Cientistas conseguem criar ratos vivos sem fertilizar óvulos

de Merelyn Cerqueira 0

Em um experimento realizado na Universidade de Bath, no Reino Unido, embriologistas afirmaram ter conseguido criar com sucesso ratos de laboratório sem o uso de óvulos fertilizados.

Os resultados, de acordo com informações da Science Alert, podem ter implicações para as espécies ameaçadas de extinção e também, um dia, para os seres humanos. Além disso, a descoberta sugere que os gametas podem não ser tão vitais para a reprodução como temos assumido por séculos. A equipe propõe que uma célula da pele pode ser uma alternativa adequada.

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Alguns dos bebês. Crédito: Universidade de Bath

Segundo um dos pesquisadores, Tony Perry, o trabalho desafia os dogmas, propostos desde os primeiros embriologistas da história que observaram pela primeira vez os óvulos de mamíferos por volta de 1827 e, 50 anos depois, todo o processo de fertilização. Eles entendiam que “somente um óvulo fertilizado por um espermatozoide poderia resultar no nascimento de um novo mamífero”.

A experiência não só levanta questões sobre o pressuposto de que apenas um óvulo fertilizado pode dar origem a uma nova vida, mas também sugere que outros tipos de células podem fazê-lo. Até então, ninguém havia sido capaz de demonstrar que qualquer outro tipo de célula era capaz de combinar com espermatozoides para produzir descendentes. “O que estamos falando são de maneiras diferentes de fazer embriões. Imagine você poder pegar células da pele e criar embriões a partir delas? Isso teria todos os tipos de utilidade”, disse Perry.

Para realizar o experimento, a equipe extraiu óvulos não fertilizados de ratos fêmeas e descobriu uma fora de persuadi-los a se tornarem “pseudo embriões” (partenogenéticos).  Isso foi feito a partir de um método proposto em pesquisas anteriores que sugerem que ao banhar quimicamente esses óvulos em uma solução com cloreto de estrôncio (SrCl2), você pode persuadi-los a se dividirem em células filhas como se tivessem sido fertilizados por espermatozoides.

Em certas espécies de répteis, esses embriões partenogenéticos podem desenvolver uma prole perfeitamente saudável, sem a necessidade de um macho para fertilização. Contudo, em mamíferos, isso nunca deu certo e os animais acabavam morrendo dentro de poucos dias. Assim, os pesquisadores decidiram ver o que aconteceria quando injetassem espermatozoides em células recém divididas, e descobriram que os embriões partenogenéticos sobreviveram pouco mais do que o habitual de ‘poucos dias’. Então, eles implantaram esses embriões em fêmeas e relataram que elas produziram 30 filhotes com uma taxa de sucesso de 24%.

Até onde podemos dizer, os ratos bebês estão normais e saudáveis”, disse Perry. “Checamos quanto tempo eles viveram até agora e as expectativas de vida foram semelhantes ao do grupo de controle, em alguns casos até mais tempo. Descobrimos que os ratos foram reproduzidos de forma eficiente e ainda conseguiram prover descendentes saudáveis”.

Agora, se você ainda está se perguntado o porquê de todo esse alarido, o cientista explicou que, basicamente, para todo o processo foi utilizado apenas um óvulo e uma célula espermatozoide. A chave aqui é que, as células filhas reproduzidas pelos embriões partenogenéticos são completamente diferentes das produzidas pelo método convencional. Ao contrário dos óvulos fertilizados de forma normal, as partenogenéticas podem se dividir para formar novas células. Isso, segundo Perry, as tornam semelhantes as outras células do corpo, como as da pele.

O próximo passo do estudo é executar o mesmo processo, mas desta vez com as células da pele e ver se um resultado semelhante pode realmente ser alcançado. “Se vamos ser capazes de fazer isso eu não sei, mas eu acho que, se isso acontecer, um dia no futuro as pessoas vão olhar para trás e dizer que foi aqui que tudo começou”, disse ele.

Potencialmente, o método poderia ajudaria a recuperar espécies em situação de risco de extinção. Contudo, como só foi realizado em ratos até agora, ainda é muito cedo para caracterizar como certeza tal afirmação, teremos apenas de esperar por novos resultados.

[ Science Alert / The Guardian / Nature Communications ] [ Foto: Reprodução / Science Alert ]

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