A costureira aposentada Maria Lucia Machado, de 62 anos, aguardou um leito em um hospital público em São Paulo por 37 dias e morreu um dia antes de ocupar a vaga, de acordo com o site BuzzFeed Brasil.
A cardíaca Maria Lucia tinha sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) e apresentava quadro de insuficiência respiratória aguda. Ela foi internada em um hospital da Vila Nhocuné – na zona leste de SP -, porém não havia leitos na terapia intensiva no local. Como o hospital não disponibilizou o leito, ela decidiu procurar a Justiça. A decisão da juíza Alexandra Fuchs de Araújo foi decretava em 1º de dezembro, porém Maria Lucia já havia morrido um dia antes, em 30 de novembro.
“Eu não entendi qual essa fila. Fila para transplante, para cirurgia, tudo bem. Mas fila para UTI? Eu estou sem saber o que pensar. Eu sei que não vai trazer a minha mãe de volta, mas eu creio que se tivessem conseguido a UTI antes, nesse prazo em que eu fui atrás, ela teria se recuperado sim”, lamentou Priscila Machado Sambrana, filha da aposentada.
Priscila, sua única filha, contou que no dia 21 de outubro, ela levou a mãe para a emergência do Hospital Alexandre Zaio, localizado na Vila Nhocuné. Maria Lucia sofrera um infarto meses antes e foi tratada pelo Incor. Porém, só no dia 25, Priscila percebeu as complicações da mãe e a necessidade de internação na UTI.
Como o hospital não pôde atender o pedido da vaga, a solicitação seguiu para a Central de Regulação de Urgência e Emergência, que organiza as vagas disponíveis na cidade. Entre 25 de outubro e 7 de novembro, a vaga de UTI foi negada 132 vezes, entre hospitais municipais e estaduais. Enquanto aguardava a vaga, a aposentava apresentou uma melhora e acabou perdendo seu lugar na fila de espera. Após esse breve período, seu quadro foi piorando, e ela teve que reiniciar o processo de espera.
Priscila decidiu procurar a Defensoria Pública, que realizou um pedido de vaga para Maria Lucia. Na primeira decisão, a juíza solicitou que a prefeitura prestasse esclarecimento em até 48 horas, e não concedeu a vaga para aposentada devido ao “risco de gerar dano a terceiro por eventual alteração de fila”.
Após ser notificado, o município deveria se manifestar, porém isso não ocorreu. Daniela Skoromov, defensora pública, decidiu entrar com um novo pedido, e a juíza acatou o pedido pela vaga. Porém, a decisão foi tomada tarde demais. “Isso mostra como o Judiciário é inadequado para esse tipo de caso. Como num caso absurdamente urgente desses não existe um trâmite absolutamente urgente?”, disse Daniela Skromov.
Poder público
De acordo com o site Buzzfeed Brasil, Elaine Gianotti, coordenadora da Central de Regulação de Urgência e Emergência, em São Paulo, o número de leitos não atende a demanda da cidade. “Precisaríamos de mais mil leitos. E muita gente entra na Justiça. Eu não chamaria de fila, existem pessoas esperando, cada qual com o seu quadro clínico”, diz a coordenadora.
De acordo com Elaine, há dois critérios para a disponibilização de vagas: gravidade do quadro clínico e a estrutura do hospital em que o paciente se trata.
Quando perguntada sobre o caso de Maria Lucia, a Secretaria Municipal de Saúde disse que “durante toda a sua internação, ela recebeu os mesmos cuidados intensivos que receberia numa unidade de terapia intensiva, inclusive com acompanhamento multiprofissional, como ocorre para todos os pacientes que estão no setor de emergência”.
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