Nova experiência vai permitir que possamos “ver” um emaranhamento quântico a olho nu

de Merelyn Cerqueira 0

Pesquisadores suíços da Universidade de Genebra conseguiram desenvolver um experimento que permitiria que os seres humanos observassem diretamente um entrelaçamento quântico pela primeira fez, além disso, eles afirmam que a mesma técnica poderia ser usada para realizar um entrelaçamento entre duas pessoas.

Enquanto que seria extremamente interessante que as pessoas pudessem testemunhar esse fenômeno com os próprios olhos, o experimento foi concebido com a finalidade de responder algumas questões importantes: como o um emaranhado quântico realmente é e como será a sensação de estar entrelaçado com outro ser humano?

Se você ainda não compreende o que é esse fenômeno, nós explicamos. Um entrelaçamento (ou emaranhamento) quântico é um fenômeno estranho em que duas partículas quânticas interagem de tal forma que acabam se ligando profundamente, e essencialmente compartilham suas existências. Isso significa que, o que acontecer com uma partícula vai influenciar direta e imediatamente a outra, mesmo que elas estejam separadas por muitos anos-luz de distância. Ou seja, em suma, são duas partículas conectadas, porém separadas.

Se soa como um quebra-cabeça infeliz, não se preocupe, até Albert Einstein sofreu com isso. O problema era que, para o entrelaçamento quântico funcionar, ele teve que ir contra a sua própria Teoria da Relatividade, pois esse fenômeno requer informações para viajar mais rápido do que a velocidade da luz. O que fez com que se referisse a ele, como “ação fantasmagórica à distância”, que nada mais era do que uma maneira de ele dizer que acreditava que a coisa toda era absurda. 

Por décadas os físicos negaram a existência desse emaranhamento quântico. No entanto, agora, cientistas de todo o mundo estão entrelaçando enormes quantidades de partículas em seus laboratórios, sendo que esse método também é a base da Computação Quântica – uma tecnologia esperada para mudar todos os processos e armazenamento de informações no futuro. Por exemplo, o computador quântico do Google, que ainda nem é um modelo adequado, é milhões de vezes mais rápido do que o seu laptop.

Sendo assim, agora que somos capazes de enredar quanticamente fótons – ou partículas de luz – em laboratórios com relativa facilidade, fica a dúvida: quanto tempo até que as pessoas possam presenciar esse acontecimento com os próprios olhos?   

A premissa é de que o olho humano é basicamente um detector de fótons, então, em teoria, os cientistas serão capazes de substituir esses detectores de fótons em um experimento de entrelaçamento feito com um olho humano, e nesse processo as pessoas poderão ver a “olho nu” finalmente como isso funciona. Para esse experimento acontecer será necessário enviar alguns pares de fótons entrelaçados para o detector humano. O processo teria que ser repetido várias vezes, até que se confirme estatisticamente que o entrelaçamento realmente aconteceu.

Só que, infelizmente, isso não é tão simples. De acordo com o MIT Technology Review, “o principal problema é que o olho não consegue detectar fótons individuais. Em vez disso, cada haste de luz de detecção, localizada na parte de trás do olho, deve ser estimulada por um punhado de fótons, para assim, desencadear essa detecção. Sete é o número de fótons que pode fazer esse truque, mas na prática, as pessoas só conseguem ver essas partículas de luz quando chegam na casa das centenas ou milhares”, explicou. Sendo assim, qual a solução?

De acordo com Valentina Caprara Vivoli, da Universidade de Genebra, é necessário amplificar o que já é possível com a tecnologia atual, de modo que o olho humano possa detectar esse fenômeno melhor. A cientista descobriu isso através desse experimento hipotético que usou um processo chamado de “operação de deslocamento”, que faz com que duas partículas se interfiram e sejam alteradas uma pela outra.

Os detalhes desse experimento hipotético foram publicados pelo site arxiv.org e ainda estão em fase de revisão. Porém, Vivoli afirma que “de forma convincente, consegue demonstrar a possibilidade de realizar o primeiro experimento em que o emaranhamento é observado a olho nu”.

E se você está imaginando que ficar sentado observando esse fenômeno não seria nada exatamente “glamoroso”, já que os felizardos poderiam sucumbir ao tédio a cada 30 segundos, saiba que os cientistas já têm uma solução para isso: entrelaçar quanticamente esse pequeno público, é claro.

Uma maneira de aumentar a motivação seria modificar o experimento para que ele entrelace dois seres humanos. Não é difícil imaginar uma audiência que queira tomar parte em tal experiência, talvez eles até estejam ansiosos para isso”, disse a MIT Technology Review.

[ Science Alert / Galileu ] [ Foto: Reprodução / Arhan Amun Ankh ]

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