Cientistas descobrem potencial remédio para diabetes no veneno do ornitorrinco

de Merelyn Cerqueira 0

Pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, afirmaram, em um estudo publicado recentemente pela revista Scientific Reports, ter encontrado um composto capaz de equilibrar os níveis de açúcar no sangue no veneno de ornitorrincos (Ornithorhynchus anatinus).

Enquanto algumas pessoas podem tomar essa informação como surpresa, o mamífero semiaquático em questão, que também põe ovos, é capaz de produzir veneno, de acordo com informações da MentalFloss.

No entanto, isso só ocorre durante a época de reprodução, quando, podem precisar defender seus territórios de outros machos e competir pela atenção das fêmeas. O veneno, então, é produzido pelas glândulas abdominais e liberado através de esporões presentes nos membros inferiores. Embora essa não seja uma visão muito agradável, ela de fato é interessante, especialmente para os pesquisadores.

Os venenos produzidos por animais possuem compostos com propriedades notáveis de grande aplicação medicinal – e os diabéticos já estão bem familiarizados com isso. A exenatida (Byetta), por exemplo, utilizada em casos de diabetes do tipo dois, foi encontrada originalmente no veneno do monstro-de-gila (Heloderma suspectum), uma espécie de lagarto que habita o sudoeste da América do Norte. Esse medicamento trabalha imitando um composto natural produtor de insulina chamado glucagon 1 (GLP-1). O fato de um lagarto conseguir produzir um veneno com tal aplicação não é mera coincidência: em condições normais, ele o usa para reduzir o açúcar no sangue da presa a fim de imobilizá-la.

Enquanto o remédio age como uma boa estratégia para ajudar os pacientes diabéticos, ele ainda possui uma falha. A GLP-1 e outros compostos semelhantes quebram e param de trabalhar muito rapidamente. Logo, para as pessoas que têm dificuldades em produzir insulina, é necessária uma droga que funcione por um tempo maior.

Com isso em mente, os pesquisadores australianos voltaram sua atenção para os exóticos ornitorrincos. Eles sabiam que estes animais, assim como as pessoas, produziam o GLP-1 em suas entranhas. A questão era saber como o composto e o veneno interagiam dentro do corpo do mamífero.

A partir de análises químicas e genéticas, eles tentaram identificar os compostos presentes nos esporões do animal, mas acabaram descobrindo algo completamente novo: uma forma de GLP-1 muito mais resistente e que se quebrava de forma diferente – mais lentamente – do que a dos monstros-de-gila. Os autores afirmaram que o composto encontrado é o resultado de um “conflito” entre os usos do GLT-1 no intestino e no veneno. 

De acordo com o coautor do estudo, Frank Grutzner, este é um exemplo incrível de como milhões de anos de evolução podem moldar moléculas e otimizar suas funções. “Essas descobertas têm o potencial de informar o tratamento de diabetes, um dos nossos maiores desafios de saúde”, disse acrescentando que o desafio agora será converter o achado em uma solução, algo que será feito em pesquisas futuras.

[ Mental Floss ] [ Fotos: Reprodução / Mental Floss ]

Jornal Ciência