Pequena quantidade de maconha pode aumentar a preguiça, mas apenas por um curto período

de Merelyn Cerqueira 0

Dois estudos que lidavam com a alegação de que a cannabis levaria à redução da motivação mostraram que, quando consumida em pequenas quantidades e sob condições controladas em laboratório, tal afirmação pode ser confirmada, mas apenas em curto prazo.

Em outras palavras, eles verificaram que enquanto estão sob o efeito de baixa quantidades de maconha as pessoas são menos dispostas a trabalhar por dinheiro, segundo informações da Science Alert.

Os estudos foram feitos com dois grupos: um de consumidores habituais e um de pessoas que não fazem uso da droga. Logo, os cientistas descobriram que, quando nenhum dos grupos tinha consumido a droga por pelo menos 12 horas, a motivação por dinheiro não foi alterada. No final dos anos 1950 e início de 1960, a cannabis se tornou uma droga de uso recreativo muito popular e com isso, relatórios acadêmicos que descreviam uma “síndrome amotivacional” associada a ela começaram a surgir. Os médicos afirmavam que a “o uso regular de marijuana poderia contribuir para o desenvolvimento de características de personalidades amotivacionais e mais passivas”.

No entanto, tais relatórios eram simplesmente baseados em observações feitas em consumidores e seu comportamento preguiçoso. Logo, mais pesquisas eram necessárias para investigar os efeitos de curto e longo prazo relacionados à droga. As primeiras pesquisas sobre os efeitos a curto prazo mostraram, surpreendentemente, ambos os efeitos: motivação e a falta dela. Dito isso, pode-se dizer que as pesquisas foram mal controladas e, por vezes, bizarras na forma de concepção – uma delas envolvia o apedrejamento de pessoas e solicitações para que defecassem o mais rápido possível.

Diferente disso, o primeiro dos estudos mais recentes mencionados, visava oferecer às pessoas a cannabis em um experimento controlado por placebo, associado a um cenário que pregava a motivação por atividades que envolviam o ganho de dinheiro. No entanto, a experiência utilizou uma amostra de apenas cinco participantes. O segundo estudo, por sua vez, também controlado por placebo e recriando o mesmo cenário de motivação, utilizou uma amostra maior – de 17 participantes.

Por meio de uma espécie de balão eles inalavam o vapor da cannabis verdadeira e, em outra ocasião, um placebo. Após isso, era medida a motivação para o ganho de dinheiro. Em cada ensaio, eles poderiam decidir entre completar ações de baixo ou alto esforço para ganhar diferentes somas de dinheiro. A opção de baixo esforço visava pressionar a barra de espaço de um teclado por 30 vezes em 7 segundos para ganhar um total R$ 1,96. Já a opção de alto esforço envolvia 100 pressionadas em 21 segundos por uma recompensa que variava de R$ 3,46 a R$ 8,66.

Logo, descobriu-se que sob o efeito da cannabis as pessoas eram menos propensas a escolherem a opção de alto esforço. Em média, os voluntários que receberam o placebo optavam pelo ganho de R$ 8,66 enquanto que os voluntários sob o efeito da maconha, as opções de menos esforço. Embora crenças antigas digam que a maconha deixa as pessoas preguiçosas, esta e a primeira vez que tal constatação foi demonstrada a partir de um estudo e com número adequado de participantes.

A questão da motivação a longo prazo ainda não foi respondida. Até o momento, seria considerado antiético realizar ensaios clínicos controlados em que a droga (e placebos) fosse administrada por um período de 10 anos. Portanto, temos de confiar nos estudos observacionais atuais, isto é, aqueles que não tenham uma manipulação experimental. Contudo, há de se lembrar que os resultados não mostraram erradicação da motivação de forma permanente, apenas em um curto prazo, o que está em desacordo com as afirmações já conhecidas sobre o consumo de maconha e a preguiça.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ] 

Jornal Ciência