Crateras gigantes foram recentemente encontradas na Antártida

de Gustavo Teixera 0

Os cientistas visitaram uma vasta cratera de gelo de 2 quilômetros de extensão na Antártida Oriental pela primeira vez e dizem que finalmente sabem como ela chegou lá.

Apesar dos relatos da imprensa sugerirem que a cratera foi deixada por uma colisão de meteorito, a equipe diz que o círculo gigante é resultado de um lago derretido, e que isso é um sinal de que o lugar mais frio na Terra pode ser muito menos estável do que pensávamos.

A cratera na plataforma de gelo em King Baudoin, na Antártica Oriental, é vista em imagens de satélite desde 1989, mas as recentes análises a trouxeram a público quando os pesquisadores sugeriram que ela foi deixada para trás por uma colisão de meteoritos em 2004. Minha resposta foi: nessa área? Definitivamente não é um meteorito, é prova de um grande derretimento”, disse o pesquisador Stef Lhermitte.  

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Lhermitte e sua equipe foram ver esse fato com seus próprios olhos, o que não foi tão fácil assim, já que a cratera está localizada a 400 km da base de pesquisa mais próxima. Depois de uma viagem de três dias pela neve, eles finalmente chegaram, e foi a primeira vez que alguém avistou a cratera pessoalmente. O que eles viram confirmou suas suspeitas e também suas preocupações com a estabilidade da camada de gelo do Antártico Oriental.

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Dentro da vasta cratera, encontraram uma depressão de 3 metros de profundidade e três moulins, um moinho de geleira, que é uma forma circular, vertical ou levemente inclinada que basicamente perfura o gelo de um lado a outro. Olhando para as imagens, imediatamente pensamos que seria um lago desmoronado, então fomos lá, e estava muito claro, pois a água corrente que desce pelo moulin, é óbvio que está derretendo”, disse Lhermitte ao site International Business Times.

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O problema é que moulins como este nunca foram vistos na camada de gelo da Antártida Oriental antes. “Foi uma grande surpresa. Os moulins normalmente são vistos na Groenlândia e definitivamente nunca os vemos em uma plataforma de gelo”, disse Lhermitte em comunicado à imprensa. Eles têm se proliferado nas camadas de gelo derretidas da Groenlândia nos últimos anos, mas pensava-se que a Antártida Oriental era muito fria para derreter da mesma maneira.

Então, como essa cratera chegou lá? Os pesquisadores suspeitam que sua formação foi desencadeada por processos naturais, mas foi agravada pelos efeitos do aquecimento global e a mudança no clima. Os pesquisadores sugerem que os ventos catabáticos – que transportam ar de alta densidade, descendo pela encosta devido à ação da gravidade, são incrivelmente fortes e se originam no centro da camada de gelo – têm chegado às costas a velocidades de 35 quilômetros por hora, fornecendo ar quente e seco para derreter a superfície de gelo e neve.

Isto expôs o gelo profundo que absorve a luz do Sol – em vez da superfície da neve, que a reflete essa luz – e um vasto lago de água da área, juntamente com fracos pontos de acesso que acabariam se transformando em moulins. A acumulação de pressão sobre o lago, que se tornou tão grande e cheio de água, fez com que ela escorresse ou desabasse“, disse Jan Lenaerts, um dos pesquisadores, à New Scientist.

Nós provamos definitivamente que este não é um local de colisão de meteoro, mas sim que esta cratera é o remanescente de uma superfície, ou do subsolo, do período de cheias do lago”, completou Lenaerts. Quando os pesquisadores perfuraram a cratera deixada pelo lago derretido, encontraram uma série de lagos glaciais submersos, entre a superfície da plataforma de gelo e sua base. Isto apresentou mais evidências de que as grandes quantidades de derretimento superficial na área deram origem a novos lagos.

Geralmente, o tipo de erosão observado no local da cratera seria atenuado pelo acúmulo de neve e gelo que cobre o que está sendo exposto pelos ventos, mas com o aumento das temperaturas globais nos últimos anos, isso não aconteceu. Embora a fraturas ou colapsos da plataforma de gelo não estejam previstos para logo, é mais uma evidência de que a Antártida Oriental pode ser o lugar mais frio da Terra, mas é mais instável do que poderíamos ter imaginado.

Dezenas de metros de elevação do nível do mar estão trancadas na Antártida, e nossa pesquisa mostrou que a Antártida Oriental é vulnerável às mudanças climáticas”, finalizou Lenaerts. A pesquisa foi publicada no site Nature Climate Change.

[ Science Alert / New Scientist ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

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