Havia atividade humana nas Américas há 130 mil anos, segundo nova descoberta

de Merelyn Cerqueira 0

Há um consenso geral de que os seres humanos chegaram a América do Norte, no mínimo, há 24 mil anos.

No entanto, uma surpreendente descoberta arqueológica revelou que isso pode ter acontecido há muito mais tempo, mais especificamente há 131.000 anos e na atual região da Califórnia. Tal descoberta, se comprovada, poderia resultar em uma revisão dos livros de história. Com informações da IFLScience.

Alegações extraordinárias exigem provas extraordinárias, disse o coautor do estudo Richard Fullagar, da Universidade de Wollongong.

As datas são realmente notáveis, mas é difícil argumentar com a evidência clara que vemos. É algo incontestável.

A descoberta foi feita em um local profundamente enterrado no condado litoral de San Diego. Os pesquisadores encontraram restos mortais de um mastodonte, uma criatura extinta relacionada aos elefantes.

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Em uma inspeção mais detalhada, eles verificaram que as marcas no fóssil pareciam combinar com lesões provocadas por martelos, bigornas e outras ferramentas utilizadas por nossos antepassados e encontradas nas proximidades – embora nenhum resíduo humano tenha sido identificado.

Então, utilizando uma série de experimentos, eles conseguiram recriar as marteladas e cortes provocados pelas ferramentas que presumivelmente foram utilizadas para aperfeiçoar as presas do mastodonte.

O que é realmente notável aqui é que você pode combinar os martelos com as bigornas e as pedras – e isso realmente demonstra a interferência humana”, observou Fullagar. Por meio de técnicas de datação de urânio, eles descobriram “sem sombras de dúvida que o fóssil animal tinha 131.000 anos de idade, bem como as marcas nele contidas.

Os pesquisadores consideram que nenhum carnívoro ou processo geológico conhecido poderia ter feito arranhões tão precisos sobre os ossos do animal.

Ainda, o sítio arqueológico no qual fora encontrado permaneceu inalterado e intocado por processos erosivos desde que apareceu.

Eles assumem que quando o mastodonte morreu, parte de seus restos foram movidos até o local em que foi encontrado, onde os seres – ou ancestrais – humanos começaram a entalhar suas presas para uso como ferramentas, ornamentos ou simplesmente extrair a medula óssea para alimento – uma antiga prática humana que tem pelo menos 1,5 milhão de anos em assentamentos africanos.

A nova datação, basicamente, contesta tudo que assumimos saber sobre a migração humana pelo mundo.

Espero que haja algumas afirmações extraordinárias sobre como chegaram lá primeiramente”, acrescentou o coautor Steven Holen, codiretor do Center for American Paleolithic Research.

“Esperamos as críticas e estamos prontos para isso. Eu também fiquei cético quando observei o caso pela primeira vez, mas este é definitivamente um sítio arqueológico”.

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Indo muito além da intensa diversidade que a América do Norte tem atualmente, os pesquisadores assumem que esses nativos americanos, muito provavelmente, eram anatomicamente modernos, como o Homo sapiens sapiens, Homo neanderthalensis, entre outros. 

Há sítios neandertais na Sibéria e, sem dúvida, eles poderiam ter feito essa viagem durante o último período interglacial, quando o nível do mar era menor”, comentou Fullagar, mencionando a chamada Beríngia, uma ponte de terra, hoje submersa, que ligava a atual região da Sibéria com o que agora é o Alasca.

Logo, se estes viajantes de fato forem neandertais, esta seria a primeira evidência do grupo fora da Europa.

Curiosamente, os nativos americanos têm um número relativamente elevado de genes neandertais em seus genomas. Ainda, Fullagar considera que a região do sítio arqueológico de San Diego poderia ter sido povoada por “meta-populações” de seres humanos, como um mix ou híbrido de diferentes espécies.

Contudo, é quase certo que quem fez essas marcas no fóssil jamais será identificado. Sendo assim, e sendo eles quem for, esses primeiros americanos certamente se estabeleceram em um ambiente bastante intocado.

Havia mastodontes, capivaras, cervos e até lobos lá”, disse outro coautor, James Paces, um geólogo de pesquisa do United States Geological Survey. “Era próximo de um rio e ao longo de uma costa – basicamente um lugar agradável para se viver, acrescentou.

Fonte: IFL ScienceFotos: Reprodução / IFLScience / The Guardian

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