Verme-Crina-de-Cavalo: Parasita manipulador faz louva-a-deus se afogar contra sua vontade

O parasita já era conhecido por “controlar” o inseto louva-a-deus, mas a ciência não entendia o motivo deste comportamento incomum

de Redação Jornal Ciência 0

verme manipula louva-a-deus a pular na água

Existem muitos exemplos na natureza com este comportamento. Para a biologia não é nenhuma surpresa parasitas que consigam literalmente comandar ou manipular seus hospedeiros em seu próprio benefício.

Alguns tipos de fungos conseguem comandar e fazer formigas subirem no topo de árvores antes de crescerem e, literalmente, explodirem suas cabeças. Outros fungos conseguem comandar cigarras e impedir que elas copulem.

Agora, pesquisadores descobriram o motivo pelo qual o famoso verme-crina-de-cavalo obriga o louva-a-deus a pular dentro da água de rios e lagos.

“Eu sou originalmente um ecologista e descobri que os hospedeiros infectados [como o louva-a-deus] com o verme-crina-de-cavalo pulam na água para servir como fonte de energia sazonal muito importante para a alimentação aquática de peixes…”, disse Takuya Sato, professor da Universidade de Kobe, no Japão, e principal autor do estudo.

“Este é um excelente exemplo para mostrar como os parasitas (que são facilmente esquecidos em estudos de ecologia) são importantes na mediação dos processos do ecossistema”, ressaltou Sato.

Os vermes-crina-de-cavalo (Chordodes sp.) iniciam a vida em rios e lagos, onde suas larvas entram no corpo de insetos de origem aquática. Esses insetos crescem, ganham asas e voam, saindo do rio e aguardam serem devorados por insetos mais fortes como um louva-a-deus.

Se um louva-a-deus come um inseto infectado com o verme-crina-de-cavalo, o verme então começará a crescer dentro de seu corpo, amadurecendo o seu desenvolvimento, tornando-se muito comprido.

Mas, para conseguir voltar para a água e ter uma chance de reprodução, o parasita usa mecanismos ardilosos, manipulando completamente o louva-a-deus a dar um mergulho.

O mecanismo exato que faz com que o verme controle o louva-a-deus e o faça se jogar na água não foi esclarecido pela ciência por mais de 100 anos, mas uma nova pesquisa publicada na revista científica Current Biology, afirma ter decifrado este enigma.

Antes, pensava-se que o brilho refletido da água era o que fazia o louva-a-deus se jogar, mas os estudos nunca faziam comparações com outros locais igualmente brilhantes que não atraíam a atenção do inseto.

Além disso, este verme também ataca grilos, e estudos mostraram que eles não são atraídos pelo brilho da água, descartando a hipótese.

“Não conseguíamos entender por que nunca encontrávamos o verme-crina-de-cavalo em áreas de água rasa e de cor clara, como poças”, disse Sato. A explicação é mais complexa do que era imaginávamos: a polarização da luz refletida.

A luz é uma onda eletromagnética que oscila para cima e para baixo perpendicularmente à sua direção de movimento. Normalmente, a onda pode oscilar em qualquer orientação, mas a luz polarizada só se move em um plano.

A luz refletida na água é principalmente polarizada horizontalmente, e pesquisas anteriores sugeriram que os insetos podem usar essa propriedade da luz para detectar a água, seja para evitá-la ou procurá-la.

Os pesquisadores realizaram dois experimentos usando louva-a-deus da espécie Hierodula patellifera. Primeiro, os insetos foram colocados no meio de um cilindro que produzia luz polarizada em uma extremidade e luz não polarizada na outra.

Após 10 minutos, os louva-a-deus infectados com o verme-crina-de-cavalo eram mais propensos a irem em direção à luz polarizada do que os não infectados pelo verme. Curiosamente, isso não foi observado quando a luz foi polarizada verticalmente em vez de horizontalmente.

O estudo foi então feito em duas piscinas. Uma era profunda e fracamente refletia luz polarizada horizontalmente, e a outra era rasa e tinha uma reflexão de luz mais forte que era apenas fracamente polarizada. Eles liberaram 31 louva-a-deus infectados e 19 não infectados em uma árvore entre as duas piscinas e observaram as consequências por meio de vídeo.

Dos 16 insetos infectados que saltaram na água, 14 optaram por entrar na piscina refletindo a luz polarizada horizontalmente. Apenas um louva-a-deus não infectado decidiu dar um mergulho.

Alguns dos resultados do estudo sugerem que o ciclo circadiano tem um papel nessa alteração do comportamento do parasita. Os louva-a-deus foram observados no laboratório andando mais ao meio-dia, e muitos dos louva-a-deus que entraram na água fizeram isso também por volta do meio-dia.

Isso indica que não apenas o verme-crina-de-cavalo induz seus hospedeiros a mergulhar, mas também podem fazer isso em uma determinada hora do dia — aumentando ainda mais o poder do controle.

Agora que os pesquisadores sabem o que faz os louva-deus infectados mergulharem na água contra a própria vontade, o próximo passo é entender qual o mecanismo que o verme utiliza para controlar o cérebro destes insetos para obrigá-los a ter este comportamento.

“As vias neurológicas para os animais perceberem a luz polarizada […] é atualmente um tema quente na neurociência da visão animal. Esperamos que a compressão dos mecanismos ajude a fazer incríveis descobertas interessantes para a neurociência geral dos animais”, disse Sato.  

Fonte(s): IFLScience Imagens: Reprodução / Takuya Sato / Kobe University

Jornal Ciência