante anos, os geofísicos pensaram que houvesse apenas um esconderijo de magma raso sob o Parque Nacional onde ele está localizado – mas há realmente outro, mais profundo que foi descoberto em 2015. No total, há tanta rocha derretida ali, de forma tão impressionante, que é o suficiente para encher 14 Grand Canyons até a borda.

Quando ele entrar em erupção, praticamente toda a câmara vai esvaziar a superfície em um evento explosivo de descompressão. Fluxos de lava e fogo eliminam rapidamente qualquer coisa no Parque Nacional. Mas, o verdadeiro perigo para os EUA – e o para o planeta – é a queda das cinzas.

Com base nas antigas erupções, milhares e milhares de quilômetros cúbicos de cinzas cobrirão cerca de 70% dos EUA dentro de 24h, no máximo 48h, com grande parte desta área sendo sufocada em uma camada espessa de 1 metro de altura. Isso trará à agricultura um grande prejuízo, fará com que milhões de prédios desmoronem devido ao peso acumulado, deixando em colapso o sistema de saúde e os bombeiros, além de deixar milhões de pessoas com problemas respiratórios graves.

Será um desastre para os EUA e parte do mundo, já que cinzas podem ficar meses na atmosfera terrestre, impedindo a entrada de luz solar adequadamente. Estamos usando o termo “será” e não “seria”, porque é um fato. Vai acontecer! É questão de tempo. Para muitos, será uma verdadeira catástrofe quase apocalíptica. Há também uma boa chance de se perderem alguns anos ou décadas de verão, já que partículas de enxofre emitidas durante a erupção, bloquearão o Sol até certo ponto.

No entanto, como os vulcanólogos observam, as últimas 20 erupções foram efusões de lava, que só chegam aos limites do Parque Nacional. De fato, a probabilidade anual de outra erupção formadora de caldeira pode ser aproximada como 1 em 730.000 ou 0.00014%.

A supererupção é provável que aconteça daqui milhares de anos. Não há sinal de que a câmara magmática esteja inquieta agora – mas sabemos que, lentamente, ela está se enchendo cada vez com mais magma e esperando seu tempo.

Caldeira Long Valley

Pensando ainda nos EUA, o vulcão Long Valley, da Califórnia, formou sua caldeira há 760.000 anos. Era menos poderosa do que a de Yellowstone, mas desde então se envolveu em muitas erupções importantes, mas nada como sua explosão original.

Embora outra supererupção seja possível – como o sistema de magma por baixo dele ainda é definitivamente ativo – as chances são de que haverá pequenas erupções ocorrendo nos próximos 100 anos ou mais. Valley teve a sua supererupção há 1,25 milhão de anos, quando se formou uma caldeira, e teve alguma atividade relativa, mas não aconteceu nada desde então.

Apesar do fato de que há claramente uma fonte de magma ativo abaixo dele, é provável que seja uma sombra de seu antigo eu, e não há nenhum sinal de uma supererupção iminente no futuro.

Aira

Podemos pegar o caso da caldeira vulcânica Aira, no Japão. Embora esta vasta “tigela antiga” tenha mudado o mundo quando entrou em erupção, todos os pontos de evidência ao redor do Monte Sakurajima, tornaram-se belíssimas paisagens.

E Taupo, na Nova Zelândia? Agora, é uma linda cratera com grande ecossistema e turismo, mas já foi responsável por duas das erupções mais violentas do mundo. Cerca de 1 milhão de anos atrás, ele entrou em erupção tão poderosamente que grande parte da Ilha do Norte da Nova Zelândia ficou completamente coberta de cinzas quentes.

Incomum para supervulcões, as erupções mais poderosas de Taupo ocorreram após sua formação inicial. Cerca de 26.500 anos atrás, a chamada erupção Oruanui (IEV 8) produziu fluxos piroclásticos tão extensos que eles enterraram a Ilha Norte em 200 metros. A precipitação significativa de cinzas espalhou-se em grande parte do Oceano Pacífico regional. Se o mesmo acontecesse novamente hoje, mataria a maioria das 3,6 milhões de pessoas que vivem lá.

