Dois fatos importantes que o astronauta Scott Kelly vai nos ensinar sobre a vida no espaço

de Merelyn Cerqueira 0

Scott Kelly e seu companheiro russo Mikhail Kornienko voltaram hoje à Terra, trazendo algumas respostas que poderão influenciar muito nas futuras missões tripuladas para Marte.

Após exatos 340 dias no espaço, em órbita na Estação Espacial Internacional, Scott Kelly e seu companheiro russo Mikhail Kornienko voltaram à Terra nesta quarta-feira, pousando no Cosmódromo de Baikonur, a primeira e maior base para lançamento de foguetes, no Cazaquistão. Durante esse longo período no espaço, as funções corporais do astronauta foram monitoradas por um pequeno exército de médicos e pesquisadores, sendo comparadas às de seu irmão gêmeo, o astronauta já aposentado, Mark Kelly.

Além de uma bateria de exames de sangue de rotina e outras avaliações cognitivas, há duas grandes questões que somente a missão de Kelly pode responder para a NASA. Primeiro, é a forma como a redistribuição de fluidos corporais em um ambiente de gravidade zero pode impactar nossa saúde, e principalmente, nossa visão. Enquanto estamos na Terra, a força da gravidade constantemente controla nossos fluidos corporais, mas no espaço, tudo – sangue, urina e fluido intersticial – fica livre para se redistribuir uniformemente desde a ponta de nossos até a cabeça.

Scott-Kelly-astronauta

Como apontou a NASA, em um gráfico muito informativo sobre as curiosidades que aconteceram com o corpo do astronauta em sua missão #YearInSpace, a quantidade de fluidos que poderá ser deslocada das pernas até a cabeça de Scott Kelly encheria uma garrafa de refrigerante de dois litros. O efeito mais óbvio dessa redistribuição de líquidos é a famigerada “moon face” (“cara de lua”, em tradução livre), que faz com que os astronautas, após um curto período de ausência de gravidade, fiquem com os rostos visivelmente inchados.

No entanto, esse não é o único efeito colateral de ficar em um ambiente como o espaço. De acordo com Mark Shelhamer, em uma entrevista concedida para o Gizmodo no ano passado, muitas vezes, os astronautas que vão para o espaço com uma visão perfeita voltam para a Terra um pouco míopes. De acordo com a NASA, isso acontece porque há um aumento na quantidade de líquidos que rodeia o cérebro, exercendo pressão adicional sobre o nervo ótico e deformando os globos oculares dos astronautas.

Já a segunda questão, envolve o fato de que a radiação adicional do espaço poderia estar modificando o DNA de Kelly. Essa questão é mais preocupante, quando pensamos nas missões que levariam pessoas para Marte. Durante todo o caminho, elas estariam expostas a um nível de raios UV centenas de vezes maior do que o da superfície da Terra, bem como aos perigosos raios cósmicos.

Porém, essa questão do DNA, em breve poderá ser respondida, já que Scott Kelly possui um irmão gêmeo com o mesmo código genético. Sendo assim, ao comparar o DNA de Scott com o de Mark, a NASA espera saber se esse tempo no espaço pode ter conduzido a qualquer alteração genética significativa. Isso inclui avalizar possíveis alterações nos telômeros, que funcionam como capas localizadas nas extremidades do DNA e protegem os cromossomos de danos.

Ao que tudo indica, os principais resultados da grande experiência do astronauta norte-americano ainda estão por vir. Enquanto ele se recupera de sua recente volta, a NASA já está pensando no futuro das “missões de um ano”. Apesar do sucesso da primeira, elas podem trazer mais descobertas e nos preparar para futuras viagens espaciais.

[ Gizmodo / Folha ] [ Foto: Reprodução / NASA ]

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