Considere que a gravidade da Terra é de 9,807 m/s², relativamente forte – embora sequer se compare à de Júpiter de 24,79 m/s². Contudo, será que a água, que naturalmente tende a fluir para baixo, poderia ir contra sua natureza e correr para cima?
A resposta é sim, de acordo informações da LiveScience, mas apenas se os parâmetros estiverem corretos.
Por exemplo, uma onda em uma praia pode fluir para cima, mesmo que por apenas alguns segundos. Ainda, a água de um sifão também pode fluir para cima, bem como uma pequena poça d’água, se for coberta por um papel toalha que sugará sua umidade para cima.
No entanto, e mais curioso do que isso, na Antártida há um rio que corre de baixo para cima entre as camadas de gelo. Como a Ciência poderia explicar esses movimentos aquáticos ascendentes?
Ondas e sifões
As ondas, que são causadas pelos ventos, marés, força gravitacional da Lua, e os tsunamis, muitas das vezes desencadeados por terremotos, podem fazem com que a água flua contra a gravidade.
A energia e força produzida por esses fenômenos naturais podem acabar empurrando a água para cima, permitindo que ela naturalmente seja elevada.
Um sifão, por outro lado, atua sob diferentes pressões. As pessoas utilizam esses objetos desde os tempos mais antigos.
Acredita-se que os antigos egípcios o tenham usado para sistemas de irrigação e vinificação, de acordo com um estudo publicado em 2014 pela Scientific Reports. No entanto, até hoje existe um grande debate sobre como os sifões trabalham.
Podemos visualizar um sifão pensando em duas xícaras conectadas por meio de um tubo em “U” de cabeça para baixo.
Agora, imagine que uma das xícaras, que está cheia de água está localizada em um determinado ponto de uma escada, enquanto a outra, vazia, abaixo dela.
Se experimentarmos colocar uma extremidade do tubo dentro do copo cheio de água e sugarmos o ar, isso permitirá que a água flua através do tubo para dentro da xícara vazia.
Os sifões também podem trabalhar por meio do vácuo, embora a pressão atmosférica não esteja envolvida, de acordo com um estudo publicado em 2011 pelo periódico Journal of Chemical Education.
Ao invés disso, uma gravidade de coesão molecular parece estar envolvida no processo, segundo outro estudo, publicado em 2015 pela revista Scientific Reports.
A gravidade acelera a água através da parte mais baixa do tubo. Como a água possui uma série de ligações fortes e coesivas, essas moléculas tendem a puxar o líquido fazendo com que ele suba o tubo.
Contudo, como muitos líquidos não possuem esse tipo de ligação forte e mesmo assim conseguem fazer uso de sifões, ainda não está claro exatamente como esses objetos trabalham nos diferentes casos.
Ação capilar
Para o exemplo da toalha de papel, a explicação pode ser fornecida por meio da chamada ação capilar.
Esta permite que volumes de água fluam para cima e contra a gravidade, desde que a água o faça através de espaços estreitos.
Esse fluxo ascendente ocorre quando a aderência de um líquido à superfície de um material, tal como a folha de papel, é mais forte do que as forças coesivas entre suas moléculas líquidas, conforme reportado pelo US Geological Survey.
Nas plantas, por exemplo, as moléculas de água são capturadas pelos capilares chamados xilemas, que ajudam a planta a extrair a água do solo.
Rio da Antártida
De acordo com Robin Bell, professora de Geofísica no Instituto Terrestre Lamont-Doherty, da Universidade de Columbia, em Nova York, há um rio que flui de baixo para cima em uma das camadas de gelo da Antártica.
Segundo ela, debaixo do gelo do continente assentam-se as chamadas Montanhas Gamburtsev, uma enorme área com picos e vales que são aproximadamente do tamanho dos Alpes Europeus.
“Nos vales, há água”, disse ela à LiveScience. “Nós podemos dizer porque quando voamos sobre ele, o eco do radar [que penetra o gelo] é muito mais forte”.
Os pesquisadores assumem que o rio ali está fluindo desse jeito porque o gelo sobre ele está alinhado contra a direção do fluxo de água. Este alinhamento, junto com a enorme pressão da camada de gelo, empurra a água para cima.
Existem outros casos com água capaz de fluir naturalmente para cima. Por exemplo, um terremoto de magnitude 8,0 que em certa ocasião sacudiu o rio Missouri (EUA), fez com que o a água deste fluísse temporariamente para trás.
Ainda, um estudo publicado em 2006 pela Physical Review Letters mostrou que pequenas quantidades de água, quando colocadas sobre uma superfície quente (como uma panela escaldante) poderiam “subir” pequenos degraus de vapor quando ficassem quentes o suficiente.
Fonte: Live Science Foto: Reprodução / Pixabay