Alexei Smirnov, um físico teórico do Instituto Max Planck de Física Nuclear na Alemanha, publicou um artigo afirmando que ocorreu um erro por parte do comitê do Prêmio Nobel de 2015 – entregue aos responsáveis pela “descoberta de oscilações de neutrinos que mostrava que os mesmos possuíam massa”.
Enquanto o documento não argumenta que os vencedores não foram merecedores, ou que sua pesquisa de fato estivesse errada, ele aponta como o avanço foi mal interpretado pelo comitê, de acordo com informações da Science Alert.
A pesquisa premiada falava sobre os neutrinos – estanhas e fantasmagóricas partículas que nascem de interações nucleares, como as que ocorrem no núcleo do Sol, ou como os raios cósmicos que se quebram na atmosfera da Terra. São descritos como “fantasmagóricos” porque dificilmente interagem com a matéria e encontrados em três tipos diferentes: elétron, muon e tau, podendo alternar entre si em algo que é conhecido como oscilação. Ainda, neste momento, há milhões de neutrinos fluindo através de nós, embora não possamos identificá-los.
Logo, a única maneira que os cientistas encontraram para detectar a presença dessas partículas foi através de suas interações com uma fraca força subatômica e a gravidade. Para isso, eles utilizaram detectores subterrâneos, como o detector de partículas Super-Kamiokande (SuperK), no Japão, ou o Observatório de Neutrinos de Sudbury (SNO), no Canadá.
O Super-K, que só detecta neutrinos muons de alta energia gerados por raios cósmicos que atingem nossa atmosfera, relatou em 1998 que haviam muitos destes chegando à Terra. Isso sugeria que os neutrinos estavam oscilando ao longo do caminho para se tornarem elétrons ou tau – algo que o Super-K não conseguia detectar.
Logo, uma equipe da SNO acompanhou essas observações em 2001 e 2002. Uma de suas técnicas só conseguiu detectar os neutrinos de elétrons, enquanto outra pôde ver os três tipos. Os resultados mostraram que, no momento em que os neutrinos de elétrons atingiam a Terra, apenas 34% deles ainda eram como tal, o que sugeria que eles estavam mudando ao longo do caminho.
O comitê do Prêmio Nobel tomou os dois resultados como prova de que os neutrinos podiam oscilar ao longo de suas viagens e, por isso, tinham massa. Isso porque, se eles de fato não a tivesse, algo que havia sido suspeitado há muito tempo, então eles se moveriam à velocidade da luz no vácuo. Se este fosse o caso, o tempo ficaria parado para eles, e não poderia mudar de nenhuma forma.
O que o artigo de Smirnov diz é que o uso do comitê para a palavra “oscilação” foi feita de forma errada. Ele acredita que o experimento do Super-K da equipe japonesa mostrou com sucesso as oscilações em ação, mas os resultados do SNO mostram que algo a mais está acontecendo com os neutrinos do Sol, um tipo de mudança mais sutil.
“Enquanto Super-K descobriu as oscilações, o SNO observou o efeito da conversão adiabática (quase não oscilatória) do tipo de neutrinos na matéria do Sol”, escreveu ele no artigo. “As oscilações são irrelevantes para os neutrinos solares, além da pequena regeneração [de neutrinos] dentro da Terra”.
Em outras palavras, ele acredita que os neutrinos do Sol mudam de tipo, mas não por meio de oscilações e por isso, o comitê errou. “Sem dúvida, o experimento merece um Nobel, mas esta é apenas uma questão sobre o que eles realmente viram”.
O artigo de Smirnov ainda não foi revisado por pares, mas já está disponível para conferência e impressão no site da arXiv.org.
[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Science Alert ]