Racismo: modelo africana que tentou clarear pele com alvejante após ir morar nos EUA conta superação

de Merelyn Cerqueira 0

Quando Nyakim Gatwech, do Sudão do Sul, chegou aos EUA, ela não sabia que viveria um pesadelo por causa da cor de sua pele.

 

Originária de um dos países mais pobres do mundo, a menina havia enfrentado tempos difíceis com os pais, que se refugiaram primeiro na Etiópia antes de embarcar em direção aos EUA.

Em 2007, quando ela, sua mãe e irmãos chegaram a Minneapolis, Minnesota, acreditavam ter encontrado um refúgio seguro de todas as dificuldades que enfrentaram na África. Embora o país tenha lhe oferecido educação, comida, hospitais e segurança, ele também a apresentou difíceis desafios, mas um que não havia experimentado na antiga casa: o racismo.

A situação piorou quando Nyakim se matriculou em uma escola de ensino médio da cidade, onde foi maltratada desde o primeiro dia de aula apenas pela cor de sua pele. As crianças diziam coisas como: “Você é muito escura, toma um banho”. Quando os professores faziam perguntas a ela em sala de aula, outros alunos respondiam: “Com quem você está falando? Nós não podemos vê-la. Ela não está aqui”.

Ao relembrar de outro momento difícil, a jovem revelou sobre o dia em que ouviu dois homens apostarem para ver se ela estava usando calças ou se sua pele era realmente tão escura. No momento, ela trajava leggings pretas.

Incapaz de amar a si mesma, ela chegou a considerar lavar o corpo com água sanitária, acreditando que assim conseguiria clarear a pele. No entanto, enquanto crescia, as pessoas não podiam deixar de notar sua beleza.

Em inúmeras ocasiões ela foi parada na rua para ouvir que deveria seguir carreira de modelo. O problema, no entanto, é que Nyakim não sabia o que fazer para se tornar uma, ela não acreditava que era algo que pudesse fazer. Isso porque estava cansada de ouvir nas escolas que estudou que era “feia”.

Durante um evento escolar relacionado a um desfile de moda, a jovem teve a oportunidade de desfilar roupas desenhadas pelos amigos. Neste momento, ela descobriu que havia nascido para a profissão.

Eventualmente, Nyakim se mudou para Nova York, onde passou dois anos tentando construir seu portfólio. No entanto, ela voltou a enfrentar momentos difíceis, incluindo a discriminação de designers, maquiadores e outras modelos.

Determinada a não desistir, ela conseguiu participar de novas sessões de fotos e assinou alguns contratos. Melhor do que isso só o fato de que finalmente havia se desprendido da ideia de que a cor de sua pele era um problema. Ela desenvolveu amor próprio e determinação para seguir seus sonhos.

Entretanto, a interação com um motorista de aplicativo quase a levou de volta aos sentimentos sombrios. Aconteceu quando Nyakim estava sentada em um Uber a caminho de uma entrevista de emprego, quando o motorista, que ela descreveu como “negro de pele clara”, disse: “Nossa, você é muito escura”, ao passo em que ela respondeu: “Sim, eu sei”. “Você branquearia sua pele por 10 mil dólares?”, continuou ele. Nyakim riu. “Por que eu branquearia essa linda melanina que Deus me abençoou?”. 

O motorista de Uber que fez comentários desagradáveis para Nyakim sobre o tom de sua pele. 

Sem entender por que Nyakim considerava a cor de sua pele uma bênção, ele disse que sua vida seria mais fácil se ela tivesse uma pele mais clara. “Mesmo se minha vida ficasse mais fácil, eu prefiro pegar o caminho mais difícil”, ela respondeu.

A jovem resolveu compartilhar a interação no Twitter, e ficou impressionada com as respostas positivas que recebeu, especialmente quando foi chamada de “Rainha das Trevas”, apelido que gostou muito. “Não há nada de errado com a escuridão e ser chamada de rainha é apenas cereja no topo”, escreveu ela no Instagram.

 

A modelo ganhou seguidores nas redes sociais e a fama veio acompanhada de novas oportunidades de trabalho, incluindo marcas como Calvin Klein e Aldo, além de capas de revistas.

No entanto, e mais importante do que isso, foi o fato de que ela se tornou uma influência positiva para as meninas que ainda lutam contra o amor-próprio e os padrões de beleza impostos pela sociedade.

 

Quando posto uma foto, estou dizendo às pessoas que não importa o que você diga, eu amo quem eu sou. Eu amo meu tom de pele. Estou dizendo às pessoas que sou bonita, apesar de parecer diferente da maioria das pessoas neste mundo em que vivo”, finalizou.

[ Fonte: Lifebuzz ]

[ Fotos: Reprodução / Lifebuzz ]

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