Criar alucinações sem drogas é surpreendentemente fácil; e você pode fazer em casa!

de Merelyn Cerqueira 0

O cérebro humano é inegavelmente impressionante e poderoso. Ele é capaz de fazer coisas que nossas máquinas mais complexas não estão nem perto de competir, como o poder de consciência e ingenuidade, por exemplo.

No entanto, em um curioso paradoxo, os cerca de 100 bilhões de neurônios que possuímos são incrivelmente frágeis. Isso porque se algo der errado em uma única conexão, as coisas podem desandar muito rapidamente.

Mas, e por incrível que pareça, mesmo sem quaisquer defeitos estruturais, o cérebro humano é capaz de ficar “estranho” por conta própria, e isso pode acontecer de maneira surpreendentemente fácil. Basicamente, somos capazes de manipulá-lo para ver e ouvir coisas que não existem – e sem a ajuda de drogas.

A ideia foi proposta em um vídeo da Scam School, feito em 2016, que demonstra que, se criarmos uma situação de intensa privação sensorial, usando apenas alguns objetos domésticos comuns, podemos induzir algumas alucinações muito fortes que alteram tanto a visão quanto a audição.

Para o experimento, os pesquisadores usaram:

– Luminária

– Papel branco

–  Algodão

– Elásticos de borracha

– Tesoura

– Fita adesiva

– Grampeador

– Barbante

– Um vídeo do YouTube  com ruído, ou estática de TV, executado ininterruptamente por pelo menos 30 minutos.

– Fones de ouvido com cancelamento de ruído.

No vídeo abaixo você confere como foi usada cada uma dessas coisas – em inglês.

Basicamente, você deve se privar de qualquer informação sensorial. Os efeitos, segundo os pesquisadores da Scam School, geralmente começam a aparecer após cerca de 10 a 30 minutos.

Após 20 minutos dentro do experimento, eles relataram ter visto bolhas de cores – como quando esfregamos as pálpebras – que logo se transformaram em silhuetas de dinossauros, água-viva e até mesmo o Olho de Sauron. Eles também relataram terem ouvido gritos e risadas.

Embora toda a situação soe bizarra, ela segue os princípios de um fenômeno científico real, conhecido como efeito Ganzfeld.

O efeito Ganzfeld descreve algo como ser exposto a “um campo de estimulação não-estruturado e uniforme”, como olhar de maneira constante para dentro de uma escuridão e ouvir de forma ininterrupta a estática da televisão.

O cérebro responde a estes estímulos amplificando o ruído neural, em um esforço para encontrar sinais visuais ausentes. Isso, por outro lado, pode resultar em alucinações visuais e auditivas, que cada pessoa experimentará de maneira particular.

Derek Müller, do canal Veritasium  tentou sua própria versão de privação sensorial, trancando-se em uma câmara anecoica (sem eco) e escura, por 45 minutos. Ele queria desmentir a ideia de que a falta de estímulos poderia enlouquecer uma pessoa. No entanto, relatou ter enfrentado algumas situações estranhas.

“Talvez a coisa mais estranha que notei foi ter a sensação de ‘escutar’ meu coração”, disse.

“Eu senti como se ele estivesse bombeando muito forte, e eu podia sentir o sangue sendo empurrando através de mim. Não era como se eu estivesse ouvindo, era como se eu estivesse sentindo isso. E eu estava me sentindo como se, de certo modo, meu coração estivesse balançando meu corpo. Isso era estranho”.

Neste caso, Derek não experimentou alucinações. Porém, o que ele descreveu ter sentido com o coração sugere que seu cérebro estava amplificando as coisas devido à ausência de estímulos.

Pesquisadores demonstraram um efeito semelhante em um experimento feito em 2015, em que pediram a um grupo de voluntários que olhassem nos olhos uns dos outros por cerca de 10 minutos seguidos.

“Os participantes disseram que tiveram uma experiência diferente de tudo o que já sentiram antes”, relatou à época o pesquisador Christian Jarrett, para o Research Digest da British Psychological Society.

Para todos os efeitos, trata-se de uma ciência imprecisa, uma vez que o cérebro de cada pessoa responde de maneira diferente às determinadas situações. Mas, se você permanece cético sobre o assunto, o convidamos a tentar repeti-lo em casa. Porém, não nos culpe se as coisas ficarem estranhas – ou alucinantes.

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Science Alert

Jornal Ciência