Em seguida, outra explosão durante o ano 180, embora “apenas” uma explosão IEV 7, produziu fluxos piroclásticos violentos semelhantes que cobriam uma área equivalente a 25 cidades de Nova York. A erupção produziu tanta cinza, que os céus sobre a Itália e a China ficaram vermelhos. Houve uma abundância de explosões entre estas datas, e a próxima erupção no local deverá ser ligeiramente explosiva, mas é provável que só prejudicará aqueles nas regiões próximas.

Autoridades da Nova Zelândia observam que apenas três erupções desde o evento Oruanui produziram fluxos piroclásticos. Não há um padrão simples para essas erupções que podem dar aos vulcanólogos qualquer ideia de quando ele vai entrar em erupção novamente. Prever isso é absolutamente complexo.

Os dois finais

Toba, da Indonésia, fez sua estreia há 1,5 milhão de anos, mas essa não foi a principal erupção. Cerca de 73.000 anos atrás, uma explosão colossal produziu uma caldeira de 100 quilômetros de comprimento. Esta erupção fabricou tanto material vulcânico que calcula-se que o mundo tenha mergulhado em um profundo inverno de 6 anos de duração.

Dentro de dias, o sul da Ásia foi sufocado por uma camada de cinza de 15 centímetros, com áreas mais próximas do vulcão sendo enterradas em cinzas e depósitos de fluxo piroclástico com centenas de metros de profundidade. Este não foi apenas um evento IEV 8. Esta foi a maior erupção vulcânica nos últimos 2,5 milhões de anos, e por algum tempo estudiosos pensaram que este evento poderia ter dizimado completamente os seres humanos, levando-nos à extinção. Mas, outros dados questionam isso.

Preocupantemente, há uma fonte de magma por baixo de Toba que hoje é do mesmo tamanho que a de Yellowstone. O centro do Lago Toba está subindo, indicando que o magma abaixo está se expandindo. Cerca de 100 mil pessoas vivem na ilha, no coração do Lago Toba, e uma supererupção mataria todos os moradores em minutos, além de ter poder para destruir a Indonésia.

No entanto, como só houve uma supererupção no local, os cientistas não podem prever quando ou se ele vai ter uma supererupção novamente. Ainda assim, não houve atividade nos tempos modernos para sugerir que o magma esteja prestes a explodir, então provavelmente não vale a pena se preocupar, no momento.

Campos Flégreos, Itália

Campos Flégreos, sob a Baía de Nápoles, na Itália, é um pouco mais recente, tendo esculpido a sua caldeira há 40.000 anos, durante uma explosão IEV 6-7. Pela definição dos órgãos internacionais, isto mal entra na lista como um supervulcão. Hoje em dia, o magma sob ele parece vir principalmente do Vesúvio, que não matou muitas pessoas desde 1631.

Cerca de um milhão de pessoas vivem dentro de sua cratera, então qualquer supererupção pode matá-las instantaneamente. A região circundante é também densamente povoada, de modo que qualquer erupção maciça rapidamente enterraria um bom pedaço da população da Itália, enquanto a nuvem de cinzas provavelmente sufocaria boa parte da Europa.

Toda a caldeira continua inflando e desinflando, e os cientistas não conseguem descobrir o motivo. Atualmente, o solo está subindo em um ritmo notável, mas entre 1982 e 1984, a taxa de ascensão foi 24 vezes maior.

Naquela época, os vulcanólogos achavam que era magma empurrado para o teto da câmara, mas é provável que fosse gás em expansão. De qualquer forma, algo está acontecendo lá embaixo que indica que um sistema magmático ativo ainda existe. Um estudo recente observou que está entrando em um “estado crítico” onde poderia estar pronto para uma erupção.

Contagem regressiva

Prever quando o mundo vai ter outra supererupção é quase impossível graças à sua raridade. Mesmo vulcões com padrões de erupção podem não os obedecer no futuro. No entanto, se fosse para escolher o supervulcão mais perigoso do planeta, seria o de Campos Flégreos. Apesar de ter um currículo menos violento, qualquer erupção causaria uma verdadeira calamidade da mais alta ordem, não só ao país, mas em quase toda a Europa. Em última análise, tamanho não importa.

Fonte: IFLScience Fotos: Reprodução / Pixabay 

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