Ecossistemas que sofrem perdas de biodiversidade são menos resistentes às mudanças, diz estudo

de Bruno Rizzato 0

Ao longo dos últimos 40 anos, os ecossistemas da Grã-Bretanha tornaram-se menos resistentes aos impactos das alterações ambientais, de acordo com um novo trabalho publicado na revista Nature Communications.

Pesquisadores que estudaram mais de 4.000 espécies de animais selvagens encontraram quedas significativas entre os animais que desempenham funções-chave no ecossistema, incluindo a polinização e controle de pragas.

Dentro de um único ecossistema, várias espécies têm diferentes papéis em importantes serviços, como a produção de culturas de decomposição para a regulação do clima, o que inclui a captura de CO2 da atmosfera e o armazenamento dele em tecidos. Enquanto as abelhas polinizam as flores, por exemplo, minhocas decompõem a matéria orgânica morta. Às vezes, os papéis das diferentes plantas e animais se sobrepõem, e esta “redundância funcional” ajuda a contribuir com a perda de espécies. Mas embora a biodiversidade tenha diminuído a nível global, o impacto sobre a resiliência das funções dos ecossistemas permanece desconhecida.

Para ajudar a esclarecer quais as funções estão em maior risco, pesquisadores da Universidade de Reading, com a equipe de Tom Oliver, analisaram tendências de ocorrência ou abundância em 4.424 espécies de aves, mamíferos, invertebrados e plantas, na Grã-Bretanha, entre 1970 e 2009. Isto permitiu-lhes identificar quais funções estavam sendo realizadas por quais espécies.

Abelhas, moscas, mariposas, borboletas, besouros e vespas contribuíram para a transferência de pólen quando passavam por flores da mesma espécie, enquanto os pequenos predadores, que vão desde joaninhas a pássaros, são inimigos naturais de pragas das culturas. A equipe descobriu quedas significativas nos grupos de espécies que são capazes de realizar serviços de controle de pragas e polinização. Entre 16 e 27 por cento das espécies nos dois respectivos grupos mostraram quedas significativas.

Enquanto isso, grupos que desempenhavam funções relacionadas com a decomposição, como formigas e milípedes (Diplópode), e com o armazenamento de carbono, como plantas vasculares, musgos e hepáticas, apareceram de forma relativamente robusta. Os declínios foram observados em 7 e 10 por cento das espécies, respectivamente.

Então, para entender porque alguns papéis mantiveram-se estáveis ao longo do tempo, a equipe separou as espécies que já estavam presentes na Grã-Bretanha antes de 1970, daquelas que chegaram depois. Eles descobriram que os recém-chegados eram, em sua maioria, espécies que exerciam funções de sequestro de carbono e de decomposição. Em teoria, os recém-chegados podem ser invasivos, explicou Oliver ao portal IFLScience. Apenas uma pequena proporção de recém-chegados parece causar danos, e eles precisam de ser estudados numa base individual. “O que é necessário é uma avaliação mais aprofundada de ambas as potenciais, benefícios e custos de espécies não-nativas”, disse ele.

Em relação ao controle de pragas e polinização, os recém-chegados não foram suficientes para compensar as quedas. Isso significa que as espécies vitais para a agricultura e a produção de alimentos podem ser menos resistentes às mudanças ambientais, e estão sendo diminuídas rapidamente.

[ IFLS ] [ Foto: Reprodução / IFLS ] 

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