Chumbo pode permanecer no organismo durante anos após exposição

de Bruno Rizzato 0

Uma recente crise hídrica que ocorreu em Michigan, nos EUA, mais especificamente na cidade de Flint, destacou o quão prejudicial pode ser a contaminação por chumbo, e sua exposição é um grande problema atual nos EUA.

Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças estimam que, no país, mais de quatro milhões de famílias com crianças estejam expostas a níveis elevados de chumbo. Pelo menos meio milhão de crianças têm níveis de chumbo no sangue acima de cinco microgramas por decilitro, exigindo uma resposta imediata da saúde pública.

O chumbo costumava ser comumente usado na gasolina e tintas domésticas, no século passado, e embora ele não seja mais usado nesses produtos, ainda há abundância do mesmo, apresentando riscos.

O chumbo, por exemplo, é um dos mais antigos materiais utilizados para a construção de sistemas de canalização. A palavra “encanamento”, em inglês é “plumbing” e tem suas origens na palavra latina para o chumbo, “Plumbium“. Canos de chumbo foram proibidos nos EUA em 1986, mas a recente crise em Flint revela que muitos tubos de chumbo ainda estão ativos. Além da exposição, beber água contaminada pode representar um risco ainda maior. A água é prontamente absorvida através do intestino, resultando em níveis elevados de chumbo no sangue. O trato gastrointestinal de uma criança absorve mais do que um adulto.

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) define um nível de fontes de água potável de 15 partes por bilhão (ppb) exigindo uma notificação imediata dos consumidores. Comparando a um caminhão-cisterna de gasolina, 15 ppb corresponderia a 15 gotas de um produto químico, diluídas em todo o conteúdo do caminhão. Porém, mesmo essas pequenas quantidades de chumbo na água, ao longo do tempo, podem afetar o comportamento das pessoas e prejudicar o desenvolvimento intelectual, segundo um estudo de 1940.

Uma vez que o chumbo está no corpo, ele também pode ser armazenado durante anos nos ossos. Mesmo após a exposição ser interrompida, o chumbo pode voltar para a corrente sanguínea e continuar danificando o cérebro e outros órgãos durante os próximos anos.

O chumbo é conhecido por causar problemas na formação do sangue, função renal, cardíaca, reprodutiva, sintomas gastrointestinais, danos ao nervo periférico (formigamento nas mãos e pés) e até mesmo a morte. Os efeitos sobre muitos destes órgãos podem ser permanentes, e quanto maior a exposição e mais tempo ela continuar, maior será o dano.

No cérebro, o chumbo pode perturbar a função das mitocôndrias nos neurônios, impedindo que as células funcionem corretamente. Também pode afetar a liberação de neurotransmissores e alterar a estrutura dos vasos sanguíneos no cérebro. Estes danos podem reduzir o QI, dificultar a aprendizagem, retardar o crescimento, causar hiperatividade, enfraquecer o controle de impulso e comprometimento. É por isso que a exposição ao chumbo em crianças é especialmente preocupante.

Sabe-se, também, que a má nutrição pode fazer o corpo absorver mais chumbo. Mais precisamente, a falta de cálcio – um mineral essencial para crescimento ósseo em crianças e para a função celular. Ele poderia diminuir a absorção de chumbo. Uma dieta rica em minerais benéficos, especialmente ferro e cálcio, pode reduzir, mas não eliminar, a absorção de chumbo a partir de fontes ambientais.

No entanto, as pessoas de baixa renda podem ter problemas para comprar comida suficiente ou ter uma dieta equilibrada. Flint é uma comunidade economicamente desfavorecida, tornando a exposição ao chumbo ainda mais preocupante. O mesmo acontece em outras regiões com os mesmos problemas de exposição ao chumbo.

Stuart Sholat, professor e diretor da Divisão de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Georgia State University, nos EUA, denunciou esta questão em um artigo publicado no The Conversation. “Como a atenção dos governos quase nunca está direcionada às pessoas de baixa renda, vão demorar muitas décadas para prevenirem os perigos futuros às gerações vindouras”, concluiu ele.

[ The Conversation ] [ Foto: Reprodução / Pixabay ]

